segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Estrada Real - Caminho dos Diamantes (Diamantina / Ouro Preto)

Preparação - São Paulo / Diamantina (ônibus)

Diamantina


Cheguei no Terminal Rodoviário do Tietê para embarcar pela Empresa Gontijo até Diamantina. O ônibus partia às 8:50pm.
Levei plástico bolha para embrulhar a bike, mas não foi necessário. Apenas tive que pagar uma taxa de 24 reais, tirei a roda da frente e acomodei a bicicleta no bagageiro do ônibus.
O caminho foi tranquilo, no dia seguinte paramos em Curvelo-MG e troquei de ônibus, seguindo para Diamantina.
Chegando em Diamantina a chuva castigava a cidade. Fiquei num hotel na frente da Rodoviária, Hotel JK.


Chovia tanto que tive que ficar praticamente o dia todo no quarto do hotel. A chuva era o que mais me preocupava, pois sabia que era a estação das chuvas e iria pegar muita água no caminho.
Gostei muito da comida mineira, que lá não chamavam de comida mineira, apenas comida.

Dia #1-  Diamantina / Serro (66kms)

Foi o dia teste: de pernas, bike, chuva...
Saí às 8:30am do hotel, a chuva estava fraca mas a cidade de Diamantina tem ruas muito escorregadias e tive que pedalar devagar.
Logo cheguei no primeiro marco da Estrada Real (ER), eles iriam me acompanhar pelos próximos 1100kms.

Marco da ER

A chuva deu uma trégua e a paisagem era absurda, nada que eu já tivesse visto antes, umas montanhas contrastando com a estrada, nuvens e a vegetação. Fiquei feliz que a chuva deu essa pausa e consegui bater algumas fotos.




Depois de 2hs sem chuva, ela apareceu.. e apareceu mesmo. Chovia muito e coloquei a capa de chuva, a capa me protegia somente do frio da chuva, pois o esforço que os morros exigiam fazia com que eu ficasse encharcado de suor por baixo da capa.

Esperando a chuva acalmar


Os morros eram longos e constantes, tinha pouco percurso plano. Creio que acertei na escolha dos pneus (26 x 1.95 com cravos), pois derrapava pouco e conseguia uma boa tração nas longas subidas de cascalho solto.
Chegando em São Gonçalo do Rio das Pedras resolvi empurrar a bike numa subida. Pedalando tinha uma velocidade de 4 - 5km/h e empurrando dava 4km/h... neste primeiro dia foi a única vez que empurrei, mas lá pela metade da viagem quando eu via um morrinho mais íngreme já desencanava e descia da bike.

 São Gonçalo do Rio das Pedras

Em SGRP encontrei uma vendinha que comprei pregadores de roupa e comida. Usei os pregadores de roupa para fechar os pacotes de bolacha e a capa do alforge do guidão. Celular da Claro não pegava ali, neste dia só tive sinal em Serro.
Cheguei em Milho Verde depois de passar por mais algumas montanhas e apareceu o asfalto. Foi um alívio, pedalar naquele barro não era muito agradável... mas mal eu sabia o que me aguardava no dia seguinte..

Asfalto...
Subidas e chuva

Chegando em Serro vi que estava sem freios, a chuva tinha detonado com eles. Comprei os dois últimos pares de freios duma loja de bikes da cidade.
Meu celular tinha ido pro brejo com a quantidade de água que peguei. Tive que pegar um cel. emprestado com o povo da pousada (pousada do queijo) pra poder dar notícias pro povo.
No hotel iniciei um ritual que iria se repetir por quase todos os dias de viagem: lavar a bike, trocar as sapatas de freios e lavar a roupa cheia de barro. Perdia cerca de 1h todo o dia nessa...
Foi um dia bem difícil este, choveu muito, a estrada tinha muito barro, cascalho solto e os morros predominaram. Na real quase todos os dias foram assim durante o Caminho dos Diamantes... mas eu estava feliz e curtindo muito todo o percurso. A chuva que eu achava que seria um grande problema, acabou se tornando algo normal... que só atrapalhava mesmo na hora de bater fotos e chegar nos hotéis das cidades (por causa da lama no corpo e bike).

Dia #2 - Serro / Conceição do Mato Dentro (75kms)

Acordei e fui comprar um celular que tocasse mp3, já que o meu tinha ido pro brejo ontem. Peguei o mais barato, mas que parece ser resistente e tem a vida longa da bateria. O cel. só tinha utilidade pra tocar música, já que praticamente não tem sinal no caminho todo.
A estrada até a próxima cidade, Alvorada de Minas, é asfaltada. Parei em Alvorada pra tomar um café numa padoca e depois segui caminho...

Estrada para Alvorada de Minas


Barro, mas muito barro.. a estrada virou isso. E quase ninguém passando na estrada, só uns caminhões de mineradoras. Foi um dia difícil, diria o mais difícil da trip toda, porque a lama incomodava muito.

 Muita chuva até Conceição do Mato Dentro


Quando cheguei em Conceição do Mato Dentro as crianças na rua apontavam pra mim e diziam: "Nooossa!" Eu não tinha noção como estava, e parei num posto pra jogar uma água em cima de mim e da bike. O pessoal do posto me olhou assustado...

 Muita lama..

Achava que estava limpo,  e segui para uma loja de bikes pra comprar mais sapatas de freio. As pessoas continuavam olhando assustadas pra mim.
Tentei umas pousadas e hotéis, e todo mundo dizia que estava cheio, mas na verdade apenas não queriam abrigar alguém tão sujo.. Fiquei na pousada do Carioca, um figura muito gente fina.
Fiz o ritual de limpar as coisas, fui comer e ligar pro povo. Tava muito cansado e capotei.. Sai mais tarde pra bater uma foto duma igreja da cidade, mas começou uma chuva no meio do caminho.

 Igreja - Conceição do Mato Dentro

Dia #3 Conceição do Mato Dentro / Itambé do Mato Dentro (60kms)

Hoje foi o dia mais difícil de subidas... não parava nunca de subir. O trajeto era basicamente subir morros a 4km/h e descer a 40km/h.

O legal de hoje é que pela primeira vez não peguei chuva, o tempo abriu por bastante tempo. Acabei pegando uma chuvinha só quando cheguei em Itambé. Em conta disso levei bastante tempo pra completar o percurso.. porque parava direto para tirar fotos (na verdade eu parava para descansar dos morros, e aproveitava para bater fotos).

Saindo de Conceição do Mato Dentro

 Indo para Morro do Pilar

 Logo no início tinha uma subida gigante de asfalto, pra sair da cidade, depois entrei na estrada de terra e permaneceu assim até chegar em Itambé.
A corrente da bike partiu por causa da lama e estava com dificuldade de encaixar os pinos, porque a corrente acabou entortando. Esqueci em São Paulo os elos extras da corrente e acabei tendo que arrancar fora uns para poder arrumar e seguir o pedal.
Encontrei um fusca atolado na estrada, o motorista tinha achado que o buraco com água não era tão fundo...
Depois de muita subida cheguei em Morro do Pilar. Almocei num buffet livre.. meio caro pra região, mas era o que tinha. As pessoas me olhavam estranho lá.. não senti uma energia muito boa e piquei minha mula em sequência.

 Morro do Pilar

Passei por paisagens maravilhosas neste dia, valeu muito a pena. Fiquei meio abalado porque levei pouca água e não quis entrar nas fazendas pra pegar mais.. a preguiça acima da sede.
Um caminhão que passou a mil por mim acabou atolando depois, foi engraçado passar pelo povo sem conseguir sair do lugar.. esperando algum reboque.. e o ciclista lento.. ultrapassando e conseguindo chegar ao destino.

No meio do nada..

Subindo.. sempre


 A chuva, inevitável..

Em Itambé parei num posto de gasolina e lavei bem a bike, fiquei bem apessoado até.
Arrumei uma pousada, fiz o ritual de limpeza das coisas, comi e capotei até o dia seguinte.

Dia #4 Itambé do Mato Dentro - Barão de Cocais (82kms)

O café da manhã do hotel atrasou bastante, era para ser as 7:00, mas somente 8:00 foi servido.
No mesa do café conheci uns caminhoneiros, que estavam presos na cidade, já que as estradas estavam muito ruins para sair dali. Isso já me dava uma ideia de como seria o dia..
Tive outro problema: o hotel não aceitava cartão e não tinha Banco do Brasil na cidade, nem caixas 24hs. E eu achava que o Banco do Brasil brotava em qualquer lugar... mas a Estrada Real não é qualquer lugar. Tive que ir até uma farmácia pegar grana, e deixar uma taxa de 10% para o farmacêutico..
Estava me sentido roubado e atrasado quando saí de Itambé do Mato Dentro, rumo a Ipoema.
A saída da cidade foi um dos trechos mais difíceis da viagem..a lama tomou conta de tudo. Tinha que ficar descendo direto pra empurrar a bike, porque atolava. Neste momento bateu a primeira e única vontade de abandonar a trip.. não estava nem conseguindo pedalar, só empurrar a bike.

Tentando sair de Itambé do Mato Dentro



Vacas...
 
Pouco tempo depois a estrada melhorou um pouco. Vindo no sentido contrário encontrei um figura de moto, bem assustado, perguntando como estava a estrada que eu tinha passado. Creio que foi o único veículo que encontrei até a vilinha de Senhora do Carmo. Depois teve mais subidas, mas sem tanto barro.

Igreja nova na ER
 
Em Ipoema fui comer na Rodoviária e conheci o Alex. Ele disse que todo mundo que chega ali, chega pensando em desistir, pois este é um dos trajetos mais difíceis da ER.
Depois é asfalto até Bom Jesus do Amparo. Começou a chover muito quando saí da cidade e fui com chuva nas costas até Barão de Cocais.
Barão de Cocais é uma cidade que abriga muitos mineradores. Vários hoteis da cidade são exclusivos para mineradores. E a cidade parece girar toda em torno das empresas mineradoras. E nenhum orelhão funcionava.
Fiquei num hotel legal, Caraça, e fui repetir o ritual de limpeza das coisas e bike.
Foi um dia bem cansativo, mas deu pra completar o caminho.

Dia #5 Barão de Cocais - Mariana (115kms)
O dia de hoje foi ferro. Tudo ok até até Santa Barbara, estradinha de terra sem muitas subidas nem muita chuva. Bati fotos e achava que tinha a vida inteira pela frente. Chegando na cidade comi mais um café da manhã.

Indo para Santa Bárbara

E o barro sempre presente..

Santa Bárbara

Depois meu percurso no GPS estava com problemas e não consegui visualizá-lo. Fui seguindo as placas da Estrada Real e fui parar num asfalto... tudo muito bom para ser verdade.. quando fui ver, estava indo para Caraça.. e não Catas Altas. Creio que Perdi uns 20kms nessa brincadeira... Pelo menos a paisagem era legal.


 Indo para Carraça

Voltei e fui até Catas Altas... Tava pensando em ficar por lá. A cidade fica no pé da Serra do Caraça, é muito bonito o contraste da montanha, as nuvens e a cidade. Mas resolvi esticar o pedal até Mariana, porque começou a chover muito.


 Catas Altas

Segui pelo asfalto, que não tem acostamento. Tem que ficar ligeiro, pois passam muitos caminhões. O trajeto foi basicamente uma longa subida. Chegando perto da  mineradora Vale o trânsito de caminhões e ônibus se intensifica muito.. é realmente necessário muita atenção. Era praticamente só o que transitava ali. Fiquei com uma sensação bem ruim, aquelas pessoas pareciam gado dentro daqueles onibus... ai comecei a pirar que o metro e os ônibus de São Paulo são a mesma coisa.
O legal foi que indo por ali consegui ver o "estrago" absurdo que essas mineradoras fazem no mundo.. é impressionante ver aquela area de perder a vista toda deserta e sem vida.
Depois de muito subir, cheguei em Mariana e fiquei num hotel bacana bem no centrinho. Lavei a bike, troquei freios... repeti o ritual de sempre.

Igreja em Mariana
 Duas Igrejas..
E mais uma..

A noite a chuva deu uma trégua e consegui sair para bater umas fotos da cidade. Curti ficar ali, era um dos poucos lugares que ainda lembrava de Minas, de uma viagem que fiz com meus pais na década de 80.

Dia #6 Mariana - Ouro Preto (11kms)

Acordei cedo e fui bater umas fotos e visitar umas igrejas na cidade. Conheci um povo legal, inclusive um pessoal dum conservatório musical.

Igreja (interior)

 Ruas de Mariana, no fundo mais uma Igreja

 Saindo de Mariana

O caminho para Ouro Preto é uma subida. Nada muito cansativo, mas como eu estava pedalando bastante nos últimos dias.. fui bem devagar, tava precisando dar um tempo pras pernas.
Fiquei num hostel - O Sorriso do Lagarto-, e sai para conhecer a cidade e bater fotos.
Ainda não sei se vou pedalar amanhã, preciso dar um descanso para as pernas e mãos... provavelemnte vou ficar em Ouro Preto. É interessante, pois estou sentindo as mãos de tanto utilizar o freio..e ontem as sapatas de freio estavam totalmente gastas, precisei fazer muito esforço com as mãos.
De qualquer forma hoje completei o Caminho dos Diamantes.. agora sigo pelo Caminho Velho, até Paraty.

Ouro Preto
Para quem quiser ver mais fotos, é só dar uma passada no meu Flickr, que tem um álbum da Estrada Real. http://www.flickr.com/photos/victorguidini