Depois coloco mais imagens da cidade..
Acordei cedo, com aquele frio na barriga. Arrumei os detalhes que faltavam e segui pedalando para o Aeroporto de Congonhas. O pessoal da TAM foi bem atencioso, e só precisei murchar os pneus para despachar a bike. Todo o peso da minha bagagem, incluindo a bike, deu 23kg e não precisei pagar excesso de bagagem. Levei as coisas pesadas no alforge de guidão, como bagagem de mão, e deixei para comprar coisas tipo comida e pequenos detalhes em Vitória.
Fui o último a entrar no avião, fui de Van.. “Última Chamada”.
Em Vitória tive problemas com meu pneu traseiro.. ficava soltando ar pela válvula e a cada km tinha que parar para encher, fiz isso umas 5x, já que estava com preguiça para trocar a câmara. Num desses pit stops um borracheiro me emprestou uma chave de válvula e consegui resolver o problema e seguir rumo para procurar um hotel.
Pouco tempo depois já estava no centro e consegui um hotel por um bom preço e com café da manhã incluído. Saí para comprar algumas coisas que faltavam pra trip e comi num lugar muito barato, com um rango mto bom.. que o gerente disse pra eu esperar pq tinha feijão saindo em 10 min.
O rango me derrubou e tive que dar uma dormida. Quando acordei fui pedalar pela cidade, fui no Morro da Fumaça e dei uma volta contornando a ilha. Curti a cidade, com uns morros bem grandes no meio e um belo visual do mar. Porém como toda a cidade grande, com contrastes extremos de classes sociais.
A noite fui tomar uma e comer alguma coisa, num bar que tocava uns sons legais, pra encerrar este dia que estreou a viagem com o pé direito.
Dia 2: Vitória – Aracruz (praia dos padres) – 75kms
Comecei o dia com o café da manhã bem safado do hotel: pão, margarina e café. Bem, pelo preço que paguei no hotel não dava pra esperar algo mto além disso.
Saí cedo, e passando pela parte mais “rica” da cidade, com umas avenidas largas e bonitas. Hj é 7 de Setembro, e passei por alguns desfiles durante o percurso. Encontrei o aeroporto de novo, mas agora estava no sentido oposto... indo para o município de Serra. Permaneci pouco tempo na BR-101, entrei em direção das praias e segui o caminho por ali.
Serra
Fui ouvindo uns sons, no início coloquei um Pantera.. e a velocidade que eu pedalava subiu muito... até que resolvi mudar para algo mais leve, pra poupar as pernas e entrar mais no clima da bela paisagem que percorria.
Quando cheguei nas praias de Aracruz.. Santa Cruz, Formosa, etc... perguntava para as pessoas sobre um camping no local, e elas nem sabiam o que era um camping, achei estranho aquilo. Uma menina disse pra eu ir falar com os índios, que eles deixavam as pessoas acamparem na reserva.. fui na reserva e não encontrei nenhum índio.. estariam extintos? Resolvi pedalar mais um pouco até que fui perguntar nas pousadas sobre camping, e a dona Penha, da Pousada dos Padres, me indicou um camping na Praia dos Padres.
O camping estava quase vazio, somente uma família acampada. O pessoal que cuidava do local era bem peculiar, pareciam não fazer muita coisa e tudo era muito lento. Foi bom isso, assim ia me desacelerando do clima de São Paulo e entrando em outra “vibe”, que será necessária para esta viagem ocorrer bem.
Comprei álcool e montei um fogareiro com duas latinhas de refri, cozinhei um rango e depois fui pra praia. De noite, quando estava escrevendo na barraca, a família que tb estava no camping me chamou para comer com eles. Um belo macarrão.
Almoço
O pessoal era de Vitória e ficaram impressionados com alguém viajando de bicicleta. Foi legal conversar com eles, deu pra ver que conforme a conversa ia progredindo, a cabeça deles ia abrindo e começando a questionar vários dogmas.
Dia 3: Aracruz – Linhares – 83kms
Acordei cedo, cozinhei um macarrão com salsicha no super fogareiro, me despedi da família acampada e peguei a estrada.
Parei para me alongar e tomar um café numa padoca na beira da estrada e senti que precisaria descansar amanhã.
O visual mudou durante este pedal, toda a vegetação da região é composta de árvores para matéria prima de papel, pinheiros que não deixam mais nada no solo crescer... além de outros pinheiros.
Passei pela gigante fábrica da Aracruz Celulose (Fibria) e vi para onde iam todos aqueles caminhões com madeira. Ali tinha um cheiro muito ruim, assim como um clima de apocalipse com as chaminés expelindo uma fumaça que encobria todo o céu.
Aracruz Celulose
Creio que mais da metade do caminho da ES-010, dali até a BR-101 é basicamente de caminhões transportando madeira. Não encontrei nada por uns 30kms, nem uma vendinha pra comprar água.. somente pinheiros.
árvores para abate
O caminho era difícil, com uns vales e montanhas muito bruscos, por causa dos lagos que correm ali. Levei um tempo pra pegar o jeito de passar por estes obstáculos: pedalar muito na descida pra conseguir ultrapassar o morro seguinte embalado com uma marcha alta.
Na BR-101 almocei num restaurante que tinha Emas, que eram a atração do local. Comi uma pamonha e quando fui pegar a estrada vi que meu pneu da frente estava vazio... fui para uma sombra e remendei o pneu para prosseguir os 35kms distantes até Linhares.
O vento contra tava bem forte, levei 2hs pra fazer este trajeto até chegar em Linhares.
Logo na entrada, dá pra ver a ponte que caiu na cidade, sobre o Rio Doce.
Rio Doce e a ponte destruída
Fiquei procurando um hotel barato na cidade até encontrar um que hospeda basicamente trabalhadores da construção civil que vem trabalhar na cidade.
Troquei uma idéia com o pessoal do hotel e fui comer, a noite tentei ver TV na sala do hotel, mas o aquário de peixes do lado da TV fazia tanto barulho que desencanei e fui dormir.
Dia 4: Linhares - 29kms
Acordei, comi um bom café da manhã e segui para a Lagoa Juparanã.
A Lagoa é muito grande e tem um belo mirante. Fiquei um tempo ali, olhando aquilo e pensando. Esqueci de trazer a base do suporte do tripé, então não rolou filmar mta coisa de movimentos de câmera, mas acho que consegui bons takes. Conversei com o pessoal dos passeios de barco ali, mas achei caro, pq tinha somente uma pessoa, eu no caso. Isso vai ser um problema durante toda a viagem, já que viajo fora de temporada.
Lagoa Juparanã
O vento contra de ontem parecia ter mudado de sentido, e ficado mais forte, isso é um ótimo fator para o pedal de amanhã.
Almocei num lugar por quilo muito barato.. 9 reais o quilo, e com comida boa. É nessas que a gente vê o quanto São Paulo é uma cidade cara. Rolou uma situação bem peculiar no restaurate, quando eu pedi pro cara uma água, e ele veio com um copo com água, nada de água paga... ah se todos os restaurantes fossem assim. No hotel lavei umas roupas, lubrifiquei a bike e fui para uma Lan House para ver o melhor caminho para o destino de amanha: Itaúnas ou São Mateus.
Fiquei com 2 planos: ir até Pontal do Ipiranga e seguir pela estrada de terra até São Mateus ou Guriri... ou pedalar pela BR-101, caso o vento continuasse a favor e chegar nos mesmos destinos.
Dia 5: Linhares – Itaúnas – 166kms
Tomei um café da manhã bem reforçado, e sai pedalando na chuva. Tive que colocar minha capa de chuva, que tive que tirar e colocar várias vezes durante o dia. A região tb tem muitos pinheiros, ali tb existe o maior deserto químico do mundo, do vale do Suruaca.
Deserto do Suruaca
O vento estava a favor, então meu rumo foi pela BR-101. Muitos vales e morros, nada muito plano, mas fez o trajeto ficar bem divertido.. o que provavelmente seria um inferno com o vento contra. Consegui manter uma média de 23kms/h e as 13hs estava em São Mateus, então resolvi tocar até Itaúnas. Conversei com um ciclista, que também já tinha viajado de bike, e ele me deu as coordenadas.
Tudo certo... pedalando tranqüilo, com tempo, iria ganhar um dia na trip.. e encontrei uma placa dizendo Conceição da Barra, o lugar que teria que entrar. Fiquei um pouco na dúvida, já que não tinha seta dizendo pra onde.. mas entrei, por uma estrada no meio dos Pinheiros.. muitos pinheiros...
Segui tranqüilo, pois sabia que era uma estrada de chão, pelo menos era o que me diziam. Até que encontrei uma bifurcação.. e outra.. e outra... e cheguei no fim do caminho. Voltei e tentei seguir a estrada mais larga, e acabei chegando no fim dela também. Ninguém passava pela estrada desde que eu tinha entrado nela. Eu definitivamente estava perdido. Resolvi voltar, já tinha pedalado uns 15 kms, e fui seguindo a trilha que a bike tinha deixado.. até que cheguei num ponto que não tinha mais rastro. Porém tinha uns caminhos de cupins, que cortavam a estada, e a bike sempre quebrava eles.. era só ver qual dos caminhos tinha os caminhos dos cupins quebrados e voltar por eles. No final, os cupins já haviam reconstruído os caminhos, mas eu lembrava do caminho e consegui retornar a BR-101. Malditos pinheiros...
Perdido nos pinheiros...
Pedalei adiante e encontrei a entrada.. uma entrada bela e asfaltada. Já era tarde, as 16:45 e apressei o pedal pra chegar em Itaúnas, pois não queria pedalar a noite.
Tinha uns 15kms de asfalto e 22 de estrada de chão, foi tranqüilo o percurso, ainda mais depois do que passei nos pinheiros da Aracruz Celulose, porque sempre aparecia gente ou carros, e cheguei em Itaúnas as 18:15hs, com as pernas cansadas, mas inteiro.
Procurei camping e encontrei uma pousada por 30 reais pelas duas noites. Só fiquei meio receoso com as formigas gigantes que andavam na cama, mas vi que elas eram pacificas.
Fui comer um PF, que foi o maior que já comi em toda minha vida.. e capotei no quarto, dormindo abraçado a uma bela formiga.
Dia 6: Itaúnas – sem pedalar hj!
Fui conhecer a praia e descansar um pouco hoje. Fiquei meio decepcionado com as dunas, imaginava algo mto grande... são bonitas, mas não muito largas.
Dunas e Itaúnas
Encontrei as ruínas da antiga vila de Itaúnas. Hoje somente da pra ver os restos de uma Igreja e dum cemitério, todo o resto foi engolido pelas dunas, fiquei também bem decepcionado, já que não dá pra ver quase nada, só uns tijolos mesmo.
Os restos da Igreja
A praia vale a pena, fiquei um bom tempo ali, pensando e curtindo tudo aquilo, que tem um dos céus mais bonitos que já vi. O vento estava a favor do meu percurso de amanhã, e os pescadores diziam que iria continuar.. fiquei muito feliz.
Itaúnas
Quando voltei pra cidade fui almoçar, no mesmo PF de ontem. Só que veio maior ainda.. ontem tinha faltado a porção de macarrão.. absurdo a quantidade de comida. Comi e fui pro quarto agonizar o resto do dia, com a sensação daquele bicho se contorcendo dentro de vc.
Depois fiquei na rede ouvindo um som e vendo o movimento da cidade. É muito nostálgico ver essas cidades pequenas, já que cresci numa cidade assim. Pra mim era algo muito imenso, com muita coisa pra fazer na época, hoje a cidade não mudou, somente os olhos de quem a observa. Hoje também foi o dia mais sozinho que tive durante a trip, foi uma coisa boa.
Faltava conhecer o forró da cidade, A Toca do Tatu, por estar fora de temporada não havia ninguém, então tomei uma com o povo do bar da frente, que jogava sinuca e pembolim.
Dia 7: Itaúnas – Mucuri – 45kms pedalando pela areia da praia
Às 8:30 já estava saindo pro pedal do dia, ia ser pouca coisa, e até planejava ir até Nova Viçosa, que é a cidade adiante de Mucuri.
A primeira coisa que percebi foi que o vento tinha invertido, estava contra mim. Depois quando passei pela trilha dos pescadores para chegar até a praia, vi que a maré tava alta e a areia muito fofa. Toda minha expectativa de pedalar livre e solto, com os cabelos balançando no vento tinha ido pro brejo. Eu fiquei com raiva, tinha que empurrar a bike por muitos trechos, já que estava pesada e atolava.. e a velocidade máxima que conseguia era de 9kms/h.
Obstáculos vencidos...
Lembrei do Amyr Klink, quando perguntaram pra ele se ele não se arrependia de fazer algumas viagens e ele disse: quando bate o arrependimento é sempre tarde demais. Hj o dia teve isso...
O pedal foi um grande aprendizado neste dia, talvez o maior de todos. Aprendi a respeitar muito a natureza, não tem como ir contra ela. Eu já sabia isso, mas hj tive que viver isso. E principalmente aprimorar a habilidade de mudança de estratégia durante um pedal.
Encontrei um pescador em Riacho Doce, que dizem ser uma das praias desertas mais bonitas do Brasil, que me disse que até Mucuri faltavam 30 kms. Passei por muitas falésias e por lugares totalmente diferentes do que eu já tinha passado antes.
Ainda não sei bem o que são essas pedras brancas
Falésias
Passei por Costa Dourada e encontrei um bar e algumas pessoas comendo ali. Comi umas bolachas e me reabasteci de água para uns 2 dias e segui o caminho, atravessando dois rios, bem rasos, mas que foram difíceis de passar, já que a bike atolava com o peso.
40kms de solidão
Depois de quase cinco horas pedalando cheguei a barra do Rio Mucuri e um pescador me ajudou a atravessar a bike no rio. Encontrei um hotel, fui conhecer a cidade e me informar do melhor trajeto para chegar até a cidade de Caravelas... uns diziam que era pela BR-101 outros que era por uma estrada de chão. Acabei optando por uma terceira opção, que foi uma das coisas mais legais desta trip, mas isto fica para os relatos da semana que vem.
Parabéns pela bela viagem.
ResponderExcluirBreve estarei passando por ai.
Um fraterno cicloabraço,
Lauro
www.ya.com.br
Muito legal sua viagem! Esou na expectativa da semana que vem.
ResponderExcluirDormir abraçado a uma formiga foi muito legal!
Lauro e Waldson...
ResponderExcluirvaleu pela visita, é uma honra a visita de vocês!
abs e bons pedais!
parabens pela trip amigo. Muito bom!
ResponderExcluirRelatos muito bacanas, hahaha! Obrigado por postar, estou planejando cicloviagem semelhante.
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