sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Cicloviagem Vitória- Salvador - Fotos, mapas, ficha técnica e algumas (des)considerações


Aracruz-ES

 Já passaram 15 dias desde que cheguei da viagem. Apesar de ter retornado, essa foi uma viagem sem volta.
Creio que o caminho do Aeroporto de Congonhas até minha casa foi o trajeto mais perigoso destes 30 dias.
Logo que cheguei a coisa que mais curti foi a facilidade pra tomar água... a hora que quisesse tinha água potável em casa.
Fui no supermercado e fiquei impressionado com a variedade de pães que tinha para escolher, mas no final tudo aquilo era só pão.
Aprendi um pouco mais a ficar sozinho nesses 30 dias. É difícil pedalar e não ter ninguém pra colocar a culpa ou brigar quando algo da errado. Acho que foi uma das coisas mais difíceis da viagem, mas fui aprendendo e conforme o tempo passava comecei a curtir.
Vi o quanto o planejamento da trip foi importante. Havia lugares em que as pessoas não sabiam como sair dali e a quantidade de informações erradas que ia recebendo durante o caminho era grande, até as placas tinham erros. Foi fundamental ter me preparado em relação a isso. Não usei GPS, mas dei um "print screen" nas telas do Google Maps e carreguei na câmera para poder visualizar no visor de LCD. Fiz o mesmo com os textos sobre os lugares e percursos.

Errei não pesquisando a fundo a altimetria do percurso: imaginei que não teria muitas serras, subidas e descidas no trajeto, seria basicamente plano, "pois vou pelo litoral". No caminho descobri que não era bem assim. Tinha estradas que eram feitas para contrariar algumas leis de engenharia. Devia pelo menos ter olhado o relevo no Google Earth.
Talvez o dia mais difícil foi entre Itaúnas e Mucuri. O vento contra ficou muito forte, a maré estava "morta".. não secava, precisei empurrar a bike na areia durante bastante tempo e atravessar uns riozinhos bem lazarentos, sem encontrar quase ninguem durante o caminho. O lado psicológico foi o que pegou, pois no dia anterior tudo estava favorável... vento a favor, maré seca e areia pedalável, foi a mudança repentina que me deixou puto com a natureza. Apesar de eu saber o quão idiota é você ficar puto com a natureza, as vezes rola...

Itaúnas/Mucuri

Vitória-ES

 Vitória-ES

 Música pedalando é melhor do que red bull. Não costumo pedalar ouvindo som aqui em sp e região, por causa dos carros e tal, mas nessa trip tinha momentos que sem som seria algo muito difícil. O que mais ouvi foi Rush, pedalando em 7/8. Tinha uns momentos de Pantera, que colocava pra percorrer um trecho mais rapidamente. Dixie dregs, yes, pink floyd, led tb estavam sempre presentes. Tentei ouvir stravinsky e bartok, mas música com muita variação de dinâmica não rola quando o barulho do vento é mais alto que tudo.
 Em São Paulo andar de metrô foi mais uma das experiências que revivi.. o barulho infernal e as pessoas-zumbis.
Em casa já fui me acomodando de novo, é impressionante como as rotinas te anestesiam. Já estou no piloto automático para várias coisas. Voltando a ser uma engrenagem.
Queria agradecer aos amigos que fiz nessa viagem, que me ajudaram muito. Minha família e os amigos que sempre são ponta firme. E também aos colegas ciclistas pelo apoio e dicas, seja pessoalmente ou pela net.
 
 Fim do dia no Rio Itaúnas


Alguns dados da trip:
Percurso: Vitória-ES - Salvador-BA
Duração: 30 dias
Total pedalado: 1485kms
Dias sem pedalar: 8  
Kms max num único dia: 166kms - Linhares/Itaúnas
Pneus furados: 1
Baixas na bike: durante a viagem 0. Porém agora preciso trocar o cubo traseiro, corrente, cassete e providenciar um novo odômetro... o que eu usava caiu da bike e dois carros passaram em cima segundos depois, já em SP. Meus óculos tb já eram...
Barcos/canoas/ferryboat/lanchas e afins: 11 travessias

Link para o mapa-base do percurso:
http://www.bikemap.net/route/737349?128784888465458


Bagagem:
-Alforges 50litros
-bolsa de guidão
-2 pochetes
-4 extensores (perdi um no caminho)
-corda 2 metros


-Pneu de kevlar reserva (não usado)
-2 camaras reservas (não usado)
-remendo de furos
-chaves p/ desmontar a bike em geral
-cabo de freio e câmbio reserva (não usados)
-canivete tabajara
-super bonder (nao usado)
-Silver tape
-Finish Line (muito usado)
-bomba de ar
-2 caramanholas de 750ml cada

-Lanterna de cabeça
-farol/sinalizador traseiro
-sinalizador dianteiro

-Jogo de Panelas, garfo, faca
-Alcool e Isqueiro

-sal, açucar, caldo knor, arroz, leite em pó, café instantâneo

-fogareiro tabajara

-Protetores auriculares e repelente.
-Filtro solar (comprei uns 3 no caminho) e filtro pra boca.

-escova, pasta, desodorante, manteiga de cacau, sabonete e cortador de unha.
-dipirona, parecetamol, algodão, imozec, hipoglos
-gelol, gase, ataduras, esparadrapo, linha e agulha para se costurar como o Rambo fez (não usados)

-snorkel e máscara

-Filmadora, 2 baterias reservas, carregador, cabo usb
-25 fitas mini-dv
-tripé
-carregador de pilha, 4 pares de pilhas.
-celular, carregador e fones de ouvido
-pen drive

-Boné e Capacete
-2 camisas dry para pedalar
-1 camisa dry manga comprida
-2 camisas normais (no final da viagem já não eram tão normais)
-capa de chuva
-bermuda de ciclismo
-manguito e luvas de ciclismo
-2 bermudas dry
-3 cuecas, 3 meias
-toalha de rosto
-tênis e chinelo
-óculos
-saco de dormir e isolante
-barraca
-caderno e caneta


Abaixo seguem mais fotos da viagem, filmei mais de 20hs de material bruto e pretendo fazer algo com isso em breve. 

Rua de Alcobaça-BA


Falésias de Prado-BA

Devagar - Passagem de caranguejos

Centro de Ilhéus-BA

Mais de 20 parabólicas nesta foto - Ilhéus-BA

Itacaré-BA

Itacaré-BA

Maior lagoa do Brasil: Lagoa Juparranã - Linhares-ES

Ruas de Mucuri-BA


Vista do Mirante de Serra Grande-BA

Eucaliptos para conter o mar - Mucuri-BA

Ponta do Corumbau-BA

Porto Seguro-BA

Pneu furado - Aracruz-ES


Chuva evaporando no calor, indo para Itacaré
 
 Lagartos..

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ciclotrip Vitória - Salvador - 10 últimos dias

Dia #21: Itacaré - Maraú/Barra Grande (78kms)

BR-030

   Depois do café da manhã peguei a estrada. Tinha duas opções: voltar uns 5kms morro acima  pegar a BA-01 e atravessar o Rio de Contas pela ponte nova ou falar com algum barqueiro pra atravessar eu e a bike pelo rio, já que não existe mais a balsa e depois pegar um trecho de areia fofa. Não pensei duas vezes... quanto mais eu puder evitar a areia fofa melhor e ainda economizaria no barco. 
Estrada cheia de subidas e descidas, tem uma serra ali, creio que se chama Serra das Onças. Depois de passar pelo Rio de Contas, que nasce na Chapada Diamantina, uns 600kms de Itacaré e parar para se deslumbrar com aquilo. Segui pedalando até a encruzilhada do dia: Seguir pela belíssima BA-01, neste trecho com um asfalto mais macio que minha cama ou entrar na península de Maraú e pegar a BR-030 uma das piores rodovias federais do pais.

Rio de Contas

Pedalei um pouco por ali, olhei umas placas, ouvi o vento, conversei com os animais, limpei as mãos no asfalto e entrei na Ba-030.
No início achei cabuloso, pois tinha chovido no dia anterior e tinha muito, mas muito barro. Chegou um ponto que eu estava com a camuflagem perfeita: as pessoas já não conseguiam ver um ciclista passando, somente uma massa amorfa de barro que assustava os animais e os mais velhos faziam o sinal da cruz e mandavam as crianças entrarem. Depois o sol foi aparecendo e o barro começou a secar/descascar e voltei a ser identificado como um possível ser humano numa bicicleta. A rodovia é treta, porém os trechos de estrada no sul da Bahia, principalmente de Prado até Arraial D'Ajuda, são mto piores: tem uns vales bem íngremes e muita areia.. a BA-030 tem um trânsito considerável, pois é a única forma de chegar na península sem ser via barco, então a estrada quase não tem areia, facilitando a pedalada. O engraçado era ver os carros, andando quase na mesma velocidade que eu. Depois da entrada para a cidade de Maraú (eu não entrei, segui para Barra Grande) a estrada melhora bastante e dava pra manter uma média de 17kms/h, só tive que fazer uns ajustes na suspensão. 

BR-030 #2

Uma coisa importante pra levar em consideração antes de pegar essa estrada é água, vale a pena parar pra pegar mais água em todo o lugar que encontrar, pois tem uns trechos bem longos que não tem nada e ninguém.
Entrei na Praia do Algodão e comi um quibe. Conversei com um figura que trabalhava no bar, disse que era tranquilidade demais pra ele, que as vezes passava uma semana sem nenhum turista e não tinha nada pra fazer na vila.. o que ele curtia fazer era pescar de anzol e tomar cachaça. Mas disse que ia ficar nessa vida somente até Março, depois ia pruma cidade grande, tentar concurso público. Disse tb que o pessoal não chegava até ali por causa da estrada, iam até Maraú, se assustavam e não seguiam adiante.
Voltei pro pedal e foi bem tranquilo até a entrada de Taipu de Fora, aonde eu queria mergulhar. Fui perguntar o preço das pousadas e campings..e tudo era mto caro.. pousadas decentes acima de 100 reais e uma sem cama e teto (!!!) por 20... os campings tb estavam todos acima de 20... resolvi dar meia volta e ir até barra grande, aonde diziam existir mais opções.
O caminho até Barra Grande teve bastante areia fofa e por alguns momentos tive que empurrar a bike. Chegando na vila encontrei umas pousadas,,, mais baratas que em Taipú de fora, porém mais caras do que eu pretendia pagar. Conversei com um senhor, dono de uma pousada, que foi mto gente boa e me indicou uma pousada mais no centrinho, boa para minhas condições precárias. Realmente a pousada era boa, tinha ar condicionado, tv, frigobar e o melhor café da manhã de toda a trip.. por 1/4 do preço das pousadas de Taipu de Fora.
Me instalei por ali, tomei um banho e fui rangar, num restaurante da irmã da dona da pousada. Mais tarde fiquei sabendo que o senhor que me indicou a pousada era irmão delas... 
Após descansar um pouco tomei umas num bote próximo da pousada, a cidade tinha alguns turistas gringos que ali se sentiam as encarnações do Indiana Jones. Me informei que hora que a maré secava, para poder mergulhar em Taipu de Fora no dia seguinte.

Transporte local

Algo que me chamou bastante atenção nesta viagem foram as antenas parabólicas, sem elas os televisores não pegam praticamente nenhum canal. Assisto muito pouco televisão, mais para ver as (furadas) previsões de tempo e saber (o que querem que eu saiba) sobre o que está acontecendo no Brasil e mundo. Quase todos os lugares que passei as pessoas passam as noites assistindo televisão, vendo novelas e o jornais. O conteúdo da televisão é tão massificado e homogêneo que o mesmo programa que passa em São Paulo também passa nas ocas de adobe dos índios que encontrei na estrada. 



Dia #22: Maraú/Barra Grande (27kms)

Pedalar até Taipu de Fora sem os alforges foi tranquilo, a bike quase não atola na areia e a vida fica muito mais bela.
Na praia peguei umas dicas com os caras que alugam equipos pra mergulho, dos melhores lugares, horários e os caras ficaram putos quando eu disse que trazia comigo todo o equipamento de mergulho que precisava.
Faltava ainda uma hora para a maré secar,  fui pedalar pela praia, tava tudo muito bom, areia boa... silêncio e com um visual muito show. Subi no morro de Taipu e filmei um pouco a região.

A esquerda Taipus de Fora e a direita a Lagoa Azul

Fui mergulhar nos corais, nuns 3 pontos diferentes.. em cada ponto tem um peixe predominante, pra não dizer o único. Fiquei meio frustrado com a pouca variedade, mas é interessante.

Local de mergulho

Voltei pro hotel e capotei, acordei mais tarde pra rangar, filmar um pouco e a noite fui pra net, finalizar o post do blog.
É impressionante como a net é lenta, dava agonia, mas depois de 3hs consegui terminar o post.
Gostei muito dessa península e resolvi passar mais um dia aqui, que acredito que se um dia eu voltar pra cá, as coisas vão estar bem diferentes. 


Dia #23: Maraú/Barra Grande (53kms)

Fui conhecer Taipu de dentro que fica do lado esquerdo da península, muito calmo tudo por ali: um povo na praça sem fazer nada, uns jogando cartas, uns ouvindo “arrocha” no último volume às 9 da manhã e as crianças na escola.

Mercadinho Deus É Bom

O que mais me chamou atenção foi o som da eletricidade com o vento, a corrente elétrica fazia um som que junto com o barulho do vento criava uns efeitos bem interessantes.
Segui pro Campinho, que parecia ser um lugar mais pobre, com casas de barro e muita gente vivendo do mangue. Na praia dava pra ver tb os contrantes, umas lanchas gigantes ancoradas e as casas de barro dos moradores.

Casas de barro

A pobreza na Bahia é algo bem forte em alguns lugares, eu me sentia mal parando e batendo fotos. De um lado existem resorts e hotéis carrissímos e do outro crianças pedindo comida, não é a toa que  quase todos querem passar a perna nos turistas ali, parece ser a única forma de chegar algum dinheiro nas mãos daquelas pessoas. A Bahia é um dos estados mais ricos do Brasil, mas um dos últimos no índice de desenvolvimento humano assim como em distribuição de renda.
O próximo destino foi a Lagoa Azul, a Lagoa do Cassange e a praia do Cassange, aonde parei para tomar um banho.

Trilha para as lagoas

Voltei e no caminho pra cidade passei na ponta do Mutá e fui até o rio de Barra Grande e tomei um banho na praia da região. 

Fim do dia em Barra Grande

Hoje foi um grande dia, tinha momentos que nem acreditava que estava ali, tinha até que tirar os óculos pra ver a cor real das coisas.

Dia #24: Maraú – Morro de São Paulo (75kms)

Rebocando...

Embarquei a bike e toda minha bagagem no barco para ir até Camamu. A viagem foi tranquila, passando por uns mangues da região. Tivemos que rebocar um barco no caminho, que tinha ficado sem combustível. A viagem durou 1:30h e custou 6 reais.

A bela e o mar

Em Camamu, subi o morro para pegar a BA-01, a estrada é toda cheia de pequenos morros, nada plana. O calor estava bem forte hoje, precisei parar várias vezes para me abastecer de água. Comi um miojo cru no caminho, tava com preguiça de cozinhar, e como o miojo é pré-frito ou algo do gênero fica algo até gostoso quando você ta com fome. 
Cozinhei pouco nessa trip, podia ter economizado uma grana nisso, mas um lance importante numa viagem é você comer a comida local, com os temperos locais.. e assim também estar sujeito a contrair as viroses e infecções digestivas locais.
As placas me confundiam sobre as distâncias, quando eu achava que faltavam 30 kms apareceu uma placa dizendo 50kms e uns 2kms depois dizendo 20 kms... tempo e distância aqui adquirem um novo sentido.
Tava pedalando num ritmo legal e cheguei em Valença para pegar o barco pro Morro às 15hs. Consegui um desconto numa lancha, e embarquei por 10 reais.

Bike amarrada na popa da lancha

A viagem foi meio turbulenta pra bike que ficou amarrada pra se proteger da agitação do mar. Quando cheguei veio um povo falar comigo, parece que tem umas trilhas bem legais por aqui. Também fiquei sabendo do preço do Catamarã para Salvador = 75 Reais. Achei caro por uma viagem dessas, e possivelmente farei pedalando este trajeto. Já fiz este passeio de catamarã a uns 6 anos atrás e acho que o legal seria fazer pedalando agora.
Encontrei um hostel, o Hostel do Morro. O dono é o Francisco, gente boa, ciclista e curte um som.
No meu quarto tinha um francês que tava conhecendo o Brasil pela primeira vez, um pouco quieto demais, mas tranquilo.
Saí para dar uma sondada na cidade, tinha mudado em termos de infra estrutura, parecia ter mais lojas, mais organização.. mas continua muito legal. Um lance que me chamou bastante atenção, na viagem em termos gerais, foram as lojas de celular. Não importa aonde você esteja, o quão miserável seja o povoado.. sempre há algum tipo de loja de celular, que sempre é muito mais bonita e eficiente que as padarias, restaurantes e qualquer loja de comida.

Morro de São Paulo

Fui pra praia 2 e deitei na areia. Chegar ali era um marco pra mim, acho que passei umas duas horas olhando pra lua e as estrelas, sem fazer nada.. depois de tanto pedal parecia que o céu tinha se organizado pra mim como um prêmio.
Comi uma moqueca de peixe e experimentei um suco novo: mangaba. Sempre achava que mangaba era uma mistura Manga + Goiaba, mas não.. é uma fruta, que dá pra fazer um suco muito bom.
Fui pro quarto ler um pouco e amanhã pretendo mergulhar e não fazer nada o dia todo.


Dia #25: Morro de São Paulo (sem pedal hj)

Caminhei pelas praias e ao meio dia fui mergulhar. Sempre é legal o mergulho ali, peixes e um campo de visão muito bom.

Piscinas naturais

Cavalo marinho

Fiquei lagarteando ali por um bom tempo, nas piscinas naturais da região. Passei umas horas sem fazer nada numa sombra, pensando em tudo o que rolou nesse trip, acho que vai levar um bom tempo pra eu assimilar tudo o que aconteceu, e o mais difícil: ter que re-assimilar umas coisas tão idiotas que as vezes temos que fazer, no tempo que perdemos fazendo coisas inúteis e até nocivas para nós.
Comi algo e li bastante também, um livro interessante esse: As Aventuras de Tom Sawyer, comprei mais por causa da música do Rush, mas o livro fala dum moleque que inspirou muito o Bart Simpson.
A noite saí e conheci um povo de Curitiba que morava no Rio e tomamos umas.

Dia #26: Morro de São Paulo (35 kms)

Tinha combinado com o dono do hostel, o Francisco, pra gente fazer um pedal hj. Fiquei lendo até o meio dia, quando iniciamos o pedal.
O Francisco disse que pra ele no Morro não existia indumentária de mountaing bike.. e sim beach bike: chinelo, sunga e protetor solar. 

Francisco, Beach Biker, no mangue

O pedal foi muito massa. Passamos por umas estradas que quase ninguém passa quando vai pro Morro, depois pegamos umas trilhas, passamos por uns riachos, porteiras, um aeroporto, mais riachos e fomos parar na praia de Garapuá e seguimos até Pratigi. Foram uma das duas praias mais bonitas que já vi na minha vida.

Trilha

Tomamos uma água no bar do Pipoca e voltamos pela Praia do Encanto, 4a Praia.. passando por uns mangues, numa combinação que eu nunca tinha pedalado antes.

Erosão

A noite fomos comer uma pizza, voltei pro hotel e depois dei uma banda e encontrei o povo de ctba..


Dia #27: Morro de São Paulo (sem pedal hj)

Acordei com o estômago zicado e não estava muito bem, acredito que foi a pizza de ontem, ou o final da viagem chegando. Fui votar, melhor.. justificar meu voto. Exercer meu direito de ficar numa fila por meia hora pra dizer que não irei votar. Mais um dos procedimentos idiotas que temos que fazer nesse país.
Depois do meu exercício de cidadania subi até o Farol para fazer algumas captações.

Vista do Farol do Morro

Comprei mais protetor solar, o terceiro tubo da viagem, e fiquei lendo até o sol dar uma baixada. Falei com o Francisco e ele também estava mal, com certeza tinha sido a pizza.
Faríamos um pedal hj, mas o plano foi abortado.
Passei o dia lendo e fui até o mangue bater umas fotos da região, tomar o último banho de mar planejado da viagem e me despedir do Morro.

Mangue #1

Mangue #2

Na volta comi um pf safado enquanto uns caras discutiam o resultado das eleições. É sempre engraçado ver essas coisas, desde que você observe por pouco tempo.



Dia #28: Valença (Morro de SP) – Salvador (125kms)
Dormi meio mal a noite anterior, tava na nóia de acordar cedo e com o estômago perturbado.
Trombei com o Francisco no hotel, peguei a bike, me despedi e segui rumo para o cais, aonde peguei o barco até a Ponta do Curral.

Adeus Morro...

A viagem no barco foi tranquila, com os moradores da ilha indo trabalhar no continente nas primeiras horas da manhã..
Na Ponta do Curral tinha um ônibus que vai até o trevo da policia, que é aonde eu tinha que seguir para ir até salvador. Mas preferi ir pedalando os 15kms.
O trajeto foi legal, poucos morros, o vento a favor e praticamente somente eu e a bike na estrada.
Tava sem café da manhã, pq tinha saído antes do horário que servem no hostel. Imaginava que iria encontrar algo, pois estava a apenas 120kms de Salvador. Ledo engano, pedalei por quase 50 kms e não encontrei nem um vendedor de coco na beira do asfalto. Tava meio fraco já, cansado pra subir as ladeiras.
Depois de um bom tempo encontrei um posto e comi, tomei água de coco e já segui pedalando. Achava que seria tranquilo, pois tinha comido pouco, mas precisei parar uns kms a frente pra descansar mais e tomar mais água.
Parei em Nazaré e um trabalhador da Petrobrás veio falar comigo, ele tava tomando uma, dizendo que tudo que ele precisava tava ali.. a breja dele e o solzão. Mas dizia também que um dia ele ia tomar coragem e sair dalí... ainda mais que o candidato dele tinha ganhado as eleições.
Passei por várias vilas e pequenas cidades, alguns lugares bem miseráveis. Uma pobreza diferente da do sul da Bahia, pobreza perto de grandes centros urbanos é mais agressiva, as pessoas são mais agressivas. Até as crianças tinham um comportamento diferenciado, sorriam pra você quando você passava, mas te xingavam, mandando embora, depois de passar por elas. 

Descansando da/na Ba-01

As estradas me tiraram a paciência várias vezes, tinha buracos que dava pra cair um caminhão dentro. Vi as crianças enchendo com terra os buracos pra ganhar uns trocos dos carros. Algo bem impactante... as famílias munidas de pás iam em cima de um caminhão, encontravam um buraco, jogavam terra dentro e depois ficavam pedindo grana.
No caminho tb quase levei um lambaço feio, tava pedalando em pé, no gás, e inventei de mudar a marcha. Perdi por alguns instantes o controle da bike e por pouco não entro dentro de um buraco gigante.
Cheguei para pegar o Ferry Boat para Salvador as 15hs, tinha saído um fazia uns 10 min.. esperei por uma hora e alguma coisa pra embarcar.. e comi uma esfirra, algo tão sem maldade, mas que futuramente iria se tornar o meu pesadelo por vários dias.
Embarquei e o passeio de ferry foi bem legal, com direito a por do sol sobre Salvador. O único inconveniente foram os 45min de atraso do ferry.

Salvador

Por do Sol no Ferry Boat

Desembarquei e segui para a Barra, aonde sabia dum hostel com um preço legal.
Cheguei lá em pouco tempo e finalizei o pedal do dia. Tava me sentindo muito bem, tinha praticamente terminado a trip.
No meu quarto tinha um estudante de físca e um vendedor de Vitória da Conquista, troquei uma ideia com o povo e assistimos uma televisão, mas não aguentei quando começaram a ver novela e fui ler um pouco.
O figura de Vitória da Conquista só ficava falando dos amigos dele que tinham umas bikes de milhares de dólares e que minha bike não era boa como a deles. Encontrei muita gente assim no caminho, que acreditam que precisamos ter coisas caras.. últimos celulares, carros e afins. O consumismo está por todos os lados, comprar, comprar e comprar.. passam a vida só comprando. 
Os restaurantes da região já estavam fechados quando saí para comer, todos me disseram para ir até o Shopping Barra.. e fui para o lugar mais degradante da viagem.
Lá dentro sumiram os negros de Salvador e o regime da Terra de Oz imperava no ar... impressionante como estes ambientes são segregados, falsos e assépticos. Me senti mto mal lá dentro daquela bolha, tratei de comer algo em série e voltei pro hostel.
Peguei no sono e acordei com o início do meu inferno pessoal: uma caganeira que não respeitava idade, credo ou hora...


Dia #29: Salvador (acho que andei uns 10kms entre banheiro/quarto)


Tava nos planos conhecer melhor cidade, mas conheci somente o banheiro do hostel. Até podia ter tomado algo pra melhorar mais cedo, mas preferi dar aquela limpada interna antes, já que Salvador (assim como Morro de Sp) é um dos lugares que já conhecia da viagem.
Pela manhã terminei de ler As Aventuras de Tom Sawyer. Sai pra comer um sanduiche e comprar água. A tarde tive um pouco de febre, tomei uns remédios e depois saí para comprar mais... Pois amanhã eu teria uns 30 kms de pedal, e no estado que eu estava eu levaria umas 2hs pra pedalar esse trajeto, e duas horas sem ir ao banheiro era apenas um sonho distante para mim.
Melhorei da febre e dormi bem até.

Dia #30: Salvador – São Paulo (40kms)

Acordei bem melhor, na pior das hipóteses teria que pagar 70 reais de taxi até o aeroporto, mas tava em condições de pedalar.
Consegui comer bem no café da manhã e dei um tempo no hotel até o meio dia, quando tomei dois “Imoteps”... é um comprimido que segura tudo, seca tudo.. bem, quase tudo, na Trilha Inca em Machu Picchu não se mostrou muito eficaz, mas quem sabe em Salvador..

Farol da Barra

Fui pedalando e já sentido os efeitos, mãos secas e a garganta seca me lembravam o ar de São Paulo. A cada pedalada ia sentindo minhas víceras numa luta contra o rumo natural das coisas e as convenções da sociedade ocidental. No final das contas, consegui chegar até o Aeroporto sem nenhum problema maior, além da garganta seca.
Pra despachar a bike também foi tudo ok, o pessoal da TAM foi mto gente boa e não criou problemas, mto pelo contrário, e tb não excedi do meu limite de bagagem.
Só na hora de embarcar a Infraero disse que não poderia embarcar com minhas chaves allen pois eu  poderia desmontar o avião com elas. Podia despachar elas como bagagem, mas já estava em cima da hora, e iria ter que pagar por excesso de bagagem pra enviar meu alforge de guidão com as chaves. Resolvi descarta-las... as chaves que me acompanharam por 8 anos, RIP. Vivendo a aprendendo... nunca leve ferramentas como bagagem de mão.
O voo tb teve quase uma hora de atraso. Fiz escala em Belo Horizonte e entrou um bando de engravatados no avião, que me olhavam pelo canto do olho.

Congonhas

Em SP a bike chegou inteira e segui para casa. Fui pela Bandeirantes, tinha esquecido o quão assustador pode ser aquela avenida quando pedalada.... Mas em pouco tempo cheguei em casa, depois de 30 dias de pedal.
Chegar em casa também é algo muito bom, faz a gente olhar pra tudo diferente, dar valor pra algumas coisas que não dávamos antes. Também levei um choque ao entrar no meu quarto, que certamente era o mais bagunçado que já tinha visto em 30 dias.
Em breve posto mais fotos, videos, mapas e algumas considerações sobre a viagem. Preciso de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu, que certamente foi uma das melhores coisas que fiz em toda minha vida.