terça-feira, 26 de junho de 2012

Cicloviagem Islândia


Islândia
Dia #1 – Keflavik (22/06/12)

Camping em Keflavik - 2:00 am
 Finalmente chegou o dia.
O avião pousou no aeroporto e fui pegar a bike. Estava ok.
Em sequência fui pegar um taxi até o camping, que fica a 2kms do aeroporto.
Chegando no camping encontrei duas espanholas que também vão fazer a volta a Islândia, porém no sentido anti-horário. Muito bom poder conversar com outros ciclistas, pessoas com algo em comum.. o cicloturismo. Na verdade quase todos que dormiam no camping estavam com suas bicicletas.
Depois de encontrar um lugar para armar a barraca veio o primeiro desafio: montá-la! A barraca é nova e levei cerca de 1h para deixar tudo pronto. O clima estava frio, mas muito frio, meus dedos pareciam congelados, ai precisei colocar as luvas.. o que dificultou um pouco o processo. A sorte foi que não estava chovendo.. e o sol da meia noite estava ali para clarear  minha visão.
Dormir foi tranquilo, apenas precisei colocar um tapa-olho (que minha tia Marga me deu). Pronto.. finalmente estava passando minha primeira noite na terra dos vikings.

Dia #2 (23/06/12) – Keflavik – Vogar (12kms)
Acordei e já não tinha quase ninguém no camping. Somente as espanholas.
Fui montar a bike e descobri que tinha perdido, provavavelmente esquecido na casa do Dave, minha chave de pedal. Sorte que as meninas tinham a ferramenta com elas.
Ai foi um processo longo.. arrumar tudo, distribuir o peso pelos alforges. Levei cerca de 4hs para deixar tudo pronto. Aproveitei que estava perto de um mercado e comprei miojos e atum para almocar e estrear meu fogareiro.
Fui pedalando até Vogar, com muito frio e com a bike muito, mas muito pesada. Precisei parar e colocar umas blusas e luvas.. asim estava quente e protegido. Mas a bike continuava pesada demais. 

Vogar #1


Cheguei no Vilarejo de Vogar. Fui encontrar o Gumi (o nome real dele é algo impossível de pronunciar). Encontrei fácil sua casa e fiquei surpreso de como ele parece jovem, apesar de ter 50 anos.
Batemos um papo e mandei notícias para minha família no Brasil. Fui dar uma olhada na bike, e vi que os freios estavam presos na roda, por isso estava tão difícil pedalar! A noite comemos uma pizza e capotei. Pretendia filmar o sol da meia noite, mas coloquei o relogio para despertar às 10hs da manhã, e não a noite.. no final das contas foi uma boa coisa, pois precisava dormir.

Dia #3 (24/06/12)
Logo pela manhã tomei um café com o Gumi. Depois ele me mostou algumas de suas músicas e gravamos mais um video para o projeto dos músicos. Que está disponível aqui:


Guðmundur Jónas Haraldsson - Any day now from Victor Guidini on Vimeo.
Ai conversei com ele e passei o resto do dia editando o material que havia gravado do pessoal, e nos momentos que o computador ficava processando, ia até a praia tirar fotos.

Vogar #2

Vogar #3 - placa


Realmente é muito difícil fazer este tipo de trabalho enquanto estou viajando. É como dar uma pausa na viagem e focar num trabalho. Gosto muito de editar videos e fotos, mas é algo difícil de fazer enquanto viajamos,  pois exige muito tempo e preciso abdicar de sair para conhecer alguns lugares. Mas no final creio que é melhor assim, pois consigo conciliar duas coisas que gosto ao mesmo tempo, e é claro que este processo ficará mais fácil ao decorrer do tempo.

Dia #4 (25/06/12)- Vogar - Reykavik (40kms)
Deixei o computador processando enquanto dormia, e após tomar um café da manhã com o Gumi, mandei o video para o vimeo:
O Gumi fez alguns contatos com algums músicos de Reykjavik, e creio que vou conseguir gravá-los.
Após me despedir, o que é sempre ruim nestes casos... pois você cria um laço de amizade com as pessoas que te hospedam e ajudam, peguei a bike a parti para Reykjavik.
Finalmente estava pedalando, estava me sentindo muito bem, e o tempo estava ótimo, apesar do vento absurdo e gelado. Durante o caminho parei várias vezes para fotografar,  as paisagens aqui são magníficas.
Indo para Reykjavik #1

Indo para Reykjavik #2



No caminho encontrei alguns cicloturistas, e um polonês que não sabia falar inglês.. ele estava muito, mas muito perdido, estava pedalando na direção contrária do caminho que queria ir. Ajudei ele com meu gps e assim ele seguiu viagem.
Chegando em Reykjavik, apos cerca de 3hs de pedal, fui procurar a casa da Kasia, que iria me hospedar. Não encontrei o número da rua (mais tarde fiquei sabendo q ela tiha me dado o número errado, por engano), ai fui procurar um telefone público.. e não existem telefones públicos na Islândia. Pedi pra algumas pessoas me emprestarem um celular, mas não rolou... então tentei comprar um chip, mas não tinham chips para meu telefone. Acabei entrando numa loja, e finalmente deixaram eu ligar para ela.
Chegando na casa, tinha um pessoal lá, a maioria do leste europeu. Foi legal, um povo gente boa.  A casa está bem localizada, perto da Igreja mais famosa da islândia, bem no centro. A noite assistimos um filme e capotei  no sofá..


 Hallgrímskirkja (igreja) - Reykjavik

Reykjavik - Praia

http://vimeo.com/44793462 - Meu primeiro Time Lapse.. to aprendendo ainda!

Time Lapse - Praia de Reykjavik - Sailing Ships from Victor Guidini on Vimeo.

Dia #5  (26/06/12)Reykjavik
Fui comprar um telefone celular pela manhã, na verdade somente o chip. Uma deusa viking me atendeu, impressionante como todas as mulheres aqui são loiras e com olhos azuis. Comi uma salada e fui pegar algum dinheiro no banco.
A tarde sai para fazer umas fotos e comprar comida para fazer a noite. Supostamente iria gravar um músico hoje a tarde, mas quando estava indo para sua casa ele desmarcou.. quem sabe amanhã.

Reykjavik - Praia #2

Fui conhecer a ilha de Videy, na verdade não cheguei a ir até ela, mas pedalei até o porto. Também gravei um breve time-lapse. FIquei cerca de 1h somente olhando as montanhas, é algo que nunca tinha visto antes. Essa combinação de mar, montanhas, gelo, e sol intermitente é muito diferente.

Videy

 Pescadores

Sombra

A noite ficamos na casa e editei o time-lapse da tarde. Não curti muito o resultado, mas é um aprendizado para os próximos. Fiz um macarrão com molho pesto pro povo e depois capotamos.
O tempo, apesar de frio, está maravilhoso, dias com muito sol e nada de chuva. Não esperava algo tão bom assim. o que está sendo um grande estímulo.


Dia #6 (27/06/12) – Reykjavik
Tive alguns problemas com a máscara de dormir. Aqui é necessário usar essas máscaras para vedar os olhos, pois a claridade durante a noite é grande. Acho que machuquei os olhos com ela, ou algo assim, talvez esteja apertada demais.. vou ver está noite. Mas durante a tarde me recuperei.
Fui gravar o Haukur, ele é um saxofonista local. Estudou na Dinamarca, Bélgica e em outros lugares da Europa. Encontrei com ele ao meio dia e fomos para o lugar onde sua banda ensaia.
Chegando lá fiquei impressionado com os equipamentos, tudo do bom e do melhor. Botou no chinelo o estúdio que trabalhei no Brasil.
Gravei o quarteto, ótima música, como eles disseram.. é apenas uma música “in a sentimental mood”. A vida dos músicos aqui parece ser muito melhor do que no Brasil, como há poucas pessoas, não existe tanta competição e todos conseguem tocar bastante, mas ainda assim é necessário dar algumas aulas.
O pessoal é muito gente boa, com a idade na casa dos 40.. 50 anos. Todos já estudaram fora, dois deles na Berklee, em Boston.  É interessante como  consigo me dar bem com qualquer músico, isso parece abrir algumas portas para mim aqui. Todos acham este projeto  “nobre”.
Supostamente eu teria que gravar outro músico em sequência. Mas começou a aparecer umas nuvens feias no céu e chuva. Então resolvi adiar este encontro, caso o tempo melhore.
Na casa, o filho da Kasia está com amigdalite, e ela teve que levá-lo para o médico. O sistema de saúde aqui é gratuíto para os Islandeses, e parece que as mães solteiras recebem uma ajuda do governo, além de toda a infra-estrutura de creches.
Estou me confundindo um pouco no inglês, acho que sempre fiz isso na verdade e apenas estou me dando conta. Mas pelo menos consigo me comunicar bem com as pessoas.
Em casa comecei a editar o video do Haukur e o povo fez uma janta. Veio os colegas de trabalho da Kasia. Neste tempo o  Hordur, que é um músico daqui, me ligou e fui gravá-lo em sua casa.

Vista do telhado da casa - 12:00 am


Ele faz música eletrônica. Cheguei em sua casa e também fiquei impressionado com a quantidade de equipamentos que ele tinha. Muitos synths analógicos e efeitos. Ele toca com várias pessoas da cena local, mas o que realmente gosta de fazer é ser “a banda de um homem só”.
 Aqui estão os videos:

Haukur Gröndal - No 4 from Victor Guidini on Vimeo.

M-Band - Valiant from Victor Guidini on Vimeo.
http://vimeo.com/44877288 - M-Band
http://vimeo.com/44873013 - Haukur



Dia #7 (28/06/12) Reykjavik
Passei o dia todo num café, fazendo upload das fotos e videos. A conexão era muito boa e o lugar tinha o melhor café da cidade. Fiquei lá até 17:30, quando os funcionários começaram a colocar as cadeiras em cima das mesas, como fazem nos bares do Brasil.
Depois fui pedalar um pouco pela cidade.. gostei muito, tem ciclovia por todos os lugares, e o povo também anda em cima das calçadas. Acho legal a ideia de andar em cima da calçada, algumas pessoas em São Paulo falam que pode atropelar os pedestres.. mas isso é muito raro, muito mais fácil ser atropelado por um carro. Aqui não vi este pensamento de que a bike é algo ruim, que pode matar os pedestres e atrapalha o trânsito, muito pelo contrário. Todas as vezes que andei pelas ruas fui muito respeitado, chega a ser até desconfortável, pois as pessoas realmente esperam o momento apropriado para te ultrapassar.

Panorâmica
 Âncora
Quando estava tirando umas fotos fui atacado por um pássaro. Fiquei de cara com aquilo, ele veio pra cima de mim, peguei a bike e saí em disparada, mas mesmo assim o bicho me acertou. Sorte que estava usando capacete.

Farol

 Navio e nuvens

A noite fiz um time lapse da janela da Kassia, e ficamos esperando até a madrugada para comer um bolo que ela e uma amiga fizeram. Na verdade só fomos comer o bolo no dia seguinte, porque estava ficando muito tarde.



Time Lapse - Forming Clouds - Reykjavik, Iceland from Victor Guidini on Vimeo.


Dia #8 (29/6/12) Reykjavik – Thingvellir (66kms)
Arrumando as coisas me dei conta que perdi uma mão da luva. Fui comprar outra, mas só encontrei luvas quentes, a prova de vento, mas nao de agua, mas foi essa mesmo.
A Kassia fez um almoço, e depois de comer, parti rumo a Thingvellir. Me perdi um pouco, mas consegui sair da cidade tranquilamente, quase todas as tuas tem uma ciclovia.

Esculturas

A principal coisa que está pegando é o peso da bike, creio que devo estar levando cerca de 30kg de bagagem. Nas subidas fica muito difícil, ainda mais que minha coroa pequena da bike não está pegando direito.
O caminho foi tranquilo, mas durante o pedal começou a chover e muito. Tive que colocar minha calça pra seguir viagem, mas mesmo assim o frio era muito intenso. O clima local é muito inconstante, muda muito rápido, mas muito rápido mesmo.. em cinco minutos aparecem nuvens do além e começa a chover.
Outro detalhe são as moscas, que procurando calor, atacam você. Elas não mordem como os tabanos da Argentina, mas enchem muito o saco, fica cerca de centenas de moscas ao redor da sua cabeça... o que também atrapalha nas fotos.

E lá vem a chuva...

 Tempestades
Chegando em Thingvellir arrumei a barraca e me dei conta que o gás para o fogareiro que ganhei da Kassia não servia no meu. Então o jeito foi comer miojo cru com sardinha.
Fui para o parque fotografar, muito impressionante tudo. Aquelas imagens que antes eu via somente pela internet, e achava mágicas, realmente existiam.. e eu estava lá.

Oexarafoss #1

Oexarafoss #2
Igreja - Thingvellir

Thingvellir #1
Thingvellir #2
Montanhas - Thingvellir 12:00am

Oexarafoss #3


Encontrei um japa que mora no Canadá, o Ben. Ele também estava pedalando por uns 3 dias pela Islândia. Fotografamos o local, e como já era meia noite fui dormir, ele seguiu caminho para o próximo lago.

Dia #9 (30/6/12) Thingvellir – Geysir (67kms)
Dormi bem durante a noite. Mas acordei com um calor insuportável dentro da barraca, às 9:00am.
Conheci uns alemães no camping, estão pedalando pela Islândia sem rumo.. tem 3 semanas para ficarem por aqui, sem roteiro definido, apenas curtindo.
Quando estava saindo do camping outra ciclista alemã veio falar comigo, a Sonja. Como estavamos indo para o mesmo caminho, pedalamos juntos durante este dia. Ela ficou abismada com o peso que to levando..
O sol estava brilhando no céu e não pegamos chuva. A compania de outro ciclista é sempre boa, da pra ir trocando uma ideia. A única coisa que estava sentindo era as pernas, que ainda não estavam acostumadas com tanto peso, alem de que passei os últimos 15 dias praticamente sem pedalar.

Sonja

 Chegamos depois de uns 30kms até Laugvartn, onde comemos algo e eu consegui comprar gás para meu fogareiro, assim como pão, presunto e outras coisas..
Seguimos rumo a Geysir, que é uma pequena vila famosa pelos seus geisers. O corrego do lado da cidade tem água na temperatura de cerca de 80-100 graus C. A estrada era maravilhosa, sempre cercados de belas paisagens.

Geysir #1

Geysir #2

Geysir #3

 Depois de montarmos acampamento, seguimos para uma piscina com água vulcânica, na temperatura de cerca de 40 graus. Tava precisando daquela água quente, ajudou muito e dar uma relaxada nas pernas.
A noite fomos procurar internet, tem gratuita no hotel do camping, mas ela pega de vez em nunca. Conexão muito ruim... mas no meio do nada, já é algo.
Cozinhamos um macarrão e depois fui bater umas fotos dos geisers, acabei fazendo um time lapse e conhecendo uma fotógrafa da National Geographic.
A previsão para os próximos dias é de chuva. Creio que vou ficar em Geysir mais um dia, aproveitando que o camping faz parte do hotel, então posso ficar editando o material que tenho capturado até então. Amanhã também pretendo ir a Gullfoss, que é o lugar mais visitado da Islândia. Mas para evitar as hordas de turistas vamos partir cedo pela manhã. São apenas 10kms até lá, e mais 10 para voltar ... com a bike sem mala.

Londres


Estou escrevendo este post de dentro do avião para a Islândia.
Tive uma ótima semana em Londres, talvez uma das melhores. Não esperava tanto da cidade, na real achava que devia ser semelhante a  São Paulo.
Do início:
Passei uns bons dias, antes de embarcar para Londres, numa ansiedade grande. Muitas coisas não estavam dando certo .. mas no último momento tudo deu certo.
Tenho que agradecer minha tia, a Marga, por todo o apoio que me deu.. desde me aguentar no telefone até me levar no aeroporto.
A chegada em Londres foi com muita expectativa... primeiro estava  apreensivo de como levar a bike no avião, depois  quanto a imigração e depois se a bike tinha vindo inteira. Deu tudo certo. Quando fui pegar a bike encontrei um rosário preso no guidão.  Fiquei feliz e surpreso em ver aquilo... e pensando quem poderia ter colocado aquele rosário, o que passou pela cabeça da pessoa naquele momento. De qualquer forma, guardei ele. Não sou uma pessoa religiosa, mas estou levando-o comigo.  

Bike e rosário

Saindo do aeroporto, precisava pedalar até chegar numa estaçao de metro que permitisse  levar a bike.  Quando fui dar as primeiras pedaladas a corrente da bike caiu, na hora não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas somente conseguia pedalar na primeira coroa da bike.. é como se fosse a primeira marcha de um carro. E assim fui lento e adiante, pedalando na mão contrária Inglesa ...  as vezes me perdia, ai pegava informações e voltava ao caminho certo. A maior dificuldade foi pronunciar o nome das estações e ruas em Inglês, pois meu inglês nao é nada britânico. Creio que rodei o dobro dos kms, por causa dessas “perdidas”.
No metro foi tranquilo, quase não precisei subir escadas com a bike. Cheguei na casa do Adam, que conheci no warmshowers.com, depois de umas 4hs de ter chegado no aeroporto. Ai fomos num pub e conheci a galera local, depois que o pub fechou, fomos para casa e continuamos no wisky. Eu não estava entendendo quase nada do que falavam, mas conforme o wisky ia fazendo efeito chegamos até a discutir os filmes do Tarkovsky.
Dia seguinte, após uma breve ressaca,  fui atrás de uns equipamentos pra bike e roupas a prova d’agua. Tudo muito difícil de encontrar. Acabei passando pelo Big Ben  e o parlamento neste dia. A noite, arrumei a bike - de alguma forma, entortaram as coroas da relação nos aeroportos, mas nada que um alicate não resolvesse.

London Eye e Big Ben

Londres #2

Big Ben #3


Terça feira fui atrás de mais equipamentos  e encontrei uma amiga de Blumenau no pub, assistimos Inglaterra x Ucrania pela eurocopa. Alguns Ingleses são muito fanáticos por futebol.  Fazia cerca de 10 anos que não via ela e foi muito bom reve-la. Na casa a noite fiquei falando com o Dave sobre os navegadores Ingleses do início do século passado, principalmente Schackleton, e ganhei um livro dele..  sobre uma cidade perdida, na amazônia.
Na quarta eu teria que encontrar meu antigo professor de guitarra. Mas acabei me atrapalhando com o fuso horário e perdi a hora. Ai peguei a bike a fui pedalando até a Abey Road, que é uma rua e um estúdio, famosa por ser a capa do disco de mesmo nome dos Beatles. Aproveitei que estava lá e pedi para uma pessoa  bater uma foto minha atravessando de bike a rua.

Abbey Road - de bike

A noite encontrei um amigo de Floripa, o Denis. Guitarrista, que estudou comigo na Udesc, gravamos um video para o projeto sobres músicos que estou fazendo. Os videos do pessoal de São Paulo, assim como este e os próximos da para ver aqui:
http://vimeo.com/44627855- Denis

 Depois gravarmos o video.. fomos para o pub, claro. E lá tive uma aula sobre cerveja, ministrada pelo grande cervejeiro Denis.
Quinta feira fui visitar o British Museu, fiquei abismado com a quantidade de informação ali.. e principalmente em como foram parar ali! Impressionante como os Ingleses roubaram todas aquelas peças e levaram para Londres. Até a mumia da Cleopatra tá em Londres, fiquei meio noiado com esses lances do Imperialismo Inglês. Depois fui com o Dave numa loja, pra pegar uma caixa para a bike, pois na Iceland Express preciso embalar a bike. A noite fui ver, num cineclube de ciclismo organizado pelo Adam, um filme que dois espanhois amigos dele  fizeram sobre Equitos, no Peru. Interessante mesmo foram as perguntas das pessoas no final do filme, impressionadas em ver como aquele povo vive.. para nós no Brasil, algo comum.

British Museum

Sexta feira gravei o Peter, um músico Londrino. E fiquei nos últimos preparativos para a trip. Consegui colocar toda a tralha dentro da embalagem da bike, que ficou extremamente pesada. O Adam me ajudou com a caixa e a embalagem. Estava muito ansioso. O Dave me levou até a estação para pegar o trem até o aeroporto. Carregar a bike na caixa foi muito difícil e acho que seria meio impossivel sem aquele carrinho para transportar a bike que o Dave me deu.

http://vimeo.com/44869134 - Video do Peter
Não pedalei muito. Creio que cerca de uns 80kms apenas. Minhas pernas provavelmente  vão sentir um pouco quando pedalar na Islândia. Mas pelo pouco que pedalei, vi o quanto o povo Londrino anda de bike. Pode parecer bobo, mas me dava orgulho de ver tantas bicicletas na rua, estacionadas nos postes e grades. Outra coisa muito legal é o respeito que os motoristas tem pelos ciclistas. Dão passagem, esperam, ultrapassam distante.  Acho que tomei uma “fina” apenas,  em São Paulo  acontece a cada instante. Quando tava andando de carro com o pessoal da casa, vi como os motoristas se comportam: realmente esperam aqueles cinco segundos para o ciclista passar, mudar de faixa, não buzinam..  nunca tinha visto ninguém dirigir assim e realmente funciona. Não são estes cinco segundos que você fica atrás de um ciclista esperando a passagem que vão fazer você driblar o trânsito e chegar mais cedo.  Pela primeira vez vi uma cidade não feita somente para carros, e sim para pessoas.

Adam
 Dave

Goste muito da cidade, mas principalmente das pessoas que encontrei. Ter ficado naquela casa com certeza foi algo muito bom. A casa era um antigo pub, que o Dave comprou uns 20 anos atrás. Moram 5 pessoas lá. São todos vegetarianos e na casa não entra carne. Vem gente do mundo todo passar uns dias ali e a troca de informações entre as culturas é muito rica. Todos são extremamente solícitos e tanto o Dave quanto o Adam me ajudaram muito, mas muito mesmo. Fiquei impressionado como foram legais comigo. Ver a Iu e o Denis também foi muito bom.  Com certeza estas pessoas são o que mais sentirei falta de Londres.
Bem, é meia noite, hoje é solsticio de verão, a noite mais longa do ano... não escureceu e provavelmente não verei uma noite escura pelos próxmos 49 dias.

 Trambolho dos infernos


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Islândia - Preparativos e devaneios...


Finalmente.. a Islândia.
Desde que conheci o Google Earth quis conhecer a Islândia. Passava horas olhando as fotos dos lugares, os caminhos.. cheguei a fazer uma cotação de quanto sairia para alugar um carro para percorrer o país. Estava bem certo que iria passar minhas próximas férias conhecendo o país, de carro, isso em 2009.
Neste mesmo tempo redescobri a bicicleta como meio de transporte. Acabei fazendo umas pequenas viagens e um novo mundo surgiu para mim.
Viajar de bike era muito mais demorado, cansativo.. mas ao mesmo tempo era o único meio de transporte que me levava a realmente conhecer um lugar e as pessoas. O contato com o mundo é outro. Você realmente percorre o caminho, independente de uma máquina ou motor mas sempre dependente das outras pessoas, da natureza e do mundo. Se chove demais você não consegue pedalar direito (apesar que minha experiência na Estrada Real ir ao contrário deste pensamento), muito vento te atrasa, o sol te frita... mas isso tudo faz parte do lugar, do mundo. Dentro de um carro você não sente o mundo. E as pessoas, sem elas isso não valeria a pena, pois as vezes uma palavra, uma história, um copo de água, uma travessia de canoa ou um pouso fazem a gente ver que as pessoas são boas e que nossos preconceitos e medos são os grandes entraves do mundo.
Teve alguns acontecimentos na minha vida muito importantes para esta escolha.. O primeiro dá pra dizer que foi minha infância no interior de Santa Catarina. Eu vivia com meus amigos e primos no meio do mato.. Xanxerê, Modelo e Orleans eram ótimas cidades para uma criança crescer... até já criei patos dentro de casa. (que depois viraram uma janta.. mas essa é outra história).
Agora moro em São Paulo e apesar de trabalhar com o que gosto (música, foto e video) acabei em um estúdio.. era um ambiente fechado, isolado e muito mal aproveitado. Isso me rendia muito tempo livre/útil, ai comecei a ler os livros do Amyr Klink e através dele descobri “ A Incrível viagem de Shackleton” do Alfred Lansing. Aí vi o quanto estava me distanciando de eu mesmo..
A ideia agora era ter um veleiro, mas logo foi abandonada.. talvez por preguiça ou pela ansiedade de precisar sair dali urgentemente. Foi ai que digitei no Google “volta ao mundo de bicicleta”.. e encontrei o site do Antônio Olinto e do Arthur Simões.. e vi que realmente era possível percorrer grandes distâncias de bicicleta.
Alguns dias depois comprei uma bike e desci pro litoral com meu amigo Luiz Cazati. Foi um estrago na minha mente, como era possível ter chegado até ali? E de bicicleta???
Comecei a descer até Santos toda a semana.. e resolvi fazer minha primeira viagem sozinho até Paraty. Depois fui até Curitiba e nas minhas férias fui de Vitória-ES até Salvador-BA pedalando.
A Islândia sempre na minha cabeça, mas por “n” motivos tive que abortar a ida no ano seguinte.. e acabei indo para a Estrada Real, de Diamantina até Paraty - na época de chuvas.
Percorrer a Estrada Real nesta época foi um desafio grande, a quantidade de lama que peguei no caminho era desconcertante. Hoje olhando para trás, vejo que a Estrada Real foi uma grande sala de aula, e acho que só depois dela fiquei melhor preparado para a Islândia.
A Islândia é uma pequena ilha no Atlântico Norte, um pouco abaixo do círculo polar com cerca de 320 mil pessoas vivendo nela. Lá quase não crescem árvores e é o pais mais jovem da Europa (geologicamente falando). A capital é Reykjavik e junto com Akureiry são as duas únicas cidades que consigo pronunciar os nomes.
Em 2010 comecei a estudar fotografia e isto é uma das coisas que me atraem por lá, pois creio que deve ser diferente de tudo o que eu já tenha visto antes.
O roteiro que tenho em mente é o seguinte:

Londres 17-22 (junho)

Islândia
Airport- reykjavik (55kms)
1-2-3 Reykjavik
4-5 Reykjavik thinkvelir - (55kms)
6-thingvelir - laugarvatn - 30kms
7-laugarvatn - gulfoss -40kms
8-gulfoss - selfoss - 70kms
9-selfoss
10-selfoss - medhalfsvatn - 67kms
11--medhaflsvatn - akranes -63kms
12-akranes-bogranes - 45kms
13-bogranes - eldborg -52kms
14-eldborg - arnastapi - 78kms
15-arnastapi - orlafsvik - 50kms
16-olafsvik-stykkisholmur -62kms
17-stykkisholmur-burdardalur 86kms
18-burdardalur-hrutafjordu-60kms
19-hrutafjordu-Bloenduos 70kms
20-Bloenduos
21-Bloenduos-Vamahlid 50kms
22-Vamahlid-Akureiry (95kms)
pode ser feito em dois dias
23,24,25-Akureiry
26-Akureyri-Godafoss (50kms)
27-Godafoss-Reykjahild (50kms)
28-29-Reykjahild-Egilsstadir 164kms
Fica bem habitado depois de uns 90kms
30-Egilsstadir - Breiodalsvik (80kms)
31-Breiodalsvik-Djupivogur (65kms)
32--Djupivogur-Joekulsa I Loni (74kms)
33-Joekulsa I Loni - Hoefn (34kms)
34-Hoefn
35-Hoefn - Vagnnsstaoir (55kms)
36-Vagnnsstaoir - Hof (63kms)
37- Hof - Skaftafell (22kms)
38 - Skaftafell
39 - Skaftafell-Kirkjubaejarklaustur (70kms)
40- Kirkjubaejarklaustur
41 - Kirkjubaejarklaustur – VIK 75kms
42-vik
43- vik - Hvolsvoellur (82kms)
44- Hvolsvoellur - Selfoss (50kms)
45- Selfoss - Thorlakshofn (30kms)
46- Thorlakshofn-Grindavik (60kms)
47-Grindavik
48- Grindavik - Airport (40kms)

O roteiro na verdade já mudou um pouco, pois sei que irei gravar um músico em Keflavik no primeiro dia.
Falando nisso, este é outro ponto da viagem.. fazer gravações e entrevistas com músicos do país. Como venho fazendo aqui no Brasil:
Será uma viagem bem diferente do que estou habituado a fazer, pois estarei acampando quase todos os dias, cozinhando.. já que os preços de hotéis e restaurantes da Islândia são abusivos para este ciclista.
A principal dificuldade de lá é o tempo.. uma tempestade surge em poucos minutos, assim como os fortes ventos, que as vezes chegam a mais de 100kms/h.
Em compensação existem vulcões, geleiras, fiordes, geysers, montanhas, praias de areia vulcânica, montanhas e muito gelo.
Escolhi esta época do ano pois as temperaturas estão mais amenas, creio que a maioria do tempo a temperatura vai ficar entre 5C e 15C. Salvo alguns lugares pro interior. Outro detalhe interessante é o tempo de duração dos dias, que chegam a cerca de 22 até 24hs com luz solar, com muitas vezes mais de 8horas da “golden hour” que é aquele momento que a luz solar está “muito boa” para fotografar. (Em torno das 4-6pm aqui no Brasil.. ou de manhã quando o sol nasce).
A rota escolhida é basicamente a Ring Road, que é a estrada que contorna a ilha. Porém na região da capital vou desviar da Ring Road, entrar um pouco para o interior, percorrer o Golden Circle, assim como ir para a peninsula de Reykjanes e percorrer um pouco o Oeste, até a região de Snæfellsjökull. No mais meu roteiro está com uma quilometragem razoavelmente baixa, dando alguma liberdade para ir para outros lugares além dos descritos no trajeto, ou passar mais tempo nos que eu achar melhor (ou ficar preso por causa do mal tempo).


"Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir" Amyr Klink