sábado, 21 de julho de 2012

Cicloviagem Islândia - Parte 4


Dia #30 (21/07/12) Dipovogur – Hofn (105kms)
Acordei naturalmente às 7:30, comi o miojo, tomei café e piquei a mula.
Logo no ínicio vi que o vento estava a meu favor, pela primeira vez na viagem.. fiquei muito, mas muito feliz! O trajeto tinha algumas montanhas, mas nada de muita dificuldade. São aquelas montanhas que você desce a 50kms/h e sobre a 5..
O trajeto não tem pontos de apoio, porém depois de 70kms existe um albergue ou algo do gênero, creio que dá para conseguir algo ali. Existem muitas casas de fazendeiros no caminho, numa emergência também da pra dar uma conferida.
A chuva me acompanhou por todo o trajeto, inclusive com uma neblina constante. Foi uma pena, pois não dava para ver direito os fiordes, nem fotografá-los.. mas faziam um cenário muito assustador, tipo “O Senhor Dos Anéis”.

Fiordes


Tive que pedalar sem parar, somente parava por cerca de 5min para comer algo, pois o frio era tão forte que para voltar a pedalar doía o corpo todo.. então adotei a filosofia do devagar e sempre.
Não cansei tanto no trajeto, bem menos que ontem, creio que meu corpo está se recuperando bem depois de cada pedal. Encontrei uma boa fonte de proteínas num yogurte daqui, que é barato também.. então a alimentação ta bem equilibrada.
Depois de 7 horas de pedal cheguei a Hofn. Missão cumprida.. bastava agora ir no mercado me abastecer para o dia de amanhã, comer, tomar banho e conectar um pouco na net, para dar parabens pro meu pai, o Seu Olinto, que faz aniversário hoje!!
Amanhã vai ter uma tempestade por aqui, na real o tempo já está bem feio.. o dia todo esteve assim, porém os ventos amanhão serão muito fortes, tem até um aviso no site do tempo da Islândia:  http://en.vedur.is/


 O trajeto feito até hoje


Dia #31 (22/07/12) Hofn
Tava precisando dum dia sem pedal e este dia foi perfeito para isso. Choveu a noite toda, uma chuva constante que com o vento ficava com cara de temporal. Fiquei contente que a barraca passou no teste da tempestade, não entrou água, somente o normal e a condensação.
Conheci um italiano que estava viajando o país somente pedindo carona. Já yinha feito isso em vários outros lugares da Europa, mas disse que quando foi para a América do Sul mudou de idéia e começou e pegar ônibus.
Saí para procurar um lugar para conectar na internet e quem sabe passar o dia num lugar quente e confortável. Encontrei um hotel que cobrou cerca de 5 reais pela conexão. Mas depois de umas duas horas me mandaram embora, pois falaram que estava chegando gente..
Isso foi algo que senti nessa cidade, Hofn, o povo ali é muito mercenário, pensa muito em dinheito. No camping tudo é pago: usar tomada para carregar telefone, internet.. até o chuveiro funciona com moedas.
Fui preparar algo para comer, no camping, tentei conectar na internet mas estava com muitos raios e o céu fechado demais.. assim a conexão fica muito lenta. Depois fui para um café, onde ficaram me trocando de mesa até me mandarem embora.. as pessoas iam lá para comer e gastar muito dinheiro, e eu só tomei uma cerveja.. talvez a mais cara da minha vida, uns 16 reais.
Após ser expulso, um segundo depois que minha cerveja terminou, fui para o camping. Conversei com um casal de espanhóis que estava pedalando também. Já haviam pedalado por toda a China e o Tibet, por cerca de 8 meses. Ë interessante viajar e conhcer essas pessoas pois vemos que os sonhos são possíveis e que as pessoas realizam seus sonhos. Ficar em casa, na nossa zona de conforto, sem nada novo, nada desafiador, muitas vezes pode ser ruim.. pois acabamos não vivendo, apenas procrastinando o que deveria ser a vida.
Os espanhóis me deram uma boa dica de lugar para ficar amanhã. Um lugar para acampar, do lado de um glaciar.. será a primeira vez que acampo sozinho sem estar num camping ou com mais pessoas. Porém me falaram que não há nada até chegar lá.. então preciso comprar comida e até água para ficar este dia no lago do glaciar.
Dia #32 (23/07/12) Hofn – Fjarllson (lago) – 90kms

Muita água hoje..
 
Muita chuva durante a noite e acabei não dormindo muito bem, acordando direto. Levantei, arrumei as coisas, tomei um café reforçado e segui – embaixo de cuva e muito vento- para o meu destino.
O caminho foi bem tranquilo, com retas intermináveis e com alguns pontos de apoio.. como restaurantes e um posto de gasolina logo após Hofn. Sempre que aparecia um posto eu acabo parando e comendo algo.. por precaução. Encontrei um cicilista alemão no caminho, Mathias, que tinha dormido a noite no mesmo lugar que eu iria dormir hoje.. e fiquei sabendo que seriam mais 10 kms até o destino.. mas tudo bem, estava muito bem fisicamente e emocionalmente.
Conforme ia pedalando avistei o primeiro glaciar.. é impressionante o que ver um negócio desses faz na gente. Sei lá, tem que ver.. não tem como explicar.. uma montanha gigante com gelo, e uns lagos com a água derretida com icebergs flutuando. Me senti muito bem alí. Parei várias vezes para fotografar e ficava as vezes empurrando a bike e contemplando tudo aquilo.

 Jokulsarlon #1

Jokulsarlon #2

Jokulsarlon #3

Jokulsarlon #4


Próximo de Jokulsarlon, onde já foram filmados dois filmes do James Bond, minha corrente começou a ranger.. estava precisando de lubrificante, mas deu pra chegar até lá tranquilo.
Jokulsarlon é um lugar mágico, seria mais mágico se não tivesse tantos turistas.. é o final de um glaciar, que forma um lago com gelo e este lago desemboca no mar. Fica um monte de pedaços do glaciar na praia, junto com o mar.. pra mim foi algo surreal..  praia e pedaços de gelo ao mesmo tempo. A praia é formada de sedimentos vulcânicos, então é como se fosse areia negra. Fiquei um bom tempo fotografando aquilo tudo.. e descobri que ali do lado tem uma café, onde recarreguei meus estoques de cafeína.
Outro fato curioso foi que encontrei  o primeiro brasileiro.. de moto..e também de Floripa! Trocamos uma ideia por um tempo e cada um seguiu viagem para um lado diferente. Mas foi bom poder falar português..
Não sabia exatamente onde era o lago, fui pedalando e olhando pro gps... tudo com muito cuidado, pois a corrente estava rangendo muito.. e iria levar muito tempo para eu encontrar o lubrificante, na verdade cerca de 5 minutos, mas naquele frio todo parar ia ser muito desconfortável.
Cheguei no lago e acenei para duas meninas que estava acampando lá (dentro de um furgão), elas perguntaram se eu estava bem.. disse que sim e perguntei a mesma coisa, elas riram. Depois que armei a barraca elas vieram falar comigo, oferecendo uma janta. Aceitei e fui comer no furgão quente e confortável, na compania de duas suiças. Foi bom encontrar alguém ali, pois achava que ficaria sozinho o tempo todo.. e estava muito bem e preparado para isso. Mas isso só mostra que quando estamos viajando não temos controle de nada do que acontece.
Após comer fomos andar pelo lago, creio que foi um dos lugares mais fantásticos que já estive na minha vida.. lembrou o Perito Moreno, na Argentina, porém dessa vez era diferente, estava acampando ali.. e de bicicleta.

Acampamento no glaciar



O vento estava ficando muito forte, conforme a previsão do tempo alertava na noite anterior. Encontramos dois espanhois que também tinha pegado a dica com o Marco, o espanhol que me deu a dica.. em Hofn, e também iriam ficar ali. Conversamos um pouco e logo depois todos foram dormir, os dois casais nos seus carros e eu na barraca.

Dia #33 (24/07/12) Fjarllson – Svinafell (42kms)
Como estava dormindo em um lugar aberto não usei os tampões nos ouvidos, durante a noite ouvi uns passos.. mas como , teoricamente, estou no país mais seguro do mundo não me preocupei. Falando nisso, devo ter deixado meu cadeado da bike em algum lugar.. perdi.  Mas niguém usa cadeado por aqui..
8:00am despertei, o sol estava bonito.. mas o vento era algo absurdo. Tentei sair sem a jaqueta corta vento e não rolou.. voltei e coloquei uma blusa e a jaqueta. Sobre a roupa que uso para pedalar: uma bermuda de ciclismo e em cima uso uma calça corta-vento para as pernas. Creio que daria pra usar uma calça de ciclismo, até trouxe uns pernitos (que são umas mangas compridas pras pernas) mas não me adapto aos pernitos.. eles sempre ficam caindo. Deveria ter comprado uma calça de ciclismo, achava que iria encontrar uma em Londres, mas acabou que esqueci. Para os braços e torax uso uma camisa manga longa corta vento que  também é primeira pele, e sempre uma jaqueta corta vento em cima. Pra cabeça uso tipo uma primeira pele impermeável embaixo do capacete. Nunca precisei usar nada mais do que duas blusas, o sistema de camadas realmente funciona. E para dormir depende, quando é muito frio uso uma primeira pele nas pernas e no torax, junto com o saco de dormir.. que aguenta até -5 graus. Mas na maioria dos dias dá pra dormir somente de cueca dentro do saco de dormir.
Aproveitei a manhã para fotografar... já que estava diante de um dos mais belos momentos da minha vida resolvi fazer um time lapse. Fiquei cerca de 2 horas ali esperando a memória da câmera terminar. Pra quem não sabe, time lapse é uma técnica de fotografia / cinema que você bate uma foto a cada 1, 2, 5, 10 segundos ou mais com a câmera no tripé.. depois junta todas essas fotos em sequência, geralmente 24 fotos por segundo..e ai você tem um video.

Glaciar e lago


Estava bem cansado e resolvi dormir um pouco. Como o vento estava absurdo, sabia que deveria esperar. Aproveitei e escrevi um pouco para o blog, cozinhei um miojo, lubrifiquei a corrente e dormi mais um pouco. Quando era cerca de 2hs da tarde arrumei minhas coisas e parti, torcendo para que o vento diminuisse um pouco..
A previsão dizia que o vento iria diminuir e realmente diminuiu. Na verdade ele até me ajudou em boa parte do caminho. O barulho da corrente sumiu, mas outro apareceu.. um téc téc téc no pedal direito. O verdadeiro inferno estava instaurado na terra, creio que uma bolinha de rolamento deve ter quebrado ou soltado.. ai toda vez que pedalo da um estalo maldito. Creio que não vai ter problemas, a não ser o barulho a cada pedalada. Com o passar do tempo fui tentando colocar os téc tec no ritmo das músicas que estou ouvindo e tentar deixar a coisa um pouco menos desagradável.
Cheguei em Svinafell cerca de 2hs depois. Escolhi ficar aqui e não ir direto para Skaftafell porque lá tem muita gente e dizem que as instalações não são muito boas, além de caras. Entao creio que vou dar um tempo por aqui.
Depois de armar a barraca fui até um posto de gasolina comprar algumas coisas para comer. Achava que tinha comprado leite, mas na verdade é um leite diferente.. entre coalhada e iougurte desnatado.. como to precisando de proteínas, mandei assim mesmo.



Road to nowhere

Dia #34 (25/07/12) Svinafell
Aproveitei que o dia estava frio e chuvoso para editar umas fotos. Estou com cerca de 500gb de fotos no computador, acabo editando somente o que chama atenção a primeira vista, pois as imagens estão meio “cansadas” na minha cabeça. Parece que precisa de algum tempo para escolher as imagens, deixar o cérebro esquece-las para poder ve-las como se fosse a primeira vez, ou quase isso.
No mais consegui falar com algumas pessoas muito queridas pelo computador. Hoje foi um dia que queria estar com elas e não na barraca esperando a chuva e o frio passar. Creio que vim para a Islândia também procurando isso, sentir as coisas de verdade...
Quando eram 21hs o tempo melhorou e consegui saír para fotografar um glaciar que fica aqui do lado do camping. O legal foi que não havia ninguém por lá.. pra entrar um pouco em sintonia com este dia que foi muito introspectivo e que consigo definir em uma palavra (que inclusive só existe no português, pelo menos na escola diziam isso): saudades.

 Svinafell #1


Svinafell #2

Svinafell #3


Dia #35 (26/07/12) Svinafell – Skaftafell – Svinafell (12kms)
O dia estava muito diferente de ontem, um sol lindo no céu e a temperatura esava um pouco mais quente. Saí cedo para o parque de Skaftafell, pois queria fazer uma caminhada em cima do glaciar.
Peguei a bike e percorri fácil os 6kms, bike sem peso algum, eu não acreditava como era tão fácil pedalar. Quando cheguei na agência descobri que estava tudo lotado pela manhã, com algumas vagas pela tarde. Porém vi que existia uma “escalada no gelo”.. bah, fiquei com muita vontade, só pra sentir o gostinho da coisa.. era 25% mais caro que a caminhada.. uns 250 reais e era a atividade com o nível mais  avançado de condicionamento físico. Como só vivemos uma vez, não exitei e fui para a escalada no gelo..
A expedição (!!??) saia somente  às 11hs, aproveitei as 2hs que tinha para conferir a grande geleira que ficava ali, aproveitei para bater algumas fotos e aproveitar o sol que estava surgindo.

 Skaftafell
A caminhada até a galeira serviu para ooutra coisa, estava com duas calças, uma corta vento e uma primeira pele, pois iria caminhar no gelo. Mas conforme fui andando vi que não foi uma boa ideia, estava suando demais.
Voltei para entrada do parque, tirei uma calça e seguimos no onibus para a escalada. Como o grupo no ônibus era misto, o pessoal achava que eu iria com o grupo da caminhada, e não deram bola para o tipo de sapato que eu estava usando (meus tenis de pedalar). Chegando lá vi que precisava ter alugado uma bota e tal, mas com os cravos que colocam embaixo dos sapatos até que rolou legal andar.
Gostei muito de andar no gelo, os cravos realmente seguram muito bem. O nosso grupo, de 5 pessoas, se separou do grupo maior e seguimos rumo para os paredões de gelo.
Foi muito legal, o primeiro paredão todos conseguiram subir legal, era bem inclinado. O segundo foi mais difícil e o terceiro tinha uma inclinação negativa, assim como o quarto. Como meus tenis não tinham muita fixação, tinha que subir somente usando os braços ou bem pouco as pernas.  Uma experiência única na vida..e  muito boa. Consegui subir todos eles,  mas os braços são bem exigidos..


 No gelo

 Escalando..
Na volta passamos por um lado não convencional do glaciar. O legal desse passeio foi que o nosso guia gostava muito daquilo, diferente dos outros, ele se empolgava quando via algo novo e transmitia isso para a gente. É algo que recomendo fazer..
De volta no parque, 7hs depois, resolvi passar num restaurante que encontrei na metade do caminho. Valeu a pena.. comi quase tudo o que tinha no Brasil, nada de diferente tinha ali.. mas os fregueses não consumiam aquela comida, somente pizzas e hamburguers.
De volta no camping, pesado e lento de tanto comer, não resisti por muito tempo e capotei na barraca.
Outro fato que vale a pena citar são os grupos estilo CVC. Aqui está cheio deles.. e acampam. São grupos de algum país, geralmente frança ou alemanha, que vem em bando se "aventurar" na Islândia. Fazem todas as refeições em grupo, como gado, comem a mesma coisa, visitam a mesma coisa e ficam o mesmo tempo em cada coisa. De manhã lotam as cozinhas, ai vem um ônibus-tanque que leva eles pra algum lugar. Depois voltam, comem em bando e vão dormim a mesma hora também. Um fato curioso é que não tive problemas com os chuveiros por causa disso.. creio que eles não são muito fans de banhos.


Dia #36 (27/07/12) Svinafell – Kirkjubaejarklaustur (75kms)
O dia estava bonito, porém na região de Svinafell sempre tem uma nuvem negra rondando, devido a montanha que existe lá. O frio já não estava tão forte e aos poucos o sol até foi aparecendo.
Precisei recarregar a bateria da câmera para depois partir. Aproveitei para editar mais umas fotos enquanto isso e em sequência parti, rumo a Kirkjubaejarklaustur.
O caminho foi muito lindo, principalmente no início.. uma grande reta, infinita. Numa planície de areia negra e vento... que veio a se transformar em uma tempestade de areia. As tempestades de areia são bem comuns por aqui, para quem está num carro não tem muito problema, mas numa bike pode ser um tanto quanto ruim. O vento vinha pela direita hoje, e as rajadas de areia eram muito fortes, você precisa meio que ir aprendendo o padrão do vento, pois ele sempre tenta te derrubar, meio que ciclicamente.
O que peguei lá deve ser o normal da região, felizmente, não foi algo absurdo e consegui fazer meu caminho pela tempestade de areia, que veio até mim em mais umas duas ou três ocasiões.

Tempestade de areia

O resto do caminho também não teve grandes novidades.. a planície que começou até a ficar meio chato de ver, nada muda, é sempre igual... e sem nenhum ponto de apoio no caminho. Creio que somente depois dos 50kms ficou mais habitado, e próximo de Kirkjubaejarklaustur tem bastante coisas.
Em Kirkjubaejarklaustur comprei comida, arrumei a barraca e lembrei que ela havia quebrado na noite passada, creio que com os ventos arrebentou uma das varetas de fixação. Sorte que os caras já vendem a barraca com um tubinho extra, caso isso aconteça. No mais tomei banho (mais um chuveiro conta-moedas), entrei na internet e consegui fazer reserva num albergue da juventude em Vik, a cidade que irei amanhã.
Antes de dormir fui até uma cachoeira da cidade e bati algumas fotos.Quando voltei fiquei impressionado com a capacidade do ser humano de fazer aglomerações: escolhi um lugar bem distante, pra não ter gente por perto fazendo barulho durante a noite.. e quando voltei minha barraca havia sido cercada por 4 barracas. Isso também rola com carros: sempre que um carro me ultrapassa, vem outro (ou vários) em sequência atrás.. depois mais 5minutos sem ninguém. É interessante, parece que poucas pessoas conseguem ficar sozinhas...


Cachoeira local


Algumas montanhas, chegando perto do destino final


Mas quase todo o caminho são apenas longas retas



Dia #37 (28/07/12) Kirkjubaejarklaustur – Vík (77kms)
Acordei cedo.. 7hs, mas fiquei enrolando por algum tempo até sair. Esperei o posto de gasolina abrir pra tomar um café de verdade e seguir rumo a Vík, uma cidade com uns 300 habitantes.
O caminho foi uma grande reta, passando por cenários vulcânicos.. toda essa parte da ilha é formada por derramamento de lava que aconteceu no passado. O vento estava nas minhas costas, e estava muito feliz por isto.
Peguei algumas tempestades de areia, mas nada demais, pois não vinham diretamente na minha cara. Mas fiquei com pena dos ciclistas que encontrei no caminho.. uns 10, todos casais. Outro fato curioso fui um figura que estava andando de skate na rodovia.. não consegui falar com ele, pois ele estava ladeira abaixo na única descida do caminho.
O caminho também não tem quase pontos de apoio, é basicamente um deserto vulcânico. Somente depois de Vík é que a civilização volta a aparecer...
Parei num platô gigante que encontrei no caminho e entrei na estrada de terra para visitá-lo. Fiquei impressionado com o tamanho daquilo, era muito grande.. e eu e a bike tão pequenos.

Platô


Os últimos 10 kms foram com o vento contra, forte, nestes casos não tem muito o que fazer além de reduzir a marcha e dar uma pedalada de cada vez.
Em Vík fiquei num albergue da juventude, não havia ninguém no lugar quando cheguei, mas tinha uma placa que dizia para entrar no quarto e se instalar, que mais tarde os donos apareciam...
Conheci um pessoal da Bélgica muito gente boa, demos umas risadas e fizemos um rango. Quando era cerca de 9hs saí para subir uma montanha que existe aqui do lado, subida difícil, cerca de 1h caminhando.. Mas o cenário era absurdo e pela primeira vez vi um puffin, que é o pássaro símbolo da Islândia...

Puffin


A lua estava grande e fiquei um tempo absorvendo tudo aquilo. Quando era cerca de meia noite voltei para o albergue. A noite começa a aparecer por aqui, não totalmente escura, mas já começa a anoitecer.


Dia #38 (29/07/12) Vík
Tudo foi em slow motion neste dia. De manhã fui bater umas fotos na praia e a tarde fiquei no hostel, comendo comida “grátis”.. deixada por outros hóspedes. Tava meio cansado, mas não consegui dormir.

Vík - Praia de areia negra

A noite tava pensando em ir fotografar, em subir a montanha e pegar uma luz melhor. Mas achei melhor ficar sem fazer nada. Isso é algo interessante quando estamos viajando de bicicleta: temos sempre que dar um tempo para o corpo se recuperar. Queria sair para fotografar hoje, mas subir o morro de novo ia cansar muito as pernas, e amanhã tenho mais 85 kms, e mais 50 no dia seguinte.. então é tudo um jogo, de como dosar as coisas. Tem momentos que você precisa parar e deixar o corpo se recuperar.
Fiz a barba hoje, o que foi uma beleza. Fazia cerca de 30 dias que estava sem me barbear, tava muito angustiante.. começava atrapalhar até para comer... deu uma aliviada quando me vi sem aquele monte de pêlo no rosto.
Agora faltam apenas 187 kms até Reykjavik, e mais 55 até o aeroporto. Tenho 10 dias ainda no país, creio que vou passar uns três dias em Selfoss, num hostel e depois acampar em Reykjavik até os últimos dias. É interessante essa sensação de estar chegando no fim, você começa a pensar mais no Brasil e nas coisas que ficaram lá, ao mesmo tempo uma vontade grande continuar viajando.
Quando eram 19hs resolvi subir a montanha de novo. A ansiedade era muito grande de ficar parado e aquilo tudo ali do lado.Valeu a pena, fiz um time lapse e acabei vendo vários puffins.Acabei indo por um "atalho" para aliviar um pouco as pernas, mas não deu muito certo.. 

 Reynisdrangar - Vík
 Reynisdrangar - Estas pedras ficam próximas da praia de areia negra de Vík, diz a lendra que eram trolls que tentavam afundar um navio, porém não estavam conseguindo e quando o sol apareceu foram transformados nas pedras.
 
Puffins
Quando voltei era cerca de meia noite, fiz um macarrão com molho pesto e dormi no quarto com mais 5 pessoas, inclusive uma moça que roncava tanto que ouvia até com protetores de ouvido..


Dia #39 (30/07/12) Vík – Hvosvollur (85kms)
No café da manhã fiquei impressionado como duas alemãs comiam... ovo frito, bacon, salada, waffer, pão e muito mais.. o café da manhã delas era melhor do que o do hotel. Sobre os cafés da manhã daqui dá pra dizer que são bem parecidos com os do Brasil, porém custam cerca de 20 reais nos albergues. Nunca comi, acho caro e acabo sempre comendo pão com alguma coisa e café.. ou quando tenho um pedal longo: macarrão.
Me despedi do povo do hotel e saí rumo a próxima cidade Skogar. O caminho era composto de algumas montanhas perto de Vík, mas o restante bem plano. 


Skogafoss - Skógar

Em Skogar parei para tomar café e bater umas fotos da cachoeira. Um belo lugar, mas já estou meio saturado de cachoeiras, todo o canto tem uma.. e começa a virar algo corriqueiro. Na verdade a paisagem já está bem corriqueira agora. O que buscava antes de vir para cá -    aquelas cores, os cenários, os sons e os sentidos– já estão absorvidas, fazem parte do repertório. Virarão lembranças e referências para outras experiências.. a Islândia do verão está internalizada, absorvida após 40 dias que estou aqui.  Lógico daria para absorver muito mais com o passar do tempo, mas creio que já da pra ter uma pequena ideia do que é isto aqui. E a bike foi fundamental, pois tudo foi ao ar livre, embaixo de chuva, sol, areia, moscas e sempre muito vento. Creio que o trabalho que fiz com as fotos e videos dá pra ter uma ideia do que é isso tudo, mas na minha visão. Pra saber o que é isso, tem que vir, ver, ouvir e sentir tudo isso pessoalmente.. as fotos e videos não são referência da realidade e sim uma visão sobre a viagem, uma forma de contar a história. Além de serem um estímulo para outros virem a conhecer o mundo, seguirem seus sonhos ou qquer outra coisa (afinal de contas, não temos controle).
Bem, voltando ao dia de hoje, pedalei até o vulcão Eyjafjallajökull e fiquei meio decepcionado. O tempo estava nublado e o vulcão não tem aquela forma de cone tradicional daquele ponto que estava na rodovia.. mas ta valendo.

Eyjafjallajökull

Uma coisa que venho fazendo é sempre repetir, verbalmente, várias vezes o que encontro nas placas. No ínicio era muito difícil, mas agora já ta quase fácil. O idioma que não entendia nada antes, agora começo a entender.. pouca coisa, mas já da pra sacar como são formadas as palavras, as sonoridades... já não é tão estranho assim. Todo dia você aprende uma palavra, no outro aprende como escrevem um alimento que você sempre come.. e por ai vai, aprendendo alguma coisa de um novo idioma. Hoje fico feliz quando vejo que consigo pronunciar Eyjafjallajökull (o vulcão), qualquer outra cidade que tenha passado ou pequenas palavras que antes eram monstros e que agora dou risada quando consigo falar.
O restante do caminho foi tranquilo, até que cheguei aqui em Hvsvollur, arrumei um camping (que não tem chuveiro) e fui tomar um café e acessar a net num bar/hotel.
Ta passando as olimpíadas na tv, impressionante como não vi nada do Brasil até agora.. a mídia é algo muito manipulador, no Brasil só passa as coisas que o Brasil vai bem, ou compete, aqui passa tudo.. e vemos como não há incentivo para o esporte no nosso país.. uma pena, pois com algum investimento as coisas seriam bem diferentes.
De volta no camping encontrei uma mulher que está começando o pedal pela Islândia, espanhola e estava com muito frio. Estava esperando uma amiga que viria em alguns dias para acompanhá-la na jornada.
Agora estou escrevendo este post e são 10pm, o sono ta batendo e amanhã tenho mais um pedal de 50 kms até Selfoss.. onde pretendo arrumar os 2 raios quebrados da bike, de alguma forma acabei perdendo os raios reserva que sempre levo... mesmo os que estavam dentro do quadro da bike já nao estão mais lá.. mas creio que rola chegar até Selfoss.





2 comentários:

  1. meu sonho é escalar! ... no gelo então, deve ser onírico!

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  2. puxa...
    passei por alguns desses lugares no ano passado, mochilando.
    que trip espetacular, essa tua.
    parabéns!

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