sábado, 21 de julho de 2012

Cicloviagem Islândia - Parte 4


Dia #30 (21/07/12) Dipovogur – Hofn (105kms)
Acordei naturalmente às 7:30, comi o miojo, tomei café e piquei a mula.
Logo no ínicio vi que o vento estava a meu favor, pela primeira vez na viagem.. fiquei muito, mas muito feliz! O trajeto tinha algumas montanhas, mas nada de muita dificuldade. São aquelas montanhas que você desce a 50kms/h e sobre a 5..
O trajeto não tem pontos de apoio, porém depois de 70kms existe um albergue ou algo do gênero, creio que dá para conseguir algo ali. Existem muitas casas de fazendeiros no caminho, numa emergência também da pra dar uma conferida.
A chuva me acompanhou por todo o trajeto, inclusive com uma neblina constante. Foi uma pena, pois não dava para ver direito os fiordes, nem fotografá-los.. mas faziam um cenário muito assustador, tipo “O Senhor Dos Anéis”.

Fiordes


Tive que pedalar sem parar, somente parava por cerca de 5min para comer algo, pois o frio era tão forte que para voltar a pedalar doía o corpo todo.. então adotei a filosofia do devagar e sempre.
Não cansei tanto no trajeto, bem menos que ontem, creio que meu corpo está se recuperando bem depois de cada pedal. Encontrei uma boa fonte de proteínas num yogurte daqui, que é barato também.. então a alimentação ta bem equilibrada.
Depois de 7 horas de pedal cheguei a Hofn. Missão cumprida.. bastava agora ir no mercado me abastecer para o dia de amanhã, comer, tomar banho e conectar um pouco na net, para dar parabens pro meu pai, o Seu Olinto, que faz aniversário hoje!!
Amanhã vai ter uma tempestade por aqui, na real o tempo já está bem feio.. o dia todo esteve assim, porém os ventos amanhão serão muito fortes, tem até um aviso no site do tempo da Islândia:  http://en.vedur.is/


 O trajeto feito até hoje


Dia #31 (22/07/12) Hofn
Tava precisando dum dia sem pedal e este dia foi perfeito para isso. Choveu a noite toda, uma chuva constante que com o vento ficava com cara de temporal. Fiquei contente que a barraca passou no teste da tempestade, não entrou água, somente o normal e a condensação.
Conheci um italiano que estava viajando o país somente pedindo carona. Já yinha feito isso em vários outros lugares da Europa, mas disse que quando foi para a América do Sul mudou de idéia e começou e pegar ônibus.
Saí para procurar um lugar para conectar na internet e quem sabe passar o dia num lugar quente e confortável. Encontrei um hotel que cobrou cerca de 5 reais pela conexão. Mas depois de umas duas horas me mandaram embora, pois falaram que estava chegando gente..
Isso foi algo que senti nessa cidade, Hofn, o povo ali é muito mercenário, pensa muito em dinheito. No camping tudo é pago: usar tomada para carregar telefone, internet.. até o chuveiro funciona com moedas.
Fui preparar algo para comer, no camping, tentei conectar na internet mas estava com muitos raios e o céu fechado demais.. assim a conexão fica muito lenta. Depois fui para um café, onde ficaram me trocando de mesa até me mandarem embora.. as pessoas iam lá para comer e gastar muito dinheiro, e eu só tomei uma cerveja.. talvez a mais cara da minha vida, uns 16 reais.
Após ser expulso, um segundo depois que minha cerveja terminou, fui para o camping. Conversei com um casal de espanhóis que estava pedalando também. Já haviam pedalado por toda a China e o Tibet, por cerca de 8 meses. Ë interessante viajar e conhcer essas pessoas pois vemos que os sonhos são possíveis e que as pessoas realizam seus sonhos. Ficar em casa, na nossa zona de conforto, sem nada novo, nada desafiador, muitas vezes pode ser ruim.. pois acabamos não vivendo, apenas procrastinando o que deveria ser a vida.
Os espanhóis me deram uma boa dica de lugar para ficar amanhã. Um lugar para acampar, do lado de um glaciar.. será a primeira vez que acampo sozinho sem estar num camping ou com mais pessoas. Porém me falaram que não há nada até chegar lá.. então preciso comprar comida e até água para ficar este dia no lago do glaciar.
Dia #32 (23/07/12) Hofn – Fjarllson (lago) – 90kms

Muita água hoje..
 
Muita chuva durante a noite e acabei não dormindo muito bem, acordando direto. Levantei, arrumei as coisas, tomei um café reforçado e segui – embaixo de cuva e muito vento- para o meu destino.
O caminho foi bem tranquilo, com retas intermináveis e com alguns pontos de apoio.. como restaurantes e um posto de gasolina logo após Hofn. Sempre que aparecia um posto eu acabo parando e comendo algo.. por precaução. Encontrei um cicilista alemão no caminho, Mathias, que tinha dormido a noite no mesmo lugar que eu iria dormir hoje.. e fiquei sabendo que seriam mais 10 kms até o destino.. mas tudo bem, estava muito bem fisicamente e emocionalmente.
Conforme ia pedalando avistei o primeiro glaciar.. é impressionante o que ver um negócio desses faz na gente. Sei lá, tem que ver.. não tem como explicar.. uma montanha gigante com gelo, e uns lagos com a água derretida com icebergs flutuando. Me senti muito bem alí. Parei várias vezes para fotografar e ficava as vezes empurrando a bike e contemplando tudo aquilo.

 Jokulsarlon #1

Jokulsarlon #2

Jokulsarlon #3

Jokulsarlon #4


Próximo de Jokulsarlon, onde já foram filmados dois filmes do James Bond, minha corrente começou a ranger.. estava precisando de lubrificante, mas deu pra chegar até lá tranquilo.
Jokulsarlon é um lugar mágico, seria mais mágico se não tivesse tantos turistas.. é o final de um glaciar, que forma um lago com gelo e este lago desemboca no mar. Fica um monte de pedaços do glaciar na praia, junto com o mar.. pra mim foi algo surreal..  praia e pedaços de gelo ao mesmo tempo. A praia é formada de sedimentos vulcânicos, então é como se fosse areia negra. Fiquei um bom tempo fotografando aquilo tudo.. e descobri que ali do lado tem uma café, onde recarreguei meus estoques de cafeína.
Outro fato curioso foi que encontrei  o primeiro brasileiro.. de moto..e também de Floripa! Trocamos uma ideia por um tempo e cada um seguiu viagem para um lado diferente. Mas foi bom poder falar português..
Não sabia exatamente onde era o lago, fui pedalando e olhando pro gps... tudo com muito cuidado, pois a corrente estava rangendo muito.. e iria levar muito tempo para eu encontrar o lubrificante, na verdade cerca de 5 minutos, mas naquele frio todo parar ia ser muito desconfortável.
Cheguei no lago e acenei para duas meninas que estava acampando lá (dentro de um furgão), elas perguntaram se eu estava bem.. disse que sim e perguntei a mesma coisa, elas riram. Depois que armei a barraca elas vieram falar comigo, oferecendo uma janta. Aceitei e fui comer no furgão quente e confortável, na compania de duas suiças. Foi bom encontrar alguém ali, pois achava que ficaria sozinho o tempo todo.. e estava muito bem e preparado para isso. Mas isso só mostra que quando estamos viajando não temos controle de nada do que acontece.
Após comer fomos andar pelo lago, creio que foi um dos lugares mais fantásticos que já estive na minha vida.. lembrou o Perito Moreno, na Argentina, porém dessa vez era diferente, estava acampando ali.. e de bicicleta.

Acampamento no glaciar



O vento estava ficando muito forte, conforme a previsão do tempo alertava na noite anterior. Encontramos dois espanhois que também tinha pegado a dica com o Marco, o espanhol que me deu a dica.. em Hofn, e também iriam ficar ali. Conversamos um pouco e logo depois todos foram dormir, os dois casais nos seus carros e eu na barraca.

Dia #33 (24/07/12) Fjarllson – Svinafell (42kms)
Como estava dormindo em um lugar aberto não usei os tampões nos ouvidos, durante a noite ouvi uns passos.. mas como , teoricamente, estou no país mais seguro do mundo não me preocupei. Falando nisso, devo ter deixado meu cadeado da bike em algum lugar.. perdi.  Mas niguém usa cadeado por aqui..
8:00am despertei, o sol estava bonito.. mas o vento era algo absurdo. Tentei sair sem a jaqueta corta vento e não rolou.. voltei e coloquei uma blusa e a jaqueta. Sobre a roupa que uso para pedalar: uma bermuda de ciclismo e em cima uso uma calça corta-vento para as pernas. Creio que daria pra usar uma calça de ciclismo, até trouxe uns pernitos (que são umas mangas compridas pras pernas) mas não me adapto aos pernitos.. eles sempre ficam caindo. Deveria ter comprado uma calça de ciclismo, achava que iria encontrar uma em Londres, mas acabou que esqueci. Para os braços e torax uso uma camisa manga longa corta vento que  também é primeira pele, e sempre uma jaqueta corta vento em cima. Pra cabeça uso tipo uma primeira pele impermeável embaixo do capacete. Nunca precisei usar nada mais do que duas blusas, o sistema de camadas realmente funciona. E para dormir depende, quando é muito frio uso uma primeira pele nas pernas e no torax, junto com o saco de dormir.. que aguenta até -5 graus. Mas na maioria dos dias dá pra dormir somente de cueca dentro do saco de dormir.
Aproveitei a manhã para fotografar... já que estava diante de um dos mais belos momentos da minha vida resolvi fazer um time lapse. Fiquei cerca de 2 horas ali esperando a memória da câmera terminar. Pra quem não sabe, time lapse é uma técnica de fotografia / cinema que você bate uma foto a cada 1, 2, 5, 10 segundos ou mais com a câmera no tripé.. depois junta todas essas fotos em sequência, geralmente 24 fotos por segundo..e ai você tem um video.

Glaciar e lago


Estava bem cansado e resolvi dormir um pouco. Como o vento estava absurdo, sabia que deveria esperar. Aproveitei e escrevi um pouco para o blog, cozinhei um miojo, lubrifiquei a corrente e dormi mais um pouco. Quando era cerca de 2hs da tarde arrumei minhas coisas e parti, torcendo para que o vento diminuisse um pouco..
A previsão dizia que o vento iria diminuir e realmente diminuiu. Na verdade ele até me ajudou em boa parte do caminho. O barulho da corrente sumiu, mas outro apareceu.. um téc téc téc no pedal direito. O verdadeiro inferno estava instaurado na terra, creio que uma bolinha de rolamento deve ter quebrado ou soltado.. ai toda vez que pedalo da um estalo maldito. Creio que não vai ter problemas, a não ser o barulho a cada pedalada. Com o passar do tempo fui tentando colocar os téc tec no ritmo das músicas que estou ouvindo e tentar deixar a coisa um pouco menos desagradável.
Cheguei em Svinafell cerca de 2hs depois. Escolhi ficar aqui e não ir direto para Skaftafell porque lá tem muita gente e dizem que as instalações não são muito boas, além de caras. Entao creio que vou dar um tempo por aqui.
Depois de armar a barraca fui até um posto de gasolina comprar algumas coisas para comer. Achava que tinha comprado leite, mas na verdade é um leite diferente.. entre coalhada e iougurte desnatado.. como to precisando de proteínas, mandei assim mesmo.



Road to nowhere

Dia #34 (25/07/12) Svinafell
Aproveitei que o dia estava frio e chuvoso para editar umas fotos. Estou com cerca de 500gb de fotos no computador, acabo editando somente o que chama atenção a primeira vista, pois as imagens estão meio “cansadas” na minha cabeça. Parece que precisa de algum tempo para escolher as imagens, deixar o cérebro esquece-las para poder ve-las como se fosse a primeira vez, ou quase isso.
No mais consegui falar com algumas pessoas muito queridas pelo computador. Hoje foi um dia que queria estar com elas e não na barraca esperando a chuva e o frio passar. Creio que vim para a Islândia também procurando isso, sentir as coisas de verdade...
Quando eram 21hs o tempo melhorou e consegui saír para fotografar um glaciar que fica aqui do lado do camping. O legal foi que não havia ninguém por lá.. pra entrar um pouco em sintonia com este dia que foi muito introspectivo e que consigo definir em uma palavra (que inclusive só existe no português, pelo menos na escola diziam isso): saudades.

 Svinafell #1


Svinafell #2

Svinafell #3


Dia #35 (26/07/12) Svinafell – Skaftafell – Svinafell (12kms)
O dia estava muito diferente de ontem, um sol lindo no céu e a temperatura esava um pouco mais quente. Saí cedo para o parque de Skaftafell, pois queria fazer uma caminhada em cima do glaciar.
Peguei a bike e percorri fácil os 6kms, bike sem peso algum, eu não acreditava como era tão fácil pedalar. Quando cheguei na agência descobri que estava tudo lotado pela manhã, com algumas vagas pela tarde. Porém vi que existia uma “escalada no gelo”.. bah, fiquei com muita vontade, só pra sentir o gostinho da coisa.. era 25% mais caro que a caminhada.. uns 250 reais e era a atividade com o nível mais  avançado de condicionamento físico. Como só vivemos uma vez, não exitei e fui para a escalada no gelo..
A expedição (!!??) saia somente  às 11hs, aproveitei as 2hs que tinha para conferir a grande geleira que ficava ali, aproveitei para bater algumas fotos e aproveitar o sol que estava surgindo.

 Skaftafell
A caminhada até a galeira serviu para ooutra coisa, estava com duas calças, uma corta vento e uma primeira pele, pois iria caminhar no gelo. Mas conforme fui andando vi que não foi uma boa ideia, estava suando demais.
Voltei para entrada do parque, tirei uma calça e seguimos no onibus para a escalada. Como o grupo no ônibus era misto, o pessoal achava que eu iria com o grupo da caminhada, e não deram bola para o tipo de sapato que eu estava usando (meus tenis de pedalar). Chegando lá vi que precisava ter alugado uma bota e tal, mas com os cravos que colocam embaixo dos sapatos até que rolou legal andar.
Gostei muito de andar no gelo, os cravos realmente seguram muito bem. O nosso grupo, de 5 pessoas, se separou do grupo maior e seguimos rumo para os paredões de gelo.
Foi muito legal, o primeiro paredão todos conseguiram subir legal, era bem inclinado. O segundo foi mais difícil e o terceiro tinha uma inclinação negativa, assim como o quarto. Como meus tenis não tinham muita fixação, tinha que subir somente usando os braços ou bem pouco as pernas.  Uma experiência única na vida..e  muito boa. Consegui subir todos eles,  mas os braços são bem exigidos..


 No gelo

 Escalando..
Na volta passamos por um lado não convencional do glaciar. O legal desse passeio foi que o nosso guia gostava muito daquilo, diferente dos outros, ele se empolgava quando via algo novo e transmitia isso para a gente. É algo que recomendo fazer..
De volta no parque, 7hs depois, resolvi passar num restaurante que encontrei na metade do caminho. Valeu a pena.. comi quase tudo o que tinha no Brasil, nada de diferente tinha ali.. mas os fregueses não consumiam aquela comida, somente pizzas e hamburguers.
De volta no camping, pesado e lento de tanto comer, não resisti por muito tempo e capotei na barraca.
Outro fato que vale a pena citar são os grupos estilo CVC. Aqui está cheio deles.. e acampam. São grupos de algum país, geralmente frança ou alemanha, que vem em bando se "aventurar" na Islândia. Fazem todas as refeições em grupo, como gado, comem a mesma coisa, visitam a mesma coisa e ficam o mesmo tempo em cada coisa. De manhã lotam as cozinhas, ai vem um ônibus-tanque que leva eles pra algum lugar. Depois voltam, comem em bando e vão dormim a mesma hora também. Um fato curioso é que não tive problemas com os chuveiros por causa disso.. creio que eles não são muito fans de banhos.


Dia #36 (27/07/12) Svinafell – Kirkjubaejarklaustur (75kms)
O dia estava bonito, porém na região de Svinafell sempre tem uma nuvem negra rondando, devido a montanha que existe lá. O frio já não estava tão forte e aos poucos o sol até foi aparecendo.
Precisei recarregar a bateria da câmera para depois partir. Aproveitei para editar mais umas fotos enquanto isso e em sequência parti, rumo a Kirkjubaejarklaustur.
O caminho foi muito lindo, principalmente no início.. uma grande reta, infinita. Numa planície de areia negra e vento... que veio a se transformar em uma tempestade de areia. As tempestades de areia são bem comuns por aqui, para quem está num carro não tem muito problema, mas numa bike pode ser um tanto quanto ruim. O vento vinha pela direita hoje, e as rajadas de areia eram muito fortes, você precisa meio que ir aprendendo o padrão do vento, pois ele sempre tenta te derrubar, meio que ciclicamente.
O que peguei lá deve ser o normal da região, felizmente, não foi algo absurdo e consegui fazer meu caminho pela tempestade de areia, que veio até mim em mais umas duas ou três ocasiões.

Tempestade de areia

O resto do caminho também não teve grandes novidades.. a planície que começou até a ficar meio chato de ver, nada muda, é sempre igual... e sem nenhum ponto de apoio no caminho. Creio que somente depois dos 50kms ficou mais habitado, e próximo de Kirkjubaejarklaustur tem bastante coisas.
Em Kirkjubaejarklaustur comprei comida, arrumei a barraca e lembrei que ela havia quebrado na noite passada, creio que com os ventos arrebentou uma das varetas de fixação. Sorte que os caras já vendem a barraca com um tubinho extra, caso isso aconteça. No mais tomei banho (mais um chuveiro conta-moedas), entrei na internet e consegui fazer reserva num albergue da juventude em Vik, a cidade que irei amanhã.
Antes de dormir fui até uma cachoeira da cidade e bati algumas fotos.Quando voltei fiquei impressionado com a capacidade do ser humano de fazer aglomerações: escolhi um lugar bem distante, pra não ter gente por perto fazendo barulho durante a noite.. e quando voltei minha barraca havia sido cercada por 4 barracas. Isso também rola com carros: sempre que um carro me ultrapassa, vem outro (ou vários) em sequência atrás.. depois mais 5minutos sem ninguém. É interessante, parece que poucas pessoas conseguem ficar sozinhas...


Cachoeira local


Algumas montanhas, chegando perto do destino final


Mas quase todo o caminho são apenas longas retas



Dia #37 (28/07/12) Kirkjubaejarklaustur – Vík (77kms)
Acordei cedo.. 7hs, mas fiquei enrolando por algum tempo até sair. Esperei o posto de gasolina abrir pra tomar um café de verdade e seguir rumo a Vík, uma cidade com uns 300 habitantes.
O caminho foi uma grande reta, passando por cenários vulcânicos.. toda essa parte da ilha é formada por derramamento de lava que aconteceu no passado. O vento estava nas minhas costas, e estava muito feliz por isto.
Peguei algumas tempestades de areia, mas nada demais, pois não vinham diretamente na minha cara. Mas fiquei com pena dos ciclistas que encontrei no caminho.. uns 10, todos casais. Outro fato curioso fui um figura que estava andando de skate na rodovia.. não consegui falar com ele, pois ele estava ladeira abaixo na única descida do caminho.
O caminho também não tem quase pontos de apoio, é basicamente um deserto vulcânico. Somente depois de Vík é que a civilização volta a aparecer...
Parei num platô gigante que encontrei no caminho e entrei na estrada de terra para visitá-lo. Fiquei impressionado com o tamanho daquilo, era muito grande.. e eu e a bike tão pequenos.

Platô


Os últimos 10 kms foram com o vento contra, forte, nestes casos não tem muito o que fazer além de reduzir a marcha e dar uma pedalada de cada vez.
Em Vík fiquei num albergue da juventude, não havia ninguém no lugar quando cheguei, mas tinha uma placa que dizia para entrar no quarto e se instalar, que mais tarde os donos apareciam...
Conheci um pessoal da Bélgica muito gente boa, demos umas risadas e fizemos um rango. Quando era cerca de 9hs saí para subir uma montanha que existe aqui do lado, subida difícil, cerca de 1h caminhando.. Mas o cenário era absurdo e pela primeira vez vi um puffin, que é o pássaro símbolo da Islândia...

Puffin


A lua estava grande e fiquei um tempo absorvendo tudo aquilo. Quando era cerca de meia noite voltei para o albergue. A noite começa a aparecer por aqui, não totalmente escura, mas já começa a anoitecer.


Dia #38 (29/07/12) Vík
Tudo foi em slow motion neste dia. De manhã fui bater umas fotos na praia e a tarde fiquei no hostel, comendo comida “grátis”.. deixada por outros hóspedes. Tava meio cansado, mas não consegui dormir.

Vík - Praia de areia negra

A noite tava pensando em ir fotografar, em subir a montanha e pegar uma luz melhor. Mas achei melhor ficar sem fazer nada. Isso é algo interessante quando estamos viajando de bicicleta: temos sempre que dar um tempo para o corpo se recuperar. Queria sair para fotografar hoje, mas subir o morro de novo ia cansar muito as pernas, e amanhã tenho mais 85 kms, e mais 50 no dia seguinte.. então é tudo um jogo, de como dosar as coisas. Tem momentos que você precisa parar e deixar o corpo se recuperar.
Fiz a barba hoje, o que foi uma beleza. Fazia cerca de 30 dias que estava sem me barbear, tava muito angustiante.. começava atrapalhar até para comer... deu uma aliviada quando me vi sem aquele monte de pêlo no rosto.
Agora faltam apenas 187 kms até Reykjavik, e mais 55 até o aeroporto. Tenho 10 dias ainda no país, creio que vou passar uns três dias em Selfoss, num hostel e depois acampar em Reykjavik até os últimos dias. É interessante essa sensação de estar chegando no fim, você começa a pensar mais no Brasil e nas coisas que ficaram lá, ao mesmo tempo uma vontade grande continuar viajando.
Quando eram 19hs resolvi subir a montanha de novo. A ansiedade era muito grande de ficar parado e aquilo tudo ali do lado.Valeu a pena, fiz um time lapse e acabei vendo vários puffins.Acabei indo por um "atalho" para aliviar um pouco as pernas, mas não deu muito certo.. 

 Reynisdrangar - Vík
 Reynisdrangar - Estas pedras ficam próximas da praia de areia negra de Vík, diz a lendra que eram trolls que tentavam afundar um navio, porém não estavam conseguindo e quando o sol apareceu foram transformados nas pedras.
 
Puffins
Quando voltei era cerca de meia noite, fiz um macarrão com molho pesto e dormi no quarto com mais 5 pessoas, inclusive uma moça que roncava tanto que ouvia até com protetores de ouvido..


Dia #39 (30/07/12) Vík – Hvosvollur (85kms)
No café da manhã fiquei impressionado como duas alemãs comiam... ovo frito, bacon, salada, waffer, pão e muito mais.. o café da manhã delas era melhor do que o do hotel. Sobre os cafés da manhã daqui dá pra dizer que são bem parecidos com os do Brasil, porém custam cerca de 20 reais nos albergues. Nunca comi, acho caro e acabo sempre comendo pão com alguma coisa e café.. ou quando tenho um pedal longo: macarrão.
Me despedi do povo do hotel e saí rumo a próxima cidade Skogar. O caminho era composto de algumas montanhas perto de Vík, mas o restante bem plano. 


Skogafoss - Skógar

Em Skogar parei para tomar café e bater umas fotos da cachoeira. Um belo lugar, mas já estou meio saturado de cachoeiras, todo o canto tem uma.. e começa a virar algo corriqueiro. Na verdade a paisagem já está bem corriqueira agora. O que buscava antes de vir para cá -    aquelas cores, os cenários, os sons e os sentidos– já estão absorvidas, fazem parte do repertório. Virarão lembranças e referências para outras experiências.. a Islândia do verão está internalizada, absorvida após 40 dias que estou aqui.  Lógico daria para absorver muito mais com o passar do tempo, mas creio que já da pra ter uma pequena ideia do que é isto aqui. E a bike foi fundamental, pois tudo foi ao ar livre, embaixo de chuva, sol, areia, moscas e sempre muito vento. Creio que o trabalho que fiz com as fotos e videos dá pra ter uma ideia do que é isso tudo, mas na minha visão. Pra saber o que é isso, tem que vir, ver, ouvir e sentir tudo isso pessoalmente.. as fotos e videos não são referência da realidade e sim uma visão sobre a viagem, uma forma de contar a história. Além de serem um estímulo para outros virem a conhecer o mundo, seguirem seus sonhos ou qquer outra coisa (afinal de contas, não temos controle).
Bem, voltando ao dia de hoje, pedalei até o vulcão Eyjafjallajökull e fiquei meio decepcionado. O tempo estava nublado e o vulcão não tem aquela forma de cone tradicional daquele ponto que estava na rodovia.. mas ta valendo.

Eyjafjallajökull

Uma coisa que venho fazendo é sempre repetir, verbalmente, várias vezes o que encontro nas placas. No ínicio era muito difícil, mas agora já ta quase fácil. O idioma que não entendia nada antes, agora começo a entender.. pouca coisa, mas já da pra sacar como são formadas as palavras, as sonoridades... já não é tão estranho assim. Todo dia você aprende uma palavra, no outro aprende como escrevem um alimento que você sempre come.. e por ai vai, aprendendo alguma coisa de um novo idioma. Hoje fico feliz quando vejo que consigo pronunciar Eyjafjallajökull (o vulcão), qualquer outra cidade que tenha passado ou pequenas palavras que antes eram monstros e que agora dou risada quando consigo falar.
O restante do caminho foi tranquilo, até que cheguei aqui em Hvsvollur, arrumei um camping (que não tem chuveiro) e fui tomar um café e acessar a net num bar/hotel.
Ta passando as olimpíadas na tv, impressionante como não vi nada do Brasil até agora.. a mídia é algo muito manipulador, no Brasil só passa as coisas que o Brasil vai bem, ou compete, aqui passa tudo.. e vemos como não há incentivo para o esporte no nosso país.. uma pena, pois com algum investimento as coisas seriam bem diferentes.
De volta no camping encontrei uma mulher que está começando o pedal pela Islândia, espanhola e estava com muito frio. Estava esperando uma amiga que viria em alguns dias para acompanhá-la na jornada.
Agora estou escrevendo este post e são 10pm, o sono ta batendo e amanhã tenho mais um pedal de 50 kms até Selfoss.. onde pretendo arrumar os 2 raios quebrados da bike, de alguma forma acabei perdendo os raios reserva que sempre levo... mesmo os que estavam dentro do quadro da bike já nao estão mais lá.. mas creio que rola chegar até Selfoss.





quinta-feira, 12 de julho de 2012

Islandia de bike - Parte 3


Dia #20 (11/07/12) Stikkshoulmour – Borgarnes (de ônibus)
Acordei cedo, o ônibus partia as 8:15 pra Borgarnes, de onde devo seguir pela Ring Road até o final do trajeto. Arrumei as coisas a tempo e parti pro posto de gasolina esperar o busão.
Chegando lá, esperei por uns 15 minutos, ai fui conferir os horários numa tabela.. e o único dia da semana que o ônibus não passa é hoje, na Quarta Feira!
Fiquei sem saber o que fazer por alguns instantes, pois o próximo ônibus somente iria partir às 17hs. Sem muita opção, pois não queria pegar estradas sem asfalto.. e mesmo pegando estas estradas iria levar muito mais tempo do que esperar até 17hs. No final das contas, fiquei no campo de golfe editando umas fotos e fazendo backup das fotos.
Pra pegar o ônibus foi tranquilo, custou cerca de 100 reais com a bike e fizemos uma troca de ônibus no caminho. A viagem levou cerca de 1h.
Em Borgarnes o pessoal do hotel já me conhecia e me receberam muito bem. Tinha um cara de Israel muito gente boa, ficamos trocando uma ideia por um tempo e fui para o quarto.
Estava bem cansado e não demorei muito para dormir. No quarto tinha um professor americano que vive em Amsterdan e uma mina da Áustria.

Dia #21 (12/07/2012) Borgarnes – Reyklid (105kms)
Acordei antes de todo mundo, o quarto estava muito quente e com uma mosca fazendo um barulho irritante. Isso é algo bem comum aqui, de manhã é muito quente quando o sol começa a ficar forte e a diferença de temperatura com a noite é tão grande que você acaba acordando todo suado de calor.
Tomei um banho, comi um macarrão e segui viagem. Na saída da cidade passei para comprar um óculos barato, já que sempre perco meus óculos e já é o segundo que perco na viagem.
O caminho foi muito bonito e o vento não estava tão forte, estava contra (como sempre) mas dava pra manter uns 18kms/h de boa. Tentei acelerar o máximo o pedal, pois sabia que de tarde o vento ficaria muito forte.

 Antes de subir

Parei para tomar um café numa espécie de universidade no meio do nada, não entendi direito o que era aquele lugar, mas tinha um café bom.
Os próximos 50 kilometros foram subindo as montanhas, sem ver nenhuma casa ou posto de gasolina, desolação total. O trânsito ficou forte lá pelo meio dia, mas nada demais, já que os motoristas costumam esperar para te ultrapassar.
A subida foi muito cansativa, mas o visual era incrível. Quando cheguei no topo da montanha dava pra ver um glaciar gigante do lado.

50 kms de subida


Para descer foi tranquilo, a principal atenção que precisei ter foi em relação aos caminhões, que fazem um vácuo que as vezes pode te derrubar. Depois de 50 e poucos kilometros cheguei num posto de gasolina, onde parei para abastecer de água, que havia acabado na montanha.
Os 13kms finais foram muito difíceis, com o vento contra a mil, mantendo uma velocidade média na bike de 8kms/h. E faltando 4kms pra chegar na vila onde planejava dormir aconteceu algo que nunca poderia prever: o aro de trás, um Alex Rims para downhill abriu. Não acreditava no que estava acontecendo, a roda travada no freio e o aro aberto, cada vez abrindo mais.
Precisei soltar o freio de trás e assim consegui fazer o restante do trajeto até a vila, onde esperava encontrar um soldador para prosseguir viagem pelo menos até Akureyri, onde pordeia trocar o aro.

Super aro - aberto


Cheguei na vila e encontrei um albergue da juventude (no meio do nada) e consegui ficar num quarto sozinho por um preço menor do que o do dormitório. A dona falou com algumas pessoas a respeito do aro, mas parece que somente em Akureyri vou encontrar um soldador ou uma roda nova.
Foi um banho de água fria, pois estava gostando muito de pedalar nestes dias e não queria pegar um ônibus, mas tem coisas mais fortes que a gente.. na verdade muitas coisas. Então amanhã devo seguir via ônibus até Akureyri.
No hostel conheci um casal de holandêses que estava viajando pela Islândia em um 4x4. Eles conseguem chegar em lugares que seriam muito difíceis de chegar com uma bike, ainda mais carregada como a minha está. Mas em compensação estão fazendo uma coisa super rápida, sem tempo de assimilação, segundo eles.
Creio que estou aprendendo muito nesta viagem. Pois nunca aconteceu tantos percalços em uma viagem de bike como esta. Aguentei a Estrada Real numa boa, somente com uma corrente quebrada por causa da lama, que era absurda, mas nada demais. E aqui, com asfalto e sem lama tudo está quebrando. Ainda bem que para estas coisas existe sempre uma alternativa.
No final da noite fui até a praia fazer um time lapse. Na verdade estou batendo as fotos neste exato momento, enquanto escrevo este post para o blog.
Então amanhã, para resolver os problema da bike.. Akureiry, de ônibus.


Dia #22 (13/07/12) Reyklid – Akureyri (de ônibus)
Preparei um miojo no café da manhã e segui para a estrada, para esperar o ônibus.
Na noite passada estava tão cansado que dormi com a roupa do corpo, pois estava com preguiça de pegar o saco de dormir.
O ônibus chegou, e com ele a facada.. 170 reais para ir até Akureyri com a bike. O caminho é interessante, tem umas montanhas muito bonitas.. uma pena que não deu para percorrer este trecho de bike. O lado positivo foi que o vento estava matador.. e contra.
Durante uma parada aproveitei para comprar 1.5L de leite e um pacote de bolachas Maryland.
No ônibus conheci uma alemã e ficamos conversando durante a viagem. Ela estava trabalhando no hostel, no sul do país, e agora estava viajando de férias para conhecer o resto do país. É interessante como as pessoas na Europa viajam, creio que é algo semelhante com uma viagem pelo Brasil para nós brasileiros, pois tudo é tão perto e relativamente barato para conhecer.
A trip levou cerca de 3hs, em Akureyri estou no Albergue Backpackers. Tem bastante gente por aqui..  mas o pessoal não se mistura muito, ta todo mundo aqui no salão do hostel com seus laptops, cada um no seu mundinho, inclusive eu. O Hostel deveria fazer um chat online pras pessoas se conhecerem...
A cidade é bem turiística, tem uma infra boa e tal. Parece um pouco Ushuaia, mas Ushuaia é bem mais legal.. é turística, porém única.
Logo que cheguei no hostel fui atrás da roda da bike.. tem um senhor aqui que tem uma bicicletaria, bem grande na real, mas com coisas muito simples... a única da cidade. Ele não tinha uma roda para V-break com 32 furos, porém tinha uma para freios a disco.. fiquei com essa mesmo. Na real não muda muita coisa, só que ela freia diferente da outra, pior na real. Mas deixei o freio bem regulado, que ta melhor do que a dianteira. Pra quem não sabe, na bicicleta o freio que realmente importa é o da frente.. creio que faz uns 70% do trabalho.
Acabei trocando o pneu que tava usando na frente e coloquei ele na roda traseira.. 26x1.95 atrás e comprei um 1.5 para a roda da frente. O pneu de kevlar vai virar reserva de novo, de onde nunca deveria ter saído. Tava vendo o estado do pneu de kevlar, peguei muito piche no asfalto e um monte de pedras grudaram no pneu, talvez uma tenha entrado entre o freio e a roda e quebrado o aro.. to só especulando, pq não entendi como pode ter quebrado o aro daquela forma, e do nada.
Um lance muito bizarro que rolou foram os gases do dono da loja. Tinha mais 2 moleques ajudantes com ele, e ele não sabia falar inglês, somente os moleques. Ele falava, os moleques traduziam, ai ele soltava um gás mortal, os moleques vazavam e ficava somente eu e ele. Um olhando pra cara do outro, até que o cheiro chegava até mim e eu vazava também. O velho devia ter algum problema, ou algo assim, pois era muito natural as rajadas dele e os molques saindo pra longe.
Me perdi para voltar e estava um frio com vento dos infernos. Depois levei mais uma meia hora pra encontrar um mercado e comprar a base da minha alimentação na Islândia: macarrão, sardinha (uma sardinha diferente, defumada ou algo assim), pesto, pão, manteiga de amendoin Peter Pan e bolachas Maryland. No Brasil acabo comprando sempre as coisas do mercado “Dia %”, é barato e tem tudo.. até yakult, amandita, frango e sabão em pó do Dia %. Aqui o mercado é o “Bónus”, que o símbolo é um porco, típico de cofrinho. Eles também tem algumas coisas, mas quero ver fazerem um yakult como o Dia% faz.
Mas é impressionante como to cansado hoje. Esse lance da bike drenou muita energia e depois que consegui resolver parece que veio todo o cansaço acumulado.


Dia #23 (14/07/12) Akureyri
Imagina alguém cansado.
O dia de hoje não teve grandes eventos, fiquei no hostel comendo e dormindo. Tava muito cansado pra fazer qquer coisa e aproveitei para repor as energias. Creio que ontem, depois q arrumei a bike, veio todo o stress acumulado hoje, é interessante como o corpo da gente se comporta, pois ele viu que hoje eu podia ficar de bobeira e utilizou este dia.
A tarde passei no Jardim Botânico da cidade, fiquei bem decepcionado. Imaginava milhões de flores e cores.. mais pareceu uma horta caseira que um jardim botânico, mas pra Islândia.. ta valendo.

 Jardim Botânico #1

 Jardim Botânico #2

 Arte na rua
O resto do dia fiquei matando tempo no computador e dormindo. Sem mais por hoje.. um dia sem muitos atrativos, mas totalmente necessário.



Dia #24 (15/07/12) Akureyri – Godafoss (50kms)
Uma coisa sobre Akureyri que senti, foi uma sensação de que eu nao estava lá. Parece que os trejetos pedalados não são vividos, fica uma coisa meio vazia.. somente o fim importa, e não o meio.
Levei algum tempo para arrumar minhas coisas e parti, sem pressa, para Godafoss.. que é uma cachoeira.
O vento estava contra e havia algumas montanhas, mas estava pedalando bem e contente pela bike estar ok.
No caminho, antes de uma grande montanha, parei para tomar um café. O dono do lugar disse que pedalar a noite pode ser uma opção contra o vento..  já que ele diminui bastante la pela meia noite, e volta a ficar forte depois do meio dia. Quem sabe eu utilize esta técnica mais para frente..
Quando estava subindo a montanha encontrei a Sonia, que pedalou comigo nos primeiros dias. Foi muito legal encontrá-la e ficamos dando risada por um bom tempo na estrada. Ela falou que precisou pegar muitos ônibus, para fugir do vento na costa sul / leste. E andei vento a previsão dos ventos, creio que talvez tenha que fazer o mesmo, pois tem ventos de 160kms/h previstos. Outro fato interessante que ela comentou, foi  sobre um casal que tinha começado a pedalar conosco, mas eles desencanaram do pedal e resolveram alugar um carro... ficaram assustados com o vento.

Run to the hills - saindo de Akureyri

Após uma despedida, segui viagem, rumo ao topo da montanha. Lá em cima encontrei vários ciclistas empurrando a bike, e todos fazendo o caminho contrário ao meu. O assunto com qualquer ciclista aqui é sempre o mesmo: o vento.
Finalmente o vento deixou de ficar contra e aproveitei uns 20kms com ele ao meu favor.. tinha me esquecido que pedalar também tem esta coisa boa de ser ajudado pelo vento!
Cheguei em Godafoss e fiquei impressionado com a beleza do local.. e também com a quantidade de turistas lá! Aproveitei o tempo e fui arrumar minha barraca, preparar o almoço e dar uma dormida, pra ir visitar a cachoeira a noite, quando tiver menos pessoas.

Acampamento montado em Godafoss


Pela primeira vez fiquei meio triste na viagem, não sei o que deu, mas ficar na barraca esperando o tempo passar não foi legal. Então resolvi sair pra fotografar, com gente no local mesmo.
Fiquei umas quatro horas fotografando, utilizei muito o tripé e um filtro para escurecer a lente e poder deixar a exposição mais longa. Gostei do resultado, e apesar do frio e do vento lá.. fui a última pessoa a sair de Godafoss:






Dia #25 (16/07/12) – Godafoss – Reykjahild (lago Myvatan) 58kms
De manhã conheci um casal de Hong Kong, que estavam de jipe pela Islândia. E acampando para ter uma sensação da vida rústica. Fiquei surpreso quando o cara falou isso. Ele me contou um pouco da vida dele, que é totalmente diferente disso daqui. E assim ele conseguiu se sentir um pouco mais vivo, nem que seja por apenas 8 dias, como ele disse.
O caminho foi tranquilo, estava pedalando muito bem e a paisagem era maravilhosa, porém com muitas montanhas. Chegando no lago a beleza do local impressiona.
Saindo de Mývatn


Camping - Mývatn

Auto-Retrato
 
Após 50kms cheguei no camping, Reykjahild. Lugar bem sujo, com uma cozinha bem fuleira... por isso cobram mais caro. Também diziam que tinham internet, mas não tem. Tive que ir até uma estação de banhos quentes para consegui conectar e dar notícias para todos.
Pensei em sair e bater umas fotos, pois o tempo está bom, mas to cansado e quero ver se hoje reponho mais forças, pois amanhã  não pretendo pedalar.. mas os dois próximos dias serão duros.

Dia #26 (17/07/12) Reykjahild (20kms pelo lago)
Dormi muito bem, umas nove horas, e acordei meio baqueado de tanto dormir.
Encontrei no camping a Elisabeth, que é uma mulher que dividiu o quarto comigo em Akureyri. Tomamos um café da manhã e conversamos um pouco, ela é uma figura.. ja correu o mundo todo.
Peguei a bike e saí sentido Dimmuborgir, que é um sítio com lava sedimentada e com umas formações bem exóticas. Para mim, Dimmuborgir sempre foi uma banda, agora é outra coisa também.
Segui caminho para a cratera de um vulcão. Foi uma experiencia forte ficar ali, olhando tudo aqui.. um silêncio absurdo, fiquei imaginando como devia ser a explosão daquilo. Momento único da viagem. Fiquei impressionado com o tamanho da coisa toda, pois nem utilizando lentes de 10mm consegui enquadrar toda a cratera. 

 Dimmuborgir - estrada de terra e caminho para cratera

Dimmuborgir

Cratera


 Isso também é algo que não sei se já comentei, minhas lentes... estou apenas com uma 10-20mm e um 50mm, mas como meu sensor é cropado deve ser algo em torno de 75mm. A tele 70-300mm parou de funcionar além da abertura f/5.6 e a lente do kit 18-55mm abriu e não funciona mais. Então estou apenas com extremos, ou grande angular, ou uma meia tele. Sinto falta de 35mm, Pra enquadrar legal as paisagens e tal.. mas é algo que vou ter q aprender a viver.
Estava cansado, e fui para o camping cozinhar.. o calor estava muito forte no sol, e na sombra era frio. Depois de comer fui dormir na barraca, no calor insuportável.. mas rolou.
Acordei e fui comprar leite e uns iogurtes, pra ter um pouco de proteína e não perder tanta massa magra na viagem. Segui para o spa para usar a internet, mas não estava pegando, creio que por causa das nuvens nas montanhas.

 Em Dimmuborgir

O dia de amanhã me preocupa um pouco, pois não consegui ver a previsão do tempo.. e do vento. Se tudo ocorrer de forma maravilhosa vou conseguir fazer os 165kms que preciso pra chegar até a próxima cidade. Caso contrário, tem um camping a 37kms daqui, outro a mais 37kms,  outro a mais 50kms... então as distâncias que posso fazer são: 37, 72, 120 e 165 kms. O difícil é que não ha nenhum posto de gasolina ou suporte sem ser esses campings.. e estou na area mais seca do país, a agua pode ser um problema por aqui...
Agora estou coneseguindo conectar, por um celular dum figura daqui do spa, mas a conexao é muito lenta.. mas deu pra ver a previsão do vento.. creio que nao vai estar totalmente a meu favor, mas tambem não vai ser vento frontal.. o que é uma beleza!
A noite fui fazer uma janta na tenda do camping, uma italiana veio falar comigo: “Pesto e fussili! Isso é tão italiano!!”. Foi legal, eu tentando falar portunhol e ela italiano... no final deu tudo certo.

Dia #27 (18/07/12) Myvatn – Uma pequena vila sem nome – 115kms
Despertei às 7:00am. Estava um dia feio, cheio de nuvens.. mas não havia muita previsão de chuva. Depois de tomar um breve café da manhã (comi pão, não tava com muito estômago para um macarrão), saí de bike pela Ring Road. Pensei em comprar água numa venda da cidade, mas o comércio somente abria depois das 10am. Então resolvi sair sem, como sabia que havia muitos carros trafegando (apesar de não ter pontos de apoio na estrada) caso eu ficasse sem água era só parar um carro e pedir água.
Sabia que o trajeto seria difícil, uma das regiões mais áridas da Islândia e sem nenhum posto de gasolina ou qualquer casa no caminho.. e foi assim.
Logo que saí do lago passei por um campo de um tipo de lama quente, que ficava eclodindo do solo. Fiquei um bom tempo ali, batendo fotos e admirando. Nunca tinha visto nada igual, é um daqueles momentos que vão ficar sempre na nossa memória.

Borbulhando..



Deserto e fumaça


Atividade vulcânica


Deu uma reanimada ver aqueles campos, e segui o pedal... conforme ia pedalando a paisagem ia ficando cada vez mais desértica. Chegou num momento que achei que estava na lua, pois era tudo tão árido, sem nenhuma vegetação. A paisagem tinha um tom de cor que nunca vi antes, precisava tirar os óculos escuros pra apreciar tudo aquilo.
Numa dessas paradas, no topo de uma montanha, havia um mirante com vários carros estacionados, aproveitei e abasteci minhas caramanholas com água... que ganhei de uns espanhóis.
O vento estava bem tranquilo até então, mas depois de 70kms deu uma engrossada. Foi rock and roll... na parte mais alta do percurso ele virou contra e veio me atazanando. Tem uma técnica que sempre faço quando pedalo na ciclovia do Rio Pinheiros em São Paulo: pedalar com o rosto olhando para o lado... faz com que você não ouça o vento.. e ainda consiga ouvir a música dos headphones. Claro que o vento atrapalha, mas eu acho que na maioria das vezes ele é mais pisicológico do que real... é o baralho ensurdecedor dele que te atrasa, que faz você pedalar mais devagar.. que fica toda hora dizendo “eu estou aqui te atrapalhando!”. Comigo pelo menos é assim. Se você deixa de ouvir o vento, parece que ta em uma subida ou algo assim.
Não foi tão forte, nem perto, do vento que peguei na peninsula.. este estava pedalável.. era somente o barulho ensurdecedor dele, somado com aquele deserto que me abalou.. e perdi um pouco do rendimento da pedalada. Não tinha muitas subidas acentuadas, mas todo o trajeto de hoje foi na maior altitude que já pedalei por aqui.. entre 450 e 600 metros.. o que é bem alto para a Islândia. E praticamente somente com tons ocres e cinzas.. e sem nenum verde.

 Nada

Bike e nada

Conforme ia me afastando a vegetação rasteira começava a aparecer.. e fui ficando mais tranquilo. Agora que estou quase confortável dentro da barraca dá pra analisar melhor.. o ambiente que você está influência muito em como você pedala, pode não ser o mais difícil, mas o simples fato de não existir vida – somente milhares de mosquitos que ficavam ao meu redor e insistiam em entrar no olho – faz você perder o rendimento.

 Ponte, que é somente para atravessar
Andei pensando também sobre o aro quebrado, esses dias atrás. Pensar é o que a gente faz numa viagem dessas. Como isso pode ter acontecido? Um aro de downhill, o mais resistente de todos, (100 contos!) quebrar no asfalto sem buraco? Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito que o mundo gira em uma sintonia.. todos fazemos parte deste planeta e é preciso haver uma harmonia, um equilibrio.. e isso a gente não entende como funciona (pelo menos eu não). E andei viajando que fui eu, que quebrei o aro pra prosseguir a viagem. Pois precisava muito dar um tempo para minhas pernas e corpo depois daquele dia.. e somente no último momento o aro quebrou, quando eu estava praticamente no destino final do dia. Se o aro não tivesse quebrado, eu teria pedalado no dia seguinte, e no outro também..  e teria sido um esforço absurdo. Creio que a energia do meu pensamento ou do meu corpo, ou algo que não consigo explicar quebrou o aro pra me manter com forças na viagem. Ou estou viajando demais nessas coisas (que é o mais provável) e o aro quebrou porque era ruim!
Na vila tinha um camping bacana, 1000 kronas, o que deve dar uns 16 reais. Este é o preço dos campings por aqui.. entre 1000 e 1500 kronas. E este tinha uma piscina térmica, que aproveitei pra tomar um banho.
Peguei chuva durante o dia, o povo daqui chama de chuva, mas é uma garoa constante.. o que é muito comum nas montanhas e regiões altas do país. Dá pra ver de longe, quase toda a montanha tem uma nuvem negra ao redor. Falando em montanha, hoje avistei um dos maiores vulcões da região o ASKJA, fiquei um tempo olhando para ele.. uma montanha bela e grandiosa. Escalar estas montanhas deve ser algo sem palavras, admiro muito este povo que pratica alpinismo.

Askja (eu acho que é.. não tenho certeza, mas é uma bela montanha)

 Já que estou falando sobre alpinismo, continuei a ler o livro que comprei no aeroporto do Rio de Janeiro.. K2 – Vida e morte na montanha mais perigosa do mundo. Comprei esse livro pra ler uns relatos e fazer minha viagem de bike parecer um passeio no parque. Essa galera da alta montanha é absurda. O livro conta as histórias do K2, a segunda maior montanha do mundo e talvez a mais perigosa...  e deparei com uma frase muito bacana: O cume é opção. Voltar é obrigatório.
Amanha sigo para Egilstandir, que deve ser uma pequena cidade com pelo menos um mercado e possivelmente uma conexão de internet. São 50 kilometros, e pretendo sair cedo, pois sei que nestes próximos dias haverá uma tempestada de vento.. ou um vendaval, como diria minha vó.


Dia #28 (19/07/12) Uma pequena vila – Egilsstaðir (52 kms)
Uma garoa, que durou toda a noite, extendeu-se até minha partida. Tomei um café da manhã de bolachas Maryland com manteiga de amendoim. Simples, mas honesto.. (na verdade era a única coisa que tinha, além de miojo).
O caminho foi mais uma longa subida, com vento contra. Saí cedo, 9:45am, mas queria ter saído um pouco mais cedo, pra pegar menos vento. Já estou com alguma agilidade pra organizar as coisas na hora de partir. Mas sempre leva em torno de 1:30 até 2hs pra deixar tudo pronto, inclusive pra eu entrar no tranco.

Rio - no meio do caminho

 Depois de uns 30 kms veio uma bela descida. E com o vento quase a favor.. fiquei super feliz e não demorei muito para chegar até um café próximo de Egilsstaðir.
Fiquei umas quatro horas ali, comi um bolo e tomei um café. Uma coisa interessante da Islândia é o café refil. Voce paga cerca de 5 reais pelo café.. mas pode tomar o quanto quiser, inclusive encher sua térmica. Neste período atualizei o blog e editei umas fotos.
  Egilsstaðir


Mais 4 kms estava em Egilsstaðir, num camping bem bacana e com um mercado bem próximo. Aproveitei o resto do dia para editar mais umas fotos e planejar o roteiro para os próximos dias.
Vou fazer uma pequena modificação.. irei amanhã bem cedo (teoricamente) para o litoral. Pegarei  19 kms de estrada de chão para evitar fazer mais 65 kms no dia seguinte.. e portanto ganhar um dia de viagem. Meu pneu dianteiro é slick, mas creio que vai aguentar o tranco, mesmo que eu precise empurrar por todo o trajeto, vai ser uma boa este trajeto. Portanto não irei para Breidalsvik e sim direto para Djupivogur. Assim posso ir para a próxima cidade no dia seguinte e quem sabe ficar por lá por uns 3 dias, enquanto vai durar a tempestade de vento. Que deve começar no Domingo...


Dia #29 (20/07/12) Egilsstaðir – Dipovordur (85kms)
Despertei as 5:30am. Queria evitar o vento, que iria ser contra o dia inteiro. Parecia ser uma boa ideia, mas o vento ficou forte e contra o tempo todo. Somente quando cheguei no destino final ele parou... parecia estar brincando comigo.
A velocidade média que estava fazendo era de 9kms/h. Mas estava gostando de pedalar, tinha aceitado o fato do vento estar contra e tentei aproveitar o máximo o pedal. A chuva também me acompanhou por quase todo o trajeto, até o topo da montanha.O cenário era muito diferente, as montahas, uma nevoa e o gelo... faz a gente se sentir pequeno diante de tudo aqui, mas ao mesmo tempo fazendo parte disso tudo.
Pedalei por cerca de 40kms, então veio a estrada de terra, ainda na Ring Road. Apesar de ser de terra, estava com terra bem firme e quase sem pedras..  estava como se fosse um asfalto. A dificuldade que tive foi na subida da cordilheira, que deveria superar para chegar até o litoral novamente.

Estrada de terra


A subida foi bem íngreme, com um aclive bem acentuado, como já tinha previsto no www.bikemap.com . Foram cerca de 20kms subindo. O tempo estava bom, e conforme subia ficava mais próximo das nuvens e do frio. Foram apenas 540m de ascensão, mas para a Islândia isso é muita coisa. Como estava com as pernas bem cansadas dos outros dias, empurrei a bike em quase todas as subidas difíceis.
Lá em cima tive um dos ápices da viagem, foi muito bom estar ali e ter superado este obstáculo. Não dava para ver nada, pois estava no meio das nuvens, tinha apenas eu e as cabras ali. Estava muito feliz e cheguei até a gravar um video para eu ver no futuro, pois era um momento muito forte. O nome do passo era Oxi. Não fiquei muito tempo lá, pois estava muito frio, tinha blocos de neve do lado da estrada e o vento estava muito forte.

Passo Oxi


Um pouco abaixo das nuvens


A descida foi muito, mas muito íngreme. Cerca de 17graus em alguns trechos. Como estava com a roda de freio a disco as vezes era difícil frear, mas tudo rolou tranquilo.. estou contente que até agora não caí nenhum tombo ou algo do gênero.
Segui caminho ainda pela estrada de chão, que deve ter durado uns 30kms, depois peguei a o asfalto novamente e várias subidas e descidas. Aí veio um contra ataque.. comecei a ficar meio triste, depressivo.. o vento todo batendo de frente e sem muita energia para vencer. Creio que somente vou conseguir pedalar amanhã se o vento for favorável, que segundo meus planos será..
As colinas era muito difíceis, descia com velocidade de quase 50kms/h e quando começava a subir voltava aos 4.. 5.. kms/h. Foi um dos trechos mais difíceis da viagem, pois na minha cabeça seria algo fácil.. eu tinha me preparado para a estrada de terra, o passo.. mas não para as colinas. Outra coisa sobre este trecho foram os pontos de apoio, não existe um restaurante, um posto de gasolina.. nada ali. Mas se você precisar urgente de algo, tem umas saídas da rota principal (principalmente depois da montanha), que você pode arrumar algo.. mas aí geralmente são 10kms para ir e mais 10 para voltar.
O resultado foram cerca de 10horas de pedal, com vento contra o tempo todo. Quando cheguei na cidade fui direto para um mercado comprar comida, pois os mercados fecham às 6pm.
Armei a barraca, tomei banho, comi.. e continuava triste. Não sei explicar, mas não estava bem.. e muito, mas muito cansado.
Aproveitei que o camping era ligado a um hotel e conectei na internet pra falar com o pessoal do Brasil, foi bom ter falado com eles (eles não sabem o quanto foi!), pois fiquei melhor e preparado para dormir.
Uma coisa interessante foi uma névoa que veio em direção da cidade. Quando eram 19hs já não dava pra ver nada, somente a neblina.

 E a neblina chegando,,,