terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ciclotrip Vitória - Salvador -3a Semana

Dia # 15: Porto Seguro – Canavieiras (75km)

Balsa em Sta Cruz de Cabrália

Hoje foi um belo dia. Acordei e já peguei a estrada. Peguei chuva, mas chuva aqui na Bahia é diferente nessa época do ano... chove e depois abre um sol que seca tudo.

Pedalei um trecho de Santa Cruz de Cabrália com um ciclista que encontrei no caminho, não me recordo do nome dele, mas era um senhor gente boa, que já tinha vindo do Mato Grosso até a Bahia de bike. Ele também dizia ser primo o Zico do Flamengo.

Na balsa encontrei um povo de Videira-SC, é impressionante como encontro gente de Santa Catarina e e Gaúchos aqui. O trajeto da balsa foi muito bonito e custa cerca de R$1,80 por bicicleta.

Passei pelas praias de Santo Antônio e Santo André. Em Santo Antonio visitei a maior estatua de Santo Antônio do mundo. O trajeto até Belmonte foi um dos mais bonitos que passei, com umas planícies gigantescas, sem ninguém passando por ali. É um lugar que quero voltar, pra passar um tempo nas praias.

Estradas desertas #1

Estradas desertas #2

Na noite anterior chequei na Internet a Tabela de Marés, para conseguir pegar o transporte de Belmonte até Canavieiras no mesmo dia. Cheguei 1h antes e embarquei a bike no barco do Bigode. Foram comigo no barco dois malucos, a Marcela e o Chico.

O trajeto vale muito a pena, é feito numa lancha voadeira, como aquela que peguei de Superagui até Paranaguá. Passa pelos mangues da região numa velocidade bem legal. Foi um dos pontos altos da trip.

 Nos manguezais de Canavieiras

Em Canes (como chamam Canavieiras) fui empurrando a bike com a Marcela e o Chico até encontramos uma pousada. A cidade já foi uma das mais ricas devido a exploração do cacau, mas hj em dia as coisas já não são as mesmas.

Encontramos uma pousada na beira da praia e quando estava indo para o quarto veio um cicloturista falar comigo. Era o Eder, que dizia ter passagem pelo livro Guinnes de Recordes e estava pedalando pela região.

Comendo os Caranguejos

Fui tomar uma com o Chico e a Marcela e comemos uns carangueijos. Fiquei meio decepcionado com o rango, tava com mta fome e o trampo pra comer o bichinho era grande. Depois de alguns, pedimos um rango para os três, mas o povo do restaurante esqueceu e tivemos que ir comer em outro lugar.



Dia #16: Canavieiras – Ilhéus (121 kms)

É impressionante como estou acordando cedo. Bate 6:30 eu já to acordado, sem despertador nem nada.. em São Paulo isso seria um parto.

Tomei o café da manhã com o povo e me despedi deles. O Eder foi comigo pra gente visitar o Secretário de Turismo do município, batemos uma foto e eu segui meu caminho.

O caminho era tranqüilo e o vento estava fraco. Neste primeiro trecho, até a cidade de Una não tinha subidas e consegui manter uma média alta de velocidade. O mais legal desse percurso foi um motoqueiro que veio conversando comigo, um papo que o cara soltou várias verdades na conversa.. acho que por que sabia que nunca mais ia me ver na vida. Quando chegamos num cruzamento e cada um seguiu prum lado ele disse que tinha sido uma das melhores conversas da vida dele e que nunca ia esquecer.


Cheguei na serra de Una, umas subidas bem lazarentas, que drenaram legal minha energia. Quando cheguei em Una parei pra bater um rango e comi salada demais. Dei um tempo no restaurante mas devia ter esperado mais. Passei por uns 30kms de subidas e descidas bem chatas e parei num ponto de ônibus pra descansar.

 A caminho de Ilhéus

Já revigorado segui o rumo e cheguei no litoral de Ilhéus, que é espetacular. Entrava em algumas praias e ficava admirando tudo, sabendo que depois dessa trip ia demorar algum tempo até ver algo dessa magnitude novamente.

 Bem Vindo A Ilhéus

Cheguei na cidade de Ilhéus e fui para o Centro Histórico. Tentei procurar um hotel barato por ali, mas tava tudo acima das minhas posses. Até que encontrei um que parecia um escombro de guerra, mas ficava muito bem localizado. Fui conferir e acertei 3 dias com o Seu Bandeira, o gerente que sempre usa um chapéu Panamá branco.

Fui comer numa lanchonete, pedi dois salgados, um suco e um x-salada e a garçonete foi com minha cara e disse que não ia cobrar os salgados. De noite fui tomar umas num bar ali no centro, que tava rolando uns Pink Floyd.

De volta pro hotel: o risco de morte era eminente. Tudo dava choque e tomar banho era uma aventura. Mas o que mais me preocupava era o ventilador, que estava se soltando do teto, e estava somente preso por um parafuso. Passei um "super bonder" por ali pra dar uma garantida que acordaria inteiro e capotei depois deste dia cheio de novidades.


Dia #16: Ilhéus (sem pedal hj)

Sai pra conhecer a cidade depois de tomar um suco que nunca tinha tomado, e também não lembro o nome agora. O centrinho me lembrou a região da Conselheiro Mafra, de Floripa, me senti bem por ali.

Fui conhecer a praia e veio uma mulher correndo pro meu lado, assustada. Ela abriu o berreiro ali, dizendo que tinha um senhor escondido no mato que estava se masturbando e olhando pra ela. Fui com ela em direção do suposto arbusto e o onanista saltou do arbusto e saiu em disparado pro lado contrário, enquanto a mulher abre os berros, amaldiçoando o praticante do sexo manual.

Passei um tempo na Lan House, atualizando o blog. Depois subi até um convento e fui captar o por do sol do outro lado da ponte.

 Ilhéus

Dormi um pouco no hotel e quando acordei o centrinho já estava sem nada aberto. Encontrei uma padoca e comi um pastel e um doce que eu iria lembrar depois, tava descendo muito quadrado.

Fui tomar uma de novo no mesmo bar que na noite anterior, e umas minas vieram falar comigo, já tinha sacado da noite anterior que eram garotas de programa. Me convidaram pra sentar na mesa delas e passei a noite na companhia das damas da noite, trocando umas idéias na mesa do bar.

Quando tava dormindo, o salgado e o doce que tinha comido na padoca começaram a incomodar. Acordei pra vomitar umas 4x, tava mal e com febre. Pensei até em tomar um banho, mas naquele estado eu seria certamente eletrocutado. Fui capotar, esperando não precisar ter que acordar mais nenhuma vez pra gorfar.


Dia 18: Ilhéus (15kms)

Acordei em slow motion, tava sentido as seqüelas no estômago de ontem. Até pensei que fosse a cerveja, mas tinha bebido muito pouco e quando pensava na comida da padaria voltava a me sentir mal.

 No fundo a catedral e na frente a poluição política

Lavei uma roupa na pia e fui me alimentar na cidade. Tomei um suco de cupuaçu com açaí, sem água, mas curti. Comi umas tapiocas e fui tomar outro suco em outro lugar.

Peguei a bike pra dar uma pedalada, mas tava meio sem ânimo. Deu pra conhecer um pouco as praias da Orla Norte e fazer um breve pedal. Resolvi voltar porque tava precisando comer e descansar.

Prefeitura

Dormi e acordei melhor, choveu a tarde pra dar uma aliviada no calor. Hj foi um dia bem difícil, mas tava consciente do que tava passando e que iria acordar melhor amanhã. Passei o resto da noite no quarto, me recompondo para o pedal de amanhã.



Dia #19: ilhéus – Itacaré (80kms)

Despertei melhor, bem revigorado e pronto para pedalar. Falei com o Seu Bandeira e ele me disse como seria a estrada até Itacaré... tem uma serra no meio, eu não contava com isso, mas seria uma quilometragem tranqüila.. 70 kms.

Fui pedalando de boa, parei pra tomar água de coco em vários lugares e conheci um povo que tinha um jacaré de estimação. O visual é aquela coisa e a estrada é boa, com pouco acostamento mas quase sem tráfego, com alguns momentos de chuva.

Depois da chuva

Quando cheguei em Serra Grande descobri o porque deste nome. Parei pra comer uma salada e dei um tempo pra me recompor. Quando peguei a estrada novamente começou um toró e tive que me abrigar num ponto de ônibus.

 Ciclistas nas nuvens

O cenário mudou e lembrou um pouco da vegetação da estrada de Ubatuba-Paraty. Aos poucos fui chegando em Itacaré, que aparentemente fica no pé da serra. Procurei lugar pra ficar e os preços estavam mais caros do que queria pagar, iria acampar hj, até que encontrei uma pousada que fez um preço bem, especial pelas 3 noites que vou ficar por aqui.

Almocei e fui dar uma rondada na cidade, voltei pro hotel e acabei desmaiando na cama.



Dia #20 – Itacaré (sem pedal hj)

O dia estava muito bonito pela manhã e saí para conhecer as praias da região.

Passei o dia batendo fotos, filmando e lagarteando na areia. A tardinha começou uma chuva que durou até o dia seguinte, sempre intercalando com alguns períodos de sol.

Praia da Tiririca (Itacaré)


Foi um dia bem produtivo para filmar e bater fotos, me diverti bastante fazendo isso.

 Farol

De noite saí para ver os bares da cidade, que são legais, mas tem muitos lugares que são “pega-turista” demais.



Dia #21 – Itacaré (34 kms)

Peguei a bike e fui conhecer as praias mais distantes do centro.

Tava chovendo o tempo todo e fiquei meio frustrado com o sol, que estava impossibilitando tirar boas fotos.

Já tinha passado por essa estrada quando cheguei na cidade, mas agora estava com mais tempo e com a bike sem os alforges. Passei por uma cachoeira, a do Bom Sossego, fui entrando e nem vi que tinha uma placa cobrando três reais para visitar. É bem mixuruca e não fiquei nem 5 minutos vendo, mas tive que pagar para o Seu João, que tinha encarnado o espírito do mercenário. Na saída vi que tinha a placa dizendo que seria cobrado...

 Cachoeira de 3 conto

Pedalando na chuva e pelos morros da rodovia cheguei a praia do Havaizinho, fiz uma trilha legal com a bike, mas sempre ficando esperto com o "guidão de caminhão" que to usando e os bar-ends que engatam no mato.

Trilha

A praia é legal, mas o tempo estava muito fechado. Fui até as outras praias da região por trilhas, mas não fiquei muito tempo por causa da chuva.

A volta foi tranqüila e quando cheguei fui comer algo no centrinho. Vi o jogo na TV e saí para fazer uns takes dos barcos e da praia.

Por do sol sem sol em Itacaré

Com o tempo assim, fiquei na pousada descansando para o dia de amanhã, que enfrentarei uma das piores rodovias do Brasil, a BA-030 entre Itacaré e Maraú (Barra Grande). O problema foi que uma festa religiosa na cidade começou as 22hs da noite. No ínício foi treta dormir, depois lembrei dos meus protetores auriculares e tudo correu bem.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ciclotrip Vitória - Salvador - 2a Semana

Dia #8: Mucuri – Caravelas (50 kms)


Estacas de Eucalipto para tentar conter o avanço do mar, em Mucuri


Este foi o dia mais diferente do planejado até então, apenas até então.

O plano era de ir até Caravelas via BR-101, ou uma estrada de chão, que encurtaria meu caminho em 10 kms e evitaria trafegar pela 101, que dizem não ter acostamento aqui na Bahia.

De manhã já havia decidido ir pela estrada de chão, e durante o caminho fui perguntando onde ficava a entrada. Numa dessas paradas, conversei com uma mulher que sugeriu ir até Nova Viçosa e de lá pegar um barco até Caravelas. Um motoqueiro que parou para conversar comigo enquanto eu pedalava confirmou a história do barco. Como eu queria passar pela casa do Frans Krajcberg em Nova Viçosa, resolvi incluir o  passeio de barco no meu dia.

A casa do Krajcberg é muito interessante, fica em cima duma árvore, tem ossadas de baleias, assim como umas obras.

Casa do Frans Krajcberg

Cheguei no cais de Nova Viçosa e a princípio os pescadores falaram que não tinha barco até Caravelas. Porém existia a opção de ir de barco até a Ilha da Peroba, de lá pegar uma trilha até o outro lado da ilha e atravessar com uma embarcação o rio até Caravelas.

Sobre a trilha: “No início tem uns areião, mas depois você consegue pedalar, pq tem pista de barro batido.. coisa boa, que a Petrobras fez”.

O barco, que também levava os alunos para a escola, sairia às 11:30, e como eram 10:30 pude fazer um breve passeio pela cidade de Nova Viçosa.

Quando deu 11:15hs o pessoal do barco disse que não poderia ir com eles, pq tinha fiscal da prefeitura e não podiam dar carona pra ninguém. Já tava indo embora pra estrada quando veio um figura falar comigo, ele iria para lá.. mas somente às 13:30 e iria me cobrar 15 reais. Resolvi esperar, já que o passeio de barco pelos manguezais da região vale a pena.


Pier de Nova Viçosa


Fiquei de bobeira ali no cais, conversando com os pescadores. Tinha uns caras bem engraçados, contando as histórias de Lampião.

13:30 e nada do cara. Também encontrei outro figura que estava indo pra lá também, às 14hs, e outro que estava “partindo agora”. Tudo era tão devagar e enrolado ali, que eram 15hs e eu ainda tava lá, pulando de barco em barco com a bike, e os caras se enrolando cada vez mais... até que apareceu o cara que ia me levar às 13:30 e queria me levar, mas somente iria partir às 16hs. Alguns falavam que o último barco, do outro lado da ilha de Peroba, para atravessar para Caravelas saia às 16hs, porém outros diziam que tinha o João, que se estivesse ali podia me levar qualquer hora pro outro lado do rio. Tudo mto confuso, incerto e enrolado.

No final das contas, consegui sair às 16hs. Foram 5hs de pura enrolação no cais, mas o visual do barquinho passando pelos manguezais recompensou tudo. Na viagem que durou 40min fui de carona com o Cicero, que foi contando suas histórias sobre a região.

De barco para Ilha de Peroba


Na Ilha de Peroba ele me explicou aonde era a trilha e não me cobrou nada pela travessia. Como já eram 16:40 apressei o pedal, mas em vão.. encontrei os “areião” (mal eu sabia que este seria apenas o primeiro dia acompanhado deles). Ai só restava empurrar a pesada bike. No início encontrei um senhor e uma senhora que me indicaram o caminho, e aonde seguir nas encruzilhadas. Um povo bem simples que mora ali na ilha, que não tem energia elétrica mas são bem dispostos a ajudar. A trilha passava por muitas propriedades particulares, e o abre e fecha de porteiras era constante.

Trilha da Ilha de Peroba


Depois de uns 20min encontrei a “pista de barro batido”, que foi o ápice do dia.. dava pra chegar a 22kms/h, se desviando toda a hora de galhos, obstáculos, abrindo e fechando porteiras, banhados... foi muito legal pedalar ali, pena que o sol já estava se pondo, tava ficando escuro demais pra ver a trilha quando ela se fechava e ainda precisava tentar pegar o barco para atravessar o rio até Caravelas.

Não demorou muito e cheguei do outro lado, encontrei os filhos do João que me levaram ao pai. Eu tinha recém perdido o barco de transporte normal, que saia às 16:30.. mas hj saiu as 17:20.

Seu Jõao


Atravessamos de boa as águas calmas do rio, num dos momentos mais bonitos desta trip. Fiquei bem feliz, pq no final deu tudo certo e o visual era como um prêmio deste dia.

Atravessando o rio para Caravelas


Cheguei em Caravelas e pesquisei por camping e pousadas. Como estou viajando em baixa temporada, as pousadas estão muito baratas e está compensando ficar nelas, que nunca são 5 ou 10 reais a mais do que os campings.

Fiquei numa pousada dum povo mto gente boa, do Frank, um peruano deTrujilo.. que ficou todo feliz qndo eu disse que já tinha visitado a cidade dele. Fui comer e tentar um passeio para Abrolhos no dia seguinte.. mas a baixa temporada me pegou de novo, como não tinha ninguém de turista na cidade, não sairiam barcos para Abrolhos. Bateu uma tristeza, já que eu queria mto conhecer e já tinha me preparado para desembolsar cerca de 220 reais para o passeio... mas não foi desta vez.

No final das contas estava bem, pois o dia de hj foi superação atrás de superação e estar ali em Caravelas depois de tanta enrolação e barcos foi a melhor das recompensas.

Amanhã vou até Prado, são cerca de 60kms de asfalto, e lá pretendo descansar um pouco e rever a viagem.



Dia #9: Caravelas – Prado ( 66kms)


Caravelas

Tive uma noite difícil hj, muito quente e o ar condicionado não funcionava direito... dia seguinte fui ver que na verdade era pq não tinha janela no meu quarto, somente cortinas.

O café da manhã estava bom, porém um lance que me chamou atenção era que todos os talheres estavam sujos, mas mto sujos... tipo quando a colher fica com iogurte seco. Fiquei desconfiado, achando que estava mexendo na louça suja, mas vi o pessoal que trabalhava no hotel pegando dali os talheres pra comer.. então não tive dúvidas, aqueles eram os talheres.

Este dia o percurso não teve muitos problemas e surpresas, só o vento contra. A paisagem foi muito bonita.. com gado, os pinheiros/eucaliptos e o ainda céu azul cada vez mais bonito.


Espelho

Parei para comer em Alcobaça, comprei umas frutas e iogurte pra comer na beira da praia e fiquei ali observando a cidade e suas pessoas. Depois segui rumo a Prado.

Alcobaça

Caminho até Prado


Cheguei em Prado às 14hs e a cidade estava vazia. Cidade Fantasma. Ninguém nas ruas... achei muito louco aquilo, não tinha ninguém nem para pedir informação. Mais tarde fiquei sabendo que muita gente fecha o comércio para almoçar. Encontrei uma pousada bem legal e com um preço bacana, 40 reais duas noites.
Fui atualizar o blog pela primeira vez, que me tomou algumas horas. Depois fui no centrinho da cidade comer, e veio um cara falar comigo, mto bem vestido e segurando o convite de formatura da filha. Disse que se eu desse cerveja pra ele, ele me apresentava a filha, que era bem gatinha. Não digo que não fiquei tentado, mas o povo do bar me alertou que ele era um figura que tinha perdido tudo por causa do álcool e hj ficava perambulando pela cidade inventando ou revivendo historias pra conseguir birita.



Dia #10: Prado (sem pedal por hj)

Prado

Não pedalei, mas andei bem hj, uns 15kms.

De manhã fui visitar umas falésias que ficavam ao norte de Prado, tava muito quente, mas valeu a pena, fazem um contraste que nunca tinha visto numa praia. Pra voltar foi dureza, resolvi voltar por uma estrada, que é a estrada que vou pegar amanha até Comuruxatiba, para conhecer... mas foi difícil, já que é só areia no chão e não tem a brisa da praia pra aliviar o calor.


Falésias em Prado

Na volta passei num quiosque e tomei umas pra aliviar o calor. Tava sozinho ali e resolvi mandar uns "sms de bêbado" pra uns amigos.

Almocei o PF da Dona D´Ajudinha, que devia estar muito bom. Logo no início veio toda a comida e um potinho atrativo, com o que eu achava que era vinagrete. De cara fui no vinagrete, colher cheia e com anseio do frescor dos vegetais... ledo engano, era a pimenta mais lazarenta que já havia provado. Dali em diante não senti mais o gosto de nada, maldição.

Fui dormir e a tarde fui andar pro outro lado, conheci o cais e do outro lado do rio. Na volta pra cidade fui picado por um mosquito muito guerreiro, do tamanho dum polegar, que não saia de forma alguma da minha perna.. só morto.


Igreja em Prado

Comi umas delícias da cidade, uns bolos diferentes, de aipim e outras variações que nunca tinha provado, assim como uma banana terra muito boa. A noite comprei protetor solar para a boca, que ta pedindo arrego.

O plano para amanhã era seguir até Comuruxatiba ou Corumbau. Passei por um pouco da estrada hoje e parece boazinha, mas nunca se sabe o que uma estrada nos reserva até percorrê-la.



Dia #11: Prado – Caraíva (73kms)

Saí cedinho e fui tomar uma café da manhã numa padoca. Fui pedindo informações para o pessoal durante o caminho, mas achei melhor confiar nas pesquisas que havia feito pela net e segui meu rumo pela estrada de chão.


Bike nas falésias

A estrada era bem treta, cheia de buracos e nada plana, a cada km tinha pelo menos um grande vale para descer e subir. O visual era bem recompensador, passei por cima das falésias, beirando a praia e às vezes entrando pelas fazendas.


Em cima das falésias

Sobe e desce


As 11 da manhã cheguei em Comuruxatiba e fui pedir informações sobre como chegar até Caraíva. Tinha algumas opções: ir pela estrada ou ir por umas trilhas e economizar 32kms, só que tinha que atravessar o rio Cahy, na Barra do Cahy, que foi o primeiro lugar aonde Pedro Alvarez Cabral chegou no Brasil. O pessoal me indicou o Franklyn, que é um ciclista da região que saía sempre ao Meio Dia para pedalar. Encontrei o Franklyn e ele foi mto gente boa, disse que iria me levar até a Barra do Cahy.

Fui almoçar uma salada e as 12hs seguimos rumo ao marco de descobrimento do Brasil.


Franklyn e a trilha

Gostei do pedal com o Franklyn, aprendi sobre a região e fazia tempo que não pedalava conversando com alguém. Paramos no caminho para bater umas fotos do Monte Pascoal e depois de percorrer várias fazendas, chegamos a barra do Cahy.


Monte Pascoal

Empurramos as bikes por 1km e chegamos aonde Pedro Alvarez Cabral havia chegado há 510 anos atrás.


Barra do Cahy

Barra do Cahy #2

O problema, 510 anos depois, é que alguns ciclistas querem atravessar o rio. Fiz um test drive e consegui passar por ele, com a água batendo no pescoço em um lugar sem correnteza e outro com correnteza que batia na cintura. Optei pelo caminho sem correnteza.


Atravessando a bike pelo rio

Me despedi e agradeci o Franklyn, que me ajudou muito para chegar até ali, e segui a jornada. Desmontei os alforges e todos os acessórios da bike e fui atravessando um de cada vez, primeiro pela bike... fiz umas 5 viagens pelo rio, levei mais tempo.. mas cheguei tranquilo do outro lado.

Foi uma sensação muito boa ter chegado ali, e ainda mais ter passado pelo rio. Aproveitei bem o momento ali e bati uma foto do mapa que o franklyn havia desenhado na areia, para eu seguir o resto da trilha sozinho.


Estrada #1

Fui tranqüilo o resto do caminho até Corumbau, as pessoas que eu encontrava iam me ajudando a seguir o caminho certo, mas nunca sabiam qnto faltava: longe, pertinho, logo ali.. uma mulher me disse que faltavam 3 léguas. Passei por muitas aldeias indígenas, que deve ser a etnia dominante da região.


Estrada #2


Estrada #3


Estrada #4

Cheguei até a ponta de Corumbau e fui atravessar o rio. Dois indiozinhos chegaram com uma canoa e lá se foi eu e a bike pro outro lado do rio. Eles não falaram nada, só o preço.. “10 real”. Paguei cinco e já me senti roubado. Tinha que empurrar mais 6 kms a bike pela areia fofa, até Barra Velha, pra depois pegar a trilha até Caraíva, mas encontrei um buggy voltando da ponta e pedi carona pra levar a bike até a trilha.. e o motorista: “10 real”. Mais uma vez paguei 5 e me senti roubado. Pedalei e encontrei a trilha, que fica dentro duma aldeia indígena. A trilha tinha muitos “areiões”, e sempre precisava descer pra empurrar a bike. Chegando próximo de Caraíva, uns indiozinhos vieram me oferecer estacionamento pra bike: “10 real!”.


De carona no buggy

Barra Velha


 
Por do Sol e o Monte Pascoal

A vila de Caraíva é bem bonita, não tem postes de luz mas tem luz elétrica. Tb não passa carro ali, porque tem um areião que impossibilita até pedalar.. então lá vai eu empurrar a bike de novo.

Já estava escuro e como não tem luz nos postes não dava pra ver placas de pousadas e os moradores tb não sabiam indicar uma, achei muito estranho, mas em pouco tempo consegui me alojar. O pessoal queria cobrar caro, pq amanhã tem uma festa na cidade, mas como eu queria somente o pernoite consegui um preço bem tranqüilo.

Tomei um banho gelado e saí para comer... naquele horário não tinha muitas opções na cidade, ou era pagar muito caro ou comer um x-tudo.. fui na segunda opção.

Fiquei curtindo a noite ali, que tinha uma bela lua e dava pra ver um céu bem estrelado, sem as luzes da cidade para atrapalhar. Esta cidade tem uma das mais belas noites que já vi, porque não tem postes de luz.

Fui tentar dormir e ai que começa o pesadelo. Meu quarto era uma cabana, dava pra ouvir tudo o que rolava, o barulho do mar, os grilos, a vida bucólica de uma noite na praia.. e às 22hs a música do forró do lado. Como não consegui dormir, fui no forró conferir o que estava rolando.

Conheci o pessoal dali, tinha gente de todo o Brasil e tomando umas, me apresentaram uma bebida local: Netuno. Quando pedi o que era o Netuno, o dono do lugar disse: não sei bem o que é viu.. mas tem gengibre e mais umas coisas.

O Netuno foi meu erro naquela noite..



Dia #12: Caraíva – Porto Seguro (90kms)

Caraíva

Dia Punk hj, muitas informações controversas sobre a kilometragem e rotas.

O pessoal de Caraíva dizia que era em torno de 50 kms até Porto Seguro, mas teve um senhor que disse que eram 23 kms, com precisamente 12 ladeiras no caminho. Muitas pessoas da vila nunca saíram dali e falavam de Porto Seguro como um mundo bem distante. Pelos meus cálculos daria algo em torno de 65kms.

Acordei exalando o Netuno do inferno, aquela maldição tava impregnada em mim e não saia nem com reza braba.

Após me abastecer de água, segui empurrando a bike pelas areias de Caraíva até o píer, e atravessei de canoa para o outro lado.

Caraíva é uma cidade bem bonita, mas tudo ali tem um clima meio “pega-turista” disfarçado. Tem que saber como aproveitar, se não vc acaba pagando mto nas coisas, apesar que o que pode ser muito para mim pode não ser para outras pessoas.

Estrada até o Trevo p/ Trancoso


O caminho até o asfalto foi bem difícil, com muitos vales íngremes e areiões que impossibilitavam pedalar em uma das estradas mais esburacadas que pedalei. Passei no caminho pela Praia do Espelho, o que aumentou em 10 kms a minha jornada do dia.

A praia do espelho é um lugar para pessoas ricas, no meio do nada tem uma bela praia, com uns quiosques com sofás no meio da praia.. e a refeição mais barata ali custa 70 reais.


Praia do Espelho e os sofás

Conversei com um pescador ali, e ele disse que antigamente não era assim, mas cada vez foram elitizando mais a praia e tornaram o lugar num reduto de ostentação, que tem até aeroporto.

Pedi água num quiosque dali e os caras vieram com uma garrafinha que devia valer o preço da minha bicicleta, ai falei que era pra eles encherem a minha caramanhola com a água que eles bebem ali, não a que vendem.. e pude seguir adiante com água até uma cidadezinha que não me lembro o nome (talvez Itaquera), aonde parei para comer.

Comprei bolacha e iogurte e sentei na calçada pra comer, um senhor disse que faltavam 100kms até Porto Seguro, outro disse que faltavam 60... mas tudo de asfalto, que começava dali a 3 kms.

Segui meu rumo acreditando nos meus cálculos e contrariando o que alguns diziam. Passei por uma aldeia dos Índios Pataxós, que estavam todos pintados. Cruzei uma fazenda de gado e 10 kms depois estava no asfalto.
Fazenda

Ali tinha uma placa que dizia tudo: "Trancoso a 5 kms", e logo a frente uma placa dizendo "Trancoso a 6 kms". Tudo muito confuso. Pedi informações para umas pessoas ali, e me indicaram dois caminhos pra seguir, fui para Trancoso, pois sabia que tinha uma estrada de chão até Porto Seguro.

Gostei de Trancoso, mas não estava muito na pegada de ficar por ali. Segui o rumo para Arraial D´Ajuda, para pegar a balsa até Porto Seguro. O caminho foi tranqüilo até, porém eu tava cansado e meu desempenho caiu. Deu uns 15 kms de areia e o resto de asfalto e calçamento.

Cheguei em Porto Seguro e fui procurar um amigo que tem doishotéis lá, mas ele não estava na cidade e peguei uma pousada no centro da cidade, aonde vou ficar dois dias para dar um tempo para as pernas.

Dia #13: Porto Seguro (sem pedal hj)


Centro Histórico de Porto Seguro

Acordei e segui para conhecer a cidade, caminhando, e o que mais eu vi foram turistas da empresa de Turismo CVC. Acho que 90% deles são da CVC.

É um tipo de turismo bem fechado, eles tem uns pacotes prontos, te pegam no aeroporto, te colocam num ônibus, te levam pra fazer os passeios deles, depois te embalam e te despacham pra casa. Turismo fast food. É algo totalmente diferente do que busco, quando você dá muito espaço para o acaso e o improviso. De bike você realmente sente que está no lugar, pois vc pedalou até ali, passando e sentindo cada grão de areia ou quilometro de asfalto que ficam para trás.


Cacau

Passei pelos pontos turísticos, cidade histórica, passarela do álcool, praias e aproveitei umas explicações das guias da cvc e fui almoçar e descansar. De tarde saí para conhecer um pouco mais a cidade, comi um acarajé e aproveitei para curtir a noite de Sábado da cidade.


Final de tarde


Dia #14: Porto Seguro (10 kms)

Porto Seguro através do espelho

Pedalei até a praia e passei o dia todo lagarteando lá, tava precisando disso.

Vi umas coisas que só exisitam nos meus pesadelos mais perturbadores, como aulas de Lambaeróbica na praia.

Sim, isso realmente existe

Amanhã pretendo ir até Belmonte, ou talvez Canavieiras, e sair da Costa Do Descobrimento e entrar na Costa do Cacau. Vamos ver o que a estrada nos reserva para a próxima semana.