quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cicloviagem Islândia - últimos dias


Dia #40 Hvovolur – Selfoss (53kms)
A filha do dono do camping é uma menina com umas características físicas bem fortes, bonita mas bem rústica. Na casa deles, que fica do lado do camping, tem uns 10 cachorros, todos andando livres e soltos pelos corredores. Fiquei curioso de saber como devia ser a vida por ali...
Saí sem pressa do camping, sentido Selfoss. O caminho não teve grandes novidades, parei em Helar para tomar um café. Outro ponto interessante que passei foi pelo vulcão Hekla e bati uma foto.

Bike e Hekla (o portão do inferno)


Próximo de Selfoss
 
O vento começou a ficar bem forte conforme o tempo foi passando, mas cheguei tranquilo em Selfoss. No albergue havia mais uma excursão dos EUA, jovens fazendo algum tipo de turismo educacional. Gostei do albergue e ficarei por aqui mais 3 noites, to precisando recompor as pernas, que estão sem o devido descanso faz tempo..
Saí para comprar os raios para a bike, porém ainda não troquei.. a preguiça é absurda. A cidade é bem grandinha, creio que deve ser a terceira ou quarta maior cidade do país (população de 6 mil pessoas). Tem até um cinema, que parece estar passando o novo filme do Batman.
A noite andei pelas ruas da cidade, bateu um sentimento bucólico... uma saudades de Londres(!), do momento que cheguei lá e fui pedalando por aquelas ruas de mão invertida.. tudo plano. Selfoss, de alguma forma, fez reverberar Londres.. talvez por causa das cores do céu, uma coisa meio nublada, com o ínicio da noite.. tons de azul e cinza e uma temperatura agradável..  14 graus.
Neste passeio noturno fiquei sabendo sobre o rio da cidade, que já teve algumas enchentes e umas destruições de pontes. Fiquei “viajando” nas fotografias...  elas pareciam ser tão atuais (a maioria era da década de 50), todas aquelas pessoas ali provavelmente já estão mortas.. mas de alguma forma a fotografia dava vida aquelas pessoas.

Dia #41 Selfoss – cratera Kerið – Selfoss (32kms)
De manhã fiquei trocando uma ideia com um “Iron Man” que estava no dormitório. Iron man é uma modalidade de triathlon que leva o cara ao extremo.. nada uns 5kms, corre a maratona e pedala uns 180kms (algo assim). O figura era um americano, da Flórida, que estava 5 semanas de carro aqui na Islândia. Uma sensação que nós dois compartilhamos era que já vimos tudo por aqui.. ilusão nossa, mas é uma sensação.
Acordei super cedo, 6am, queria ficar parado, descansando.. mas não rolou.. peguei a bike e fui até a cratera Kerið, que fica uns 15kms daqui. Valeu a pena.. o vento estava forte, mas a bike estava sem peso nenhum.. o que facilitou muito o pedal.

 Kerið

Kerið #2

Victor e a cratera

Chegando lá fiquei horas admirando e fotografando. Neste momento aconteceu mais um problema técnico: a câmera fotográfica deu problemas e agora o autofocus não está mais funcionando.. não é o maior problema do mundo, mas agora tenho que fazer tudo na mão mesmo, creio que vou me tornar até um fotógrafo melhor depois dessa -tentando ver o lado positivo das coisas :(
Na volta encontrei um ciclista Inglês, que estava fugindo do caos Londrino (devido às Olimpíadas). Ele estava bem assustado, iria ficar por aqui por duas semanas, e perguntou se eu não tinha enlouquecido.. porque ele estava surtando. Conversamos um pouco e ele era muito gente boa, mas estava sofrendo demais com as condições climáticas do país.
O resto do dia fiquei de boa no hotel, editando umas fotos e matando tempo na internet . Comprei duas cervejas e um Doritos gigante. As cervejas daqui são muito fracas, 2,5% de álcool..  não rola ficar bêbado, seria necessário tomar litros e mais litros.
Minhas pernas estão muito cansadas, um cansaço acumulado.. nunca tive isso antes. Amanhã queria ir até uma caverna mas vou ficar de boa (pelo menos tentar), chega uma hora que o corpo pede arrego.
De noite saí para caminhar pelas ruas e comer um iogurte. Bateu de novo a sensaçao bucólica e a saudades de Londres. Sei lá, minha chegada e estadia na cidade foi muito boa e só tenho sensações ótimas de recordação. Creio que a luz noturna também é algo que me agrada muito.. não é completamente noite, é como um anoitecer, só que sem os raios laranjas do sol. Uma coisa que já percebi é que boa parte das minhas melhores lembranças na minha infância tem esta mesma luz. Seria como um dia nublado no final de tarde, sem as nuvens.. algo assim.


Dia #43 Selfoss – Hveragerdi (18kms)
Pedalei pouco hoje, o vento estava muito forte, e contra o tempo todo. Resolvi ficar em Hveragerdi e fazer o resto do caminho amanhã. Hveragerdi é uma cidade que tem uma atividade geológica muito forte. Em 2008 teve um terremoto na cidade e apareceu novos geisers.

Lama fervendo no chão


Comi algo e fui no parque central da cidade, onde tem uns geisers pequenos e umas lagoas. Tem bastante informações ali, inclusive de uma bactéria que vive numa das poças que é um dos organismos mais antigos da terra. Outra coisa interessante são os ovos que o pessoal vende para cozinhar ali, no rio.

Cozinhando ovos


Fiquei cansado vendo tudo aquilo e fui para a barraca. Ai apareceu a tormenta do dia: Daaaaadddyyyyy!!..  Tinha um trailer com uma criança birrenta do lado da barraca. Tentei dar uma dormida, mas não rolou, nem com os protetores de ouvido.. a criança ultrapassava a barreira do som. O calor dentro da barraca aumentou, estava suando muito.. e resolvi sair.. então um vento muito gelado apareceu. Isso é algo para levar em consideração na Islândia, é dificil ter um tempo “bom”, geralmente ou é frio demais ou quando você tenta se proteger do frio fica quente demais.. é um problema que quase não existe no Brasil. E isso é ruim também para ver as atrações e paisagens.. é difícil ficar ali, no vento, no frio, parado.. você acaba não aproveitando tanto o quanto deveria... mas isso também faz parte da coisa toda.
Final da tarde fui para uma caminhada pela montanha. O vento estava muito forte, mas valeu a pena.. deu para ver coisas impressionantes..  parecia a Lua, ou algo assim.
No final da trilha, de uns 4 kms, tinha um rio, com água muito quente.. mas muito quente. Aproveitei e entrei na água, deu pra dar uma relaxada.. mas ao mesmo tempo bateu uma canseira absurda, fiquei muito cansado.. creio que deve ser um bom lugar para acampar, ali do lado do rio quente.. acorda, toma um banho, come algo, dorme.. vidinha mais ou menos.

Trilha pela montanha e os geisers a mil..


Na volta fiz uma bela janta (pesto de novo) e fui num café usar a internet.. tava tão cansado que foi difícil conversar com o pessoal..
Não tive muita opção a não ser ir dormir.. acordei algumas vezes com a criança fazendo birra, mas é a vida..

 
Dia #43 (04/08/12) – Hvaverdi – Reykjavik (55kms)
Acordei bem, deu pra dormir legal e fui tomar um café da manhã.
Conversando com o dono do camping, fiquei sabendo que passei na península que tem o vulcão do Viagem ao Centro da Terra, do Julio Verne. Legal saber que dormi nos pés do vulcão que inspirou o escritor Francês.
Comi bastante, mais do que deveria, e segui viagem. O caminho foi marcado por uma subida de 10 kms, foi aos poucos, mas foi. Lá em cima encontrei a estação de aquecimento de água. É nesta estação que toda a água quente da capital Reykjavik é aquecida. O solo é muito quente por ali, o suficiente para aquecer a água e mandá-la 50 kms dalí.. tudo isso apenas com a energia natural da terra.


Eu e os vulcões


Estação de aquecimento de água


O resto do caminho foi tranquilo, ia parando, olhando tudo.. e o final do trajeto ia chegando. Foi uma emoção quando cheguei na capital e completei a volta a Islândia. Mas achava que iria me emocionar mais.. na verdade ainda tenho cerca de uns 100 kms até o Aeroporto, então apenas técnicamente a volta terminou.
 Chegando no início

Parei para comer um pão com manteiga de amendoim e segui para o camping. Após arrumar a barraca fui para a praia e fiquei umas duas horas ali, sentando e revendo os lugares e experiências que lembrava.. foi um momento interessante.
Fui procurar uma internet, conversei com o povo, postei fotos no facebook e depois voltei pro camping. Mais um dia de pesto. Conversei com um alemão durante a janta, é interessante estas pequenas conversas, pois não são tão fúteis.. parece que o povo que está ali realmente é interessante e tem algo para dizer.

Dia #44 (05/08/12) Reykjavik
Hoje foi o dia dos museus. Queria entender melhor por onde passei..
O primeiro foi o national gallery, achei fraquinho.. bem fraquinho... o que valeu a pena foi um filme de 1h que assisti sobre as “vacas marinhas”.
Esses bichos são uns mamíferos gigantes que ninguém nunca tinha registrado antes, somente no século XIX. Depois sumiram... então dois cientistas daqui foram procurar os bichos. Pra encurtar a história, descobriram que os bichos são sensíveis às ondas eletromagnéticas, tipo rádio, satélite, tv...  então eles se escondem nas profundezas, pois é como uma tortura ficar próximo da superfície – onde os raios são mais fortes. Mas a cada 2hs eles tem que voltar para a superfície para pegar mais oxigênio.. então ficam muito rápido na superfície, respiram, sofrem e voltam pras profundezas.
Depois fui para o maior museu (National Museum), onde conta toda a história da Islândia. Aprendi muito ali, fiquei  a tarde toda.  Foi uma carga grande, fiquei impressionado, como um país tão pequeno, tem tanta informação assim.. E foi batendo um sentimento bucólico de novo, vontade de continuar viajando, uma melancolia.. com o final que está chegando.

Reykjavík - Lago Tjörnin

Hallgrímskirkja

Pensei sobre o que foi esta viagem, no início a bike, o percurso era o mais importante, mas depois a fotografia foi tomando espaço.. e virou a grande motivação da viagem. Claro que gosto de pedalar e com certeza muitas fotos que tirei só são possíveis porque estou de bicicleta. Mas a fotografia ficou muito grande para mim, na real já era, mas foi ficando maior...
Também penso sobre o que será meu futuro. Estou sem emprego fixo e fico imaginando as possibilidades.
Bem, depois de visitar o National Museum fui comer. Como está com saudades de Londres resolvi comer fish and chips, que é oque o povo mais come por lá. Em sequencia fui para mais um museu.. o Reykjavik 871 +-2.
Este museu é bem interessante. É um sitio arqueológico no meio da cidade, lá tem os primeiros registros de civilização encontrados no país.. eles não tem certeza da data, por isso tem o +-2 no nome do museu.
Agora estou escrevendo no camping, com mais umas 20 pessoas aglomeradas no chão, lutando por uma tomada e um sinal de wi-fi.


Dia #45 (05/08/12) Reykjavik – Grindavik (65kms)
O dia começou com um tempo nublado e uma leve garoa. Tomei um café da manhã legal, arrumei as coisas e parti rumo a península sul do país.
Hoje é feriado nacional, quase nada estava aberto e precisava comprar fita adesiva para empacotar a bike para o avião, assim como comprar alguma comida para o caminho. Encontrei um posto de gasolina aberto e os problemas foram resolvidos.
Decidi ir pela costa, pelos bairros e cidades satélites de Reykjavik.. evitando assim a rodovia principal. O caminho foi muito legal, uma ciclovia por quase 20 kms, beirando a paisagem bucólica e cinza da capital.  Essa é uma das facilidades de ter um GPS. Um dado curioso foi que não encontrei nenhum ciclista usando gps, mas quase todos com o mesmo mapa da Islândia, no alforge do guidão.
O pedal estava muito bom, com algum vento contra, mas eu sabia que já chegaria no final de toda a viagem e consegui curtir o vento contra meu rosto.. isso é a Islândia e provavelmente seria uma das últimas vezes que estava sentindo algo assim... em breve esta sensação viraria apenas uma lembrança...
Quando peguei a rodovia, que já havia percorrido antes (porém no outro lado da pista), percebi várias coisas que passaram invisíveis na primeira vez.. a primeira foi que aquele lugar era um campo gigante de lava sedimentada a outra foi a desolação total.. somente pedras, o oceano e o barulho do vento.. interrompido pelo barulho dos carros.
Chegando perto de Vogar resolvi visitar o Gumi, que me hospedou em sua casa nos primeiros dias da viagem. A reação dele foi ótima, surpreso, porém feliz em me ver. Não sabia como os Islandêses reagem a essas visitas inesperadas, mas foi legal.
Tomamos um café e conversamos por algumas horas, ele estava com uma amiga de Amsterdam, que toca trompete.. com certeza foi uma ótima ideia ter passado lá e ter visto o amigo, sabe-se lá se um dia irei encontrá-lo de novo...
Na saída de Vogar bateu uma sensação muito boa, estava partindo mais uma vez da cidade, mas agora as coisas eram diferentes.. antes estava cheio de expectativas, de medos, anseios e incertezas.. agora tudo aquilo era passado, já vivido, um novo mundo e uma nova visão sobre um mesmo lugar.
Creio que a única coisa ruim que posso dizer sobre as estradas da Islândia é que no acostamento as vezes existe uma marca de pneu 4x4, algo assim, tipo quando um trator passa em cima de cimento... e isso é bem ruim para quem pedala, pois é impossível seguir por alí e temos que ir para a pista. Creio que isso existe para dar um aviso aos motoristas que eles estão saindo fora da pista.
Quando avistei a Lagoa Azul, que é uma das novas maravilhas do mundo, fiquei impressionado. É um grande lago no meio daquele deserto.. e com uma cor muito diferente. A composição da água é de muitos minerais diferentes, com predominância de silíca e enxofre, e a temperatura é em torno de 40 graus, com alguns pontos mais quentes e outros mais frios.

Lagoa Azul #1

Lagoa Azul #2



Deixei a bike no estacionamento e segui para o SPA. Sim, a lagoa agora é um SPA, e super caro para entrar.. cerca de uns 50 dolares. Creio que a Lagoa e a escalada no gelo foram os dois únicos passeios que paguei aqui, e foram bem aproveitados. Fiquei cerca de 3hs naquelas águas quentes e relaxantes. Na saída tentei bater uma foto igual a do Flickr (uma das telas de abertura do site Flickr é a Lagoa), mas iria demorar demais pras pessoas ficarem naquela configuração da foto ...
Para Grindavik faltavam apenas 6 kms, que fiz sorrindo, com uma sensação ótima.. e ouvindo uma música do Lenine que acho muito legal, e significa muita coisa, mas aquela hora a frase que estava pegando era: Este lugar é uma maravilha, mas como é que a gente faz pra sair da Ilha??
Em Grindavik encontrei fácil o camping, bati umas fotos, comi e fui tomar um café num lugar que o Gummi tinha recomendado, do lado do porto. O dono era muito gente boa e ficamos trocando uma ideia até tarde, quando fui pra barraca dormir.

Dia #46 (07/08/12) Grindavik – Keflavik (50 kms)
O último dia de pedal.
Saí sentido oeste, para um caminho mais deserto até Keflavik. Todo asfaltado e quase sem ninguém ali, pois leva o dobro da distância.
Valeu muito a pena, um cenário de filme, desertos, geisers, fumaça...
A primeira parada foi no maior “lago de lama” com atividade geológica da Islândia, o Gunnuhver. Lembrava Geysir, Hveragerdi.. porém maior e sem tanta gente. A sensação de caminhar naquele lugar quente e esfumaçado é única.. caminhando nos vulcões. O nome do lugar, Gunnuhver vem da lenda de uma bruxa que morava na região. Um advogado (ou um juiz, não lembro direito) comprou as terras locais, ela se recusou a pagar o aluguel e acabaram pegando uma panela/caldeirão em troca do aluguel.. e ela ficou muito enfurecida. Algum tempo depois ela acabou morrendo. Enquanto ela estava no caixão ela disse: não me enterrem muito fundo, pois não pretendo ficar muito tempo por aqui. E no dia seguinte o advogado foi encontrado morto.  Antigamente havia um geiser gigante naquelas águas, mas desapareceu. Essas coisas são bem constantes por aqui, as vezes aparece um lugar com atividade geológica nova e outros desaparecem.
O próximo ponto de parada foi a ponte que separada a Europa da América. Ali é junção das placas tectônicas dos dois continentes, que se afastam 2 cms a cada ano. Legal passar com a bike ali, um figura até brincou comigo.. você ta pedalando da Europa até a América.

Ponte entre América e Europa

 Próximo do Aeroporto tem uma antiga base militar dos EUA, que agora é uma universidade. Boa parte da herança cultural contemporânea da Islândia se deve aquela base. Os EUA investiram muita grana no país durante o período da guerra fria e creio que os costumes do país mnudaram muito, pois quando você vê uma revista, um anûncio de jornal da época é igual ao dos EUA.. aquela coisa American Way Of Life.

 Antiga base militar dos EUA, atualmente uma universidade

Um pouco antes de chegar no camping parei no mercado e comprei um pouco de comida e tomei uma cerveja enquanto esperava a chuva passar. Depois de uns trinta minutos segui viagem.
Em Keflavik não estava acreditando no que eu tinha passado e vivido. Tinha retornado ao mesmo ponto que comecei a viagem, porém a história era outra.. o que antes eram expectativas agora era uma bagagem de vida.
No camping haviam muitos ciclistas, todos deixam suas caixas de bicicleta ali. A minha estava inteira, porém um pouco molhada. Foi legal trocar ideias com todos, o que cada um passou e viveu naquela ilha.. cada um com uma historia totalmente diferente.
Saí para conhecer a cidade, tomar um café e usar a internet. Foi legal falar (virtualmente) com todos no Brasil e provavelmente será a última vez antes de chegar no Brasil.
Antes de ir pro camping passei num restaurante de fast food e fiz minha única “refeição” deste tipo no país.. hamburguer, refrigerante e batata frita... precisava experimentar.. tem gosto de macdonalds, mas não era um macdonalds.. mas uma influência da herança norte americana.
A noite fiquei arrumando tudo, desmontando a bike. A parte que gostei foi de jogar a roda fora. Sentia uma carga ruim nela, sei lá, paranóias das nossas cabeças. Os raios já estavam quebrando e com certeza foi a melhor opção, assim iria aliviar o peso pra carregá-la também.  Aproveitei e joguei a corrente, os pedais e o cassete fora também.. já estavam todos muito detonados e na hora de uma troca.
A arrumação toda levou cerca de 3 horas, mas parece que ficou muito mais fácil carregar do que antes.. não sei o que acontece, mas tudo ta mais leve.  Para arrumar foi bem menos estressante do que da primeira vez.. sabia exatamente onde iria cada coisa. Algumas pessoas me perguntaram como faço com as coisas no avião. É uma dúvida bem comum que, inclusive, eu também tenho. Mas dividi tudo em 4 compartimentos:
        Caixa da bike (bike, barraca, saco e colchão de dormir, 2 tripés, capacete, pneu kevlar)
        Alforge 1 (roupa e coisas que consigo levar como bagagem de mão no avião, notebook)
        Alforge 2 (eletrônicos, ferramentas e coisas que não consigo levar como bagagem de mão)
        Alforge de guidão (cameras, lentes, gps, gravador de som)
Então assim fica fácil.. despacho a caixa da bike e o alforge com as ferramentas. Levo na mão o alforge de guidão (que passa como bolsa de câmera fotográfica para o aeroporto) e o alforge com as roupas.
Não consegui dormir legal nesta noite. Muita expectativa e ansiedade em relação ao dia de amanhã. Irei para Londres em Gatwick, depois pegarei um ônibus para Heathrow e seguirei viagem ao Brasil. As preocupações são sempre em relação a bike, se os caras vão encanar com algo, destruí-la, extraviar, como fazer para transportar todo aquele monte de coisa sozinho.. muitas coisas.. (mas que no final sempre dão certo). A noite foi muito, mas muito frio também... tentei me agasalhar mas ai comecei a suar e o suor gelado virou um problema, precisei abrir as malas pra pegar algo pra me secar, caso contrário iria ficar doente. Durante a noite choveu bastante, assim como tivemos  cerca de umas 4 horas de noite.. e pelo menos umas 2hs bem escuras, com direito a ligar luz de poste e tudo.

Dia #47 (08/08/12) Keflavik – Londres – indo para SP
Acordei 4:30 da manhã. O dono do camping tem um serviço de transfer até o aeroporto e tinha uma van saindo 6:30. Custa cerca de 17 reais  para quem leva a bike, de taxi custaria algo em torno de 20.
Tomei banho, fiz a barba, cortei as unhas e coloquei minhas roupas de civil.. calça jeans e camisa e blusa.. voltava a ser uma pessoa quase normal...
Uma chuva atrapalhou todo o processo, tudo estava meio úmido, inclusive a caixa de papelão da bike. Passei fita crepe por toda a caixa, fazendo uma caixa dentro da caixa. Creio que agora a bike estava pronta para enfrentar 2 voos.
No aeroporto, em Keflavik, tudo ocorreu bem. Check in e depois despachar a bike no setor de "bagagens  incomuns". Depois de resolver o despacho da bike, fui lá para fora.
Estava bem frio, com chuva e vento. As pessoas estavam chegando na Islândia, todos comentavam do frio e andavam correndo, com aquelas caras de "maravilhados". Fiquei lá parado, sentindo o frio por um tempo, sentindo pela última vez aquela sensação me envolvendo.. como se a ilha estivesse me abraçando numa despedida entre dois amigos.
Quando fui passar pelo serviço de imigração da Islândia rolou um problema. Eles não haviam carimbado meu passaporte na entrada do país. Creio que não carimbam de ninguém da união européia, e como só tinha gente de lá na fila quando entrei no país, acabei passando despercebido. O pessoal me chamou pruma salinha, tipo de tortura, e fiquei aguardando. O policial levou meu passaporte e depois de uns 15 minutos voltou pedindo desculpas, pois não foi culpa minha e sim do serviço de imigração... e como recompensa pelo inconveniente iriam me dar terras no país.
O voo foi tranquilo, deu para dormir um pouco até. A Iceland Express não tem serviço de bordo gratuíto, tem que pagar por tudo.. preços nas alturas. O tempo estva bem nublado e não deu para ver muita coisa além das nuvens. Quando era 1:00 pm chegamos em Gatwick, em Londres.
Passei pelo serviço de imigração tranquilamente e fiquei com um visto de "em trânsito". O trajeto até Heathrow, o aeroporto que sai meu voo para o Brasil, foi tranquilo num ônibus da National Express e custou cerca de 25 libras.
Em Heathrow cheguei às 15hs e fiquei esperando os guichês da TAM abrirem às 17hs, pra despachar a bike e fazer uma breve visita a cidade. O metrô estava bem cheio, horário de pico, mas nem se compara (nem de longe) com um metrô cheio em São Paulo. Fui até o Hyde Park, caminhei um pouco por ali, e segui até o Royal Albert Hall, que é uma casa de espetáculos. E pra mim tem uma importância especial por causa de um show do Led Zeppelin.

 Royal Albert Hall

 Albert Memorial
Perto do metrô parei num pub e tomei minha última breja londrina.. London Pride, bons momentos. Fiquei com mais saudades de Londres do que da Islândia, espero voltar em breve para lá.
O voo para o Brasil foi aquela coisa, criança chorando, assento do lado do banheiro - e entre a janela e o corredor - e um figura que estava tendo um ataque de pânico ao lado. No final das contas, 12 horas depois, tudo isso chegou ao fim.

Dia #48 (09/08/12) Guarulhos - São Paulo
Tava apreensivo em relação a bike, que não aparecia na esteira de bagagens.. creio que foi a última coisa a aparecer, mas veio. Agora só faltava passar pela receita federal, como não tinha comprado nada lá fora, e sim trazido do Brasil, não precisei declarar nada.. mas nunca se sabe se os caras vão encanar. E não encanaram, na verdade estavam todos querendo tirar fotos com um medalhista olímpico que estava desembarcando.
Escolhi ir até Congonhas pelo serviço de ônibus especial. Daria pra ter ido mais perto de casa, porém os carrinhos para transporte de bagagens dos aeroportos eram essênciais para o transporte da bike: a caixa estava muito pesada e desmanchando.. e com mais 3 malas pra carregar.
A primeira coisa que me chamou atenção em São Paulo foi o trânsito, tinha esquecido de como é caótico.. e outra foi a sujeira e o descaso com as coisas. Bem clichê essa constatação, mas foi o que pegou. Triste isso, não precisa ser asséptico, mas o descaso com a cidade é absurdo. Uma cidade para carros e não para pessoas.
Em casa foi muito bom rever os amigos e minha cama, na qual dormi por cerca de 12hs seguidas.. 
Agora nos próximos dias pretendo descansar um pouco, rever minha vida e fazer um novo post pra finalizar o relatório desta ciclo-viagem.